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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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8 de setembro de 2013

Sabedoria da renúncia

 
A Liturgia da Palavra neste 23° Domingo do tempo comum traz a mensagem sobre a sabedoria da renúncia. É preciso saber renunciar e ao que renunciar. É preciso renunciar para alcançar a sabedoria. O texto principal, como sempre, é o Evangelho (Lc 14,25-33) e nele destaca-se a frase de Jesus: "Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo." (v. 27) e outra: "(...) qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!" (v. 33).
 
A mais frequente interpretação aponta aqui a renúncia aos bens materiais. Quase sempre, fala-se, também, de renúncia ao pecado. Não tem nada de errado neste ponto de vista, desde que a própria interpretação não se limite apenas nele. Temos, pois, muito mais coisas para renunciar, o que nos sugere o próprio conjunto de textos deste dia. A primeira leitura (Sb 9,13-18) e o Salmo responsorial (Sl 89) falam de sabedoria e da pequenez do homem diante dela. Indiretamente, portanto, apontam a necessidade de renúncia da própria "sabedoria" (ou inteligência) humana e à exagerada confiança depositada nela: "Mal podemos conhecer o que há na terra, e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas mãos; quem, portanto, investigará o que há nos céus?" (Sb 9, 16). Admitir não ser o "dono da verdade" requer a humildade, a mesma que Sócrates expressou dizendo: "Só sei que nada sei".
 
Na segunda leitura, o Apóstolo Paulo, recorre, exatamente, a este argumento, ao solicitar ao seu amigo e irmão na fé, a renúncia aos critérios de costumes da época, além de todos os argumentos emocionais, intelectuais e legais (Fm 9b-10.12-17). Renunciar a si mesmo e a tudo que se possui, neste contexto, significa abrir mão de seu próprio ponto de vista, por mais que ele tenha sido apoiado pelos costumes e leis em vigência. Olhar a Onésimo não mais como a um escravo culpado, mas sim, como a um irmão em Cristo e um irmão querido, é a verdadeira revolução.
 
Para nós, o "povo GLBTTS", é uma mensagem de esperança, desde que alguém queira seguir esta orientação da Palavra de Deus. Por que enxergar em cada um de nós apenas esta ou aquela orientação sexual? Inclusive, o próprio termo, leva à associação direta ao ato sexual, embora a palavra "sexo" não se limite apenas a isso. Se eu disser que a criança que nasceu é de sexo masculino, isso não vai significar que um bebê esteja realizando um ato sexual. Todos os "donos da verdade" que abominam até a própria existência das pessoas diferentes em relação ao "padrão" heterossexual, esquecem da verdade revelada por Deus: "Mal podemos conhecer o que há na terra, e com muito custo compreendemos o que está ao alcance de nossas mãos; quem, portanto, investigará o que há nos céus?" 
 
Um pouco mais humildade encontramos na afirmação da Igreja que diz: "A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atração sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar" (CIC 2357). Em outro "texto fundamental", a Igreja diz: "A Igreja, guardiã do depósito da palavra de Deus do qual tira os princípios para a ordem religiosa e moral, ainda que não tenha sempre resposta imediata para todos os problemas, deseja unir a luz da revelação com a perícia de todos, para que se ilumine o caminho no qual a humanidade entrou recentemente." (Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral "Gaudium et Spes", n. 33) O mesmo documento, um pouco antes, afirma também: "Dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos os homens têm a mesma natureza e mesma origem; redimidos por Cristo, todos gozam da mesma vocação e destinação divina; deve-se portanto reconhecer cada vez mais a igualdade fundamental entre todos. Na verdade nem todos os homens não se equiparam na capacidade física, que é variada, e nas forças intelectuais e morais, que são diversas. Contudo qualquer forma de discriminação nos direitos fundamentais da pessoa, seja ela social ou cultural, ou funde-se no  sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião deve ser superada e eliminada,  porque contrária ao plano de Deus. É de lamentar realmente que  aqueles direitos fundamentais da pessoa não sejam ainda garantidos por toda a parte. É o caso quando se nega à mulher a faculdade de escolher livremente o seu esposo, de abraçar seu estado de vida ou o acesso à mesma cultura e educação que se admitem para o homem. Além disso, ainda que haja entre os homens justas diferenças, a igual dignidade das pessoas postula que se chegue a uma condição de vida mais humana e mais equitativa. Pois as excessivas desigualdades econômicas e sociais entre os membros e povos da única família humana, provocam escândalo e são  contrárias à justiça social, à equidade, à dignidade da pessoa humana e à paz social e internacional. As instituições humanas, particulares ou públicas, se esforcem por servir à dignidade e ao  fim do homem. Ao mesmo tempo lutem denodamente contra qualquer espécie  de servidão tanto social quanto política e respeitem os direitos fundamentais do homem sob qualquer regime político. Além disso, é necessário que estas instituições pouco a pouco se adaptem às exigências espirituais, superiores a tudo, ainda que às vezes seja necessário um tempo bastante longo para chegarem ao fim desejado" (n. 29).

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