ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



_____________________________________________________________________________



13 de setembro de 2013

Mês da Bíblia (5) - 2° encontro

Foto: meh sea by ~oasis1

Sigo a proposta da CNBB de reflexão bíblica, baseada no texto do Evangelho de Lucas, de acordo com alguns temas principais. A minha leitura tem como o pano de fundo a identidade homossexual e católica, ambas em busca de conhecimento mútuo, através de um diálogo sereno e objetivo.
 
O segundo encontro aborda temas da vocação, missão e as exigências do discipulado. Este tema está em ressonância com a perspectiva do tema deste ano, que é o discipulado-missionário em Lucas e objetiva mostrar a radicalidade, na resposta dos chamados ao discipulado (Lc 5,11) e acentua o desprendimento que é uma atitude própria de todo discípulo, no seguimento de Jesus e, sobretudo no Evangelho Segundo Lucas.
 
O texto indicado é: "Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo, e seguiram a Jesus." (Lc 5, 11) Talvez seja interessante olhar o contexto mais amplo, principalmente os acontecimentos anteriores. É a passagem que contém o convite de um pregador (então pouco conhecido) aos pescadores: "Avance para águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca." (Lc 5, 4) e a pesca milagrosa, acompanhada pelo espanto de Simão e de seus companheiros (cf. Lc 5, 6-9). Chama atenção, também, a prontidão de Simão em contrariar a própria lógica e experiência, para obedecer a estranha ordem do homem estranho... O "avançar às águas mais profundas" aconteceu tanto no sentido literal, quanto em forma de uma "viagem interior". Uma viagem na contramão, diga-se de passagem. É muito importante notar isso: Jesus mostra os novos horizontes e as realidades desconhecidas. Depois, convida a explorá-los. Não posso deixar de lembrar aqui de algumas afirmações do Pe. Frederico Lombardi, o porta-voz da Santa Sé, durante a entrevista concedida à Rádio Vaticano: O Papa Francisco fala muito de uma Igreja não auto-referencial, de uma Igreja de missão, de uma Igreja que olha para além de si mesma e a todo o mundo. A mim, veio em mente a belíssima Carta de João Paulo II no final do Jubileu, "Duc in altum", dirigida à Igreja do terceiro milênio. Assim, me parece que efetivamente, com o Papa Francisco, a barca da Igreja esteja viajando, sem medo, antes, com alegria de poder encontrar o mistério de Deus em novos horizontes.
 
Por mais óbvio que pareça, é extremamente importante admitir: existem, sim, novos horizontes, novos caminhos, novos rumos. É, justamente, o nome "Rumos novos" que foi escolhido para definir o "grupo de homossexuais católicos de Portugal que encoraja a animação da fé com homossexuais e suas famílias e que, acompanhado por um número cada vez maior de participantes de todas as idades, está lançando um novo olhar à Igreja Católica, reclamando a sua pertença ao Corpo de Cristo".

Eu sei que esta perspectiva de leitura e de reflexão bíblica pode irritar muita gente. Imagino os comentários, baseados principalmente na interpretação direta do texto de Lucas, mais ou menos neste sentido: "Aqueles homens, chamados por Cristo, deixaram as barcas e seguiram a Jesus e isso significa que vocês, gays e outros pervertidos, devem deixar esta vida de pecado e seguir os mandamentos de Deus e a doutrina da Igreja!". Bem, no momento, seria difícil esperar outra coisa. Tudo o que se refere aos dilemas de consciência, inclusive os conceitos de pecado, é delicado e não se resume, nem resolve, com apenas uma frase radical. É necessário o diálogo e o Papa Francisco tem falado sobre isso desde o início. Bento XVI também deixou orientações claras a esse respeito, por exemplo:  é absolutamente necessário o diálogo, conhecer-se reciprocamente, respeitar-se e procurar colaborar de todas as formas possíveis para as grandes finalidades da humanidade, ou para as suas grandes necessidades, para superar fanatismos e criar um espírito de paz e de amor. E isto está também no espírito do Evangelho, cujo sentido é precisamente que o espírito de amor, que aprendemos de Jesus, a paz de Jesus que Ele nos doou através da cruz, se torne presente universalmente no mundo. Neste sentido o diálogo deve ser diálogo verdadeiro, no respeito pelo próximo e na aceitação da sua alteridade; mas deve ser também  evangélico, no sentido que a sua finalidade fundamental é ajudar os homens a viver no amor e fazer com que este amor se possa expandir em todas as partes do mundo.

Sem dúvida, os homossexuais têm muitas "barcas a serem deixadas na margem", para seguir Jesus, sobretudo o pecado. O pecado, porém, está associado à condição humana e não apenas homossexual. Sim, as pessoas homossexuais enfrentam muitas situações particulares (inclusive, devido à falta de assistência pastoral séria), mas a solução não está na generalização, nem no preconceito. Esta é, de fato, a primeira "barca" que precisa ser abandonada. Seguir Jesus consiste em empregar a sua maneira de ir ao encontro do outro, sempre com o coração cheio de compreensão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário