A festa litúrgica da Exaltação da Santa Cruz inspira-se na tradição que conta a história da descoberta da cruz de Jesus Cristo, por volta do ano 326. Helena, a mãe do imperador Constantino teria recebido a revelação do local, onde se encontravam as três cruzes e, entre elas, aquela na qual morreu Jesus. No local da descoberta foi construída a igreja do Santo Sepulcro por ordem de Helena e dedicada em 335, com uma parte da cruz em exposição. Em 13 de setembro ocorreu a dedicação da igreja e a cruz foi posta em exposição no dia 14, para que os fiéis pudessem orar e venerá-la.
A Igreja convida-nos à reflexão sobre o mistério da Cruz, relembrando as palavras de Jesus: Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. (Jo 3, 13-14) e, também: Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim (Mt 10, 38).
A tradição cristã (que podemos chamar de "sabedoria espiritual do povo") sempre associou a cruz ao sofrimento (à provação, em geral) e ao cumprimento do dever, interpretando assim a exigência de "tomar a cruz" expressa nas palavras de Jesus. É um caminho à santificação e, consequentemente, à salvação e à vida eterna.
Do ponto de vista de uma pessoa homossexual, a Exaltação da Santa Cruz, pode ser uma ocasião para refletir sobre a sua condição e, de fato, exaltá-la. O texto do Catecismo da Igreja Católica, justamente assim, descreve a situação:
Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição. (CIC, 2358)
Na Carta aos Gálatas (3, 13) lemos: Cristo remiu-nos da maldição da lei, fazendo-se por nós maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro (Dt 21, 23). Se a cruz que no Antigo Testamento foi o sinônimo de maldição e Jesus teve o poder de transformá-la em maior fonte de bênção, por que não podemos assim contemplar algo que faz parte integral de nossa identidade? O Catecismo diz que, sendo cristãos, devemos unir à cruz do Senhor as nossas dificuldades. Pergunto, pois: é unir à cruz na visão do Antigo, ou do Novo Testamento? Em outra Carta, São Paulo escreve: nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos, mas, para os eleitos - quer judeus quer gregos - força de Deus e sabedoria de Deus (2Cor 1, 23-24).
ORAÇÃO:
(a primeira parte inspirada no texto de Pe. Reginaldo Manzotti)
Ó Santa Cruz, Cruz Bendita onde a humanidade foi redimida
e o Filho do homem teve suas mãos e seus pés transpassados
e teve seu peito aberto de onde jorrou água e sangue.
Ó Santa Cruz, instrumento de morte e de castigo,
mas que no Sangue Redentor se tornou sinal de nossa salvação.
Ó Cruz Bendita, chave de nossa eternidade,
coroa de nossa salvação, na cruz do Senhor eu coloco estas intenções:
Por todos os homossexuais,
crucificados em suas famílias
e em qualquer parte da sociedade,
muitas vezes por "motivos religiosos"...
Por todos os homossexuais
que não aceitam a sua própria condição,
pelos que vivem em depressão e solidão,
por aqueles que atentam contra a própria vida...
Pelos que foram expulsos de casa
abandonados pelos amigos
desprezados por colegas na escola e no trabalho,
agredidos na rua
e rejeitados pela Igreja.
Que todos possam descobrir
a Cruz gloriosa e vitoriosa.
Que encontrem na Cruz a força
para viver, lutar e amar
e que cheguem pela Cruz
à glória da eternidade.
Amém.
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