Mais uma vez, a cultura do encontro, o diálogo e o esforço pessoal em busca de unidade na diversidade, foram os tópicos da catequese do Papa Francisco, nesta quarta-feira, dia 25. 09. Já li em alguns lugares (que nem vou me dar trabalho de citar as fontes) alguns comentários críticos sobre o estilo do discurso papal, considerado "frívolo". Entretanto, é a linguagem que o povo entende, ainda que irrite os teólogos, cheios de frescura e acostumados com o estilo refinado de Bento XVI. Pois é, desta vez o Papa falou assim: Cada um se pergunte: faço crescer a unidade em família, na paróquia, na comunidade, ou sou um fofoqueiro, uma fofoqueira. Sou motivo de divisão, de desconforto? Mas vocês não sabem o mal que fazem à Igreja, às paróquias, às comunidades, as fofocas! Fazem mal! As fofocas ferem. Um cristão antes de fofocar deve morder a língua! Sim ou não? Morder a língua: isto nos fará bem, para que a língua inche e não possa falar e não possa fofocar.
Achei muito curioso o fato de ter sido, mais ou menos, esse o assunto da conversa que tive com o meu melhor amigo (e o último "ex"), durante o almoço de hoje, quer dizer, antes de eu ter lido o texto do Papa. Não foi sobre a fofoca que conversamos, mas sobre a capacidade de morder a língua, quando for necessário. O meu amigo vive em um relacionamento há vários meses. Diz que os dois nunca chegaram a brigar, porque o namorado dele tem uma capacidade de se calar na hora certa. Fiquei fascinado, quando o meu amigo disse: "No nosso relacionamento, o problema - se existe - sou eu e o meu temperamento, mas ele é quem salva a situação". Sim, bem me lembro as nossas brigas, pois eu não sabia me calar. Ele também não. Aliás, calamos, mas só quando ficávamos "de mal". O namorado do meu amigo interrompe a argumentação, por mais que tenha razão e propõe recomeçar a conversa de outra maneira, ou voltar ao assunto mais tarde. Realmente, saber morder a língua na hora certa, é uma grande arte.
Voltando, porém, ao discurso do Papa, fiquei pensando (de novo) sobre a presença de homossexuais na Igreja. Entre outras coisas, o Santo Padre disse: Aonde quer que vamos, mesmo na menor paróquia, na esquina mais perdida desta terra, há a única Igreja; nós estamos em casa, estamos em família, estamos entre irmãos e irmãs. E este é um grande dom de Deus! A Igreja é uma só para todos. Não há uma Igreja para os europeus, uma para os africanos, uma para os americanos, uma para os asiáticos, uma para os que vivem na Oceania, não, é a mesma em qualquer lugar.
Acrescento: não há uma Igreja para os heterossexuais e outra para os homossexuais. Ainda que existam, na experiência evangélica-pentecostal, as Igrejas "inclusivas", elas se tornam, de fato, exclusivas, como se fossem guetos. Eu sei que é uma espécie de protesto contra a exclusão e uma tentativa de criar espaços, onde as pessoas homossexuais pudessem se sentir em casa e louvar a Deus livremente, sem precisar esconder a sua identidade. Esta - de esconder a identidade homossexual - é (queria poder dizer "era, até há pouco") a proposta "oficial" da Igreja Católica: A tendência sexual de uma pessoa individualmente não é, de modo geral, conhecida pelos outros, a não ser que ela se identifique em público como alguém que tem esta tendência ou com a manifestação de comportamento exterior. Geralmente, a maioria das pessoas com tendências homossexuais, que procuram viver uma vida casta, não tornam pública a sua tendência sexual. Por conseguinte, o problema da discriminação, em termos de trabalho, de habitação, etc., normalmente não se apresenta (n. 14). Quer dizer: a Igreja encoraja os homossexuais a permanecerem "no armário"...
Parece contrastar com esta ideia o discurso (de hoje) do Papa Francisco: Penso, por exemplo, na experiência da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro: naquela vasta multidão de jovens na praia de Copacabana, ouvia-se falar tantas línguas, viam-se traços da face muito diversificada deles, encontravam-se culturas diferentes, no entanto havia uma profunda unidade, se formava a única Igreja, estava-se unido e se sentia isso. Perguntemo-nos todos: eu, como católico, sinto esta unidade? Eu como católico vivo esta unidade da Igreja? Ou não me interessa, porque estou fechado no meu pequeno grupo ou em mim mesmo? Sou daqueles que “privatizam” a Igreja pelo próprio grupo, a própria nação, os próprios amigos? É triste encontrar uma Igreja “privatizada” pelo egoísmo e pela falta de fé. É triste! Quando ouço que tantos cristãos no mundo sofrem, sou indiferente ou é como se sofresse um da minha família? (...)
Demos um outro passo e perguntemo-nos: há feridas a esta unidade? Podemos ferir esta unidade? Infelizmente, nós vemos que no caminho da história, mesmo agora, nem sempre vivemos a unidade. Às vezes surgem incompreensões, conflitos, tensões, divisões, que a ferem, e então a Igreja não tem a face que queremos, não manifesta a caridade, aquilo que Deus quer. Somos nós que criamos lacerações! E se olhamos para as divisões que ainda existem entre os cristãos, católicos, ortodoxos, protestantes… sentimos o esforço de tornar plenamente visível esta unidade. Deus nos doa a unidade, mas nós mesmos façamos esforço para vivê-la. É preciso procurar, construir a comunhão, educar-nos à comunhão, a superar incompreensões e divisões, começando pela família, pela realidade eclesial, no diálogo ecumênico também. O nosso mundo precisa de unidade, está em uma época na qual todos temos necessidade de unidade, precisamos de reconciliação, de comunhão e a Igreja é Casa de comunhão. (...)
Enfim, o último passo mais em profundidade. E esta é uma bela pergunta: quem é o motor desta unidade da Igreja? É o Espírito Santo que todos nós recebemos no Batismo e também no Sacramento da Crisma. É o Espírito Santo. A nossa unidade não é primeiramente fruto do nosso consenso, ou da democracia dentro da Igreja, ou do nosso esforço de concordar, mas vem Dele que faz a unidade na diversidade, porque o Espírito Santo é harmonia, sempre faz a harmonia na Igreja. É uma unidade harmônica em tanta diversidade de culturas, de línguas e de pensamentos. É o Espírito Santo o motor. Por isto é importante a oração, que é a alma do nosso compromisso de homens e mulheres de comunhão, de unidade. A oração ao Espírito Santo, para que venha e faça a unidade na Igreja.
Peçamos ao Senhor: Senhor, dai-nos sermos sempre mais unidos, não sermos nunca instrumentos de divisão; faz com que nos empenhemos, como diz uma bela oração franciscana, a levar o amor onde há o ódio, a levar o perdão onde há ofensa, a levar a união onde há a discórdia. Assim seja.
sua visão sobre o texto do papa, sobre a igreja romana, está perfeita! mas mais inspirador mesmo foi sua reflexão sobre a hora que temos que MORDER A LINGUA! abs
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelo comentário! Eu ainda estou tentando aprender a morder a língua na hora certa...
ResponderExcluirGrande abraço!