Os discípulos não compreenderam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava escondido, de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto. (Lc 9, 45)
É o último versículo do pequeno trecho do Evangelho deste sábado. As perguntas, mas também o medo de fazê-las, acompanham-nos durante a vida inteira. Bem, pelo menos, depois de encerrarmos a nossa infância. É próprio de toda criança fazer perguntas de todo tipo, inclusive aquelas que deixam os adultos embaraçados. Talvez esta tenha sido uma das razões de Jesus afirmar: quem não receber como criança o Reino de Deus, nunca entrará nele (Mc 10, 15).
Entretanto, o próprio Jesus não respondia a todas as perguntas: Os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo aproximaram-se e perguntaram-lhe: Com que direito fazes isso? Quem te deu esta autoridade? Respondeu-lhes Jesus: Eu vos proporei também uma questão. Se responderdes, eu vos direi com que direito o faço. Donde procedia o batismo de João: do céu ou dos homens? Ora, eles raciocinavam entre si: Se respondermos: Do céu, ele nos dirá: Por que não crestes nele? E se dissermos: Dos homens, é de temer-se a multidão, porque todo o mundo considera João como profeta. Responderam a Jesus: Não sabemos. Pois eu tampouco vos digo, retorquiu Jesus, com que direito faço estas coisas (Mt 21, 23-27). Algo parecido acontecia, quando se tratava de outras perguntas, feitas de má fé, por exemplo, sobre o imposto a ser pago - ou não - ao César (Mt 22, 15, 21), mas, principalmente, na hora do julgamento, diante do Sumo Sacerdote, de Herodes e de Pilatos. Pilatos perguntou-lhe outra vez: Nada respondes? Vê de quantos delitos te acusam! (Mc 15, 4).
Quais são as conclusões práticas para nós? Pelo menos duas... A principal maneira de seguir a Jesus, consiste em imitá-lo. Logo, não temos a obrigação de responder a todas as perguntas. Por outro lado, Jesus nem sempre responde aos nossos questionamentos, ainda que Ele próprio tenha sido a resposta a todas as interrogações do ser humano. Ou, então, Ele responde, sim só que somos nós que não sabemos ouvir...
Algumas perguntas existenciais sem resposta, levam muita gente a perder o sentido da vida, a ponto de acabar com ela com suas próprias mãos. "Por que eu?", "Por que nasci assim?", "Por que sinto isso?" - são as mais frequentes interrogações que fazem as pessoas homossexuais, pelo menos na hora da descoberta e, as vezas, pelo resto de sua vida. Muitos pais se perguntam "Onde nós erramos?", "Quem fez isso com o nosso filho/a nossa filha?", "O que fazer para livrá-lo(a) dessa desgraça?", além de todas aquelas, no estilo "O que irão dizer os vizinhos sobre a nossa família?". Há perguntas que não devem ser feitas, como aquela que fez, em público, o doutor César a seu filho Félix (na novela da Globo "Amor à vida"): "Quem é quem na cama? Quem é mulher e quem é homem?". Sem dúvida, alguns pais ficam curiosos e, sinceramente, não tenho certeza se eu mesmo negaria a resposta, caso a minha mãe me perguntasse. É, porque conheço a minha mãe e sei que ela faria (caso fizesse!) esta pergunta sem maldade e não para julgar, condenar, humilhar, etc. Não se trata de entrar em detalhes anatômicos, mas de querer saber como vai a vida amorosa do filho. Justamente, sem entrar em detalhes, a minha mãe conversa com o meu irmão (casado com uma mulher, com quem tem três filhos), sobre a vida conjugal dele. São as conversas cheias de tato, respeitosas, mesmo assim, tocam nos assuntos de intimidade. Acredito que, se eu vivesse em um relacionamento, as conversas com a minha mãe incluiriam tais assuntos.
Ah, quem nunca fez, no seu íntimo, aquela pergunta angustiante "Será que ele/ela é...?". As biblio- e videotecas estão repletas de obras que tentam descrever o arrependimento das pessoas que não tiveram coragem de dar aquele primeiro passo. As vezes funciona o "gaydar", cria-se aquele clima, surge a química. Comigo já funcionou... Ou, funcionava, antigamente. Mas, também, já fiz aquela pergunta, porém, eu acho que a forma, ou a hora, não tenham sido adequadas. Perdi o contato com alguns amigos por causa de algumas perguntas ousadas, ou entendidas mal...
Outra coisa, para muitos bastante polêmica, é a conversa entre os homossexuais, a respeito de sua "opção na cama". Aquele famoso: "ATV/PAS?". Vários comentários nas redes sociais expressam indignação com este tipo de pergunta. Eu diria o seguinte: exatamente assim, como em uma conversa respeitosa em família, o assunto não deve ser escancarado, nem colocado em primeiro lugar. Entretanto, penso que deve aparecer em algum momento e bem antes de duas pessoas decidirem ir para cama e antes de se apaixonar, um pelo outro. Por mais que se diga que "não existe 100% isso ou aquilo", não seria legal descobrir a eventual incompatibilidade, somente na hora "H".
Para terminar, deixo aqui uma pergunta aberta. Todos se lembram da revelação bíblica sobre a criação do ser humano. É o texto citado em quase todos os documentos da Igreja que descrevem a homossexualidade como profundamente desordenada e condenam os atos homossexuais. A parte principal dos argumentos não é a afirmação de que Deus tenha criado o homem a sua imagem e semelhança, mas que Ele "os fez homem e mulher", ordenando, logo depois, que fossem fecundos. A própria narração do Livro Sagrado, usando a sua predileta linguagem alegórica, diz o seguinte:
O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada.” Tendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais dos campos, e todas as aves dos céus, levou-os ao homem, para ver como ele os havia de chamar; e todo o nome que o homem pôs aos animais vivos, esse é o seu verdadeiro nome. O homem pôs nomes a todos os animais, a todas as aves dos céus e a todos os animais dos campos; mas não se achava para ele uma ajuda que lhe fosse adequada. Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. "Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem. Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne (Gn 2, 18-24).
A minha pergunta é: o que teria dito o homem, se Deus, em vez de mulher, levasse para junto dele... o outro homem? Não daria a mesma resposta: "Eis agora aqui o osso de meus ossos e a carne de minha carne"?
Nenhum comentário:
Postar um comentário