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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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27 de setembro de 2013

Causar


 
De uns tempos pra cá observo o surgimento de novas expressões linguísticas, principalmente entre os jovens e no ambiente das redes sociais. Eu sei que o fenômeno em si é tão antigo quanto a própria humanidade e os idiomas continuam evoluindo, sendo esse o sinal de sua vitalidade. Pois é... Um dos termos que conseguiu se instalar fora das conversas na net, é "causar" (recentemente ouvi isso da boca de uma funcionária - não tão jovem assim - no supermercado). Antigamente as pessoas causavam escândalos, revoluções, comoção, comentários, etc. Hoje em dia, estão apenas... causando. Pode ser até boa essa falta de um substantivo, após o verbo, pois deixa a avaliação da coisa por conta do espectador. Por outro lado, se o "causar" for o único objetivo, eu fico na dúvida em relação aos motivos desse tipo de ação. Como naquele antigo ditado "mal ou bem, mas falem de mim". Enfim, os fenômenos surgem e desaparecem e, talvez, a sobrevivência do "causar" esteja, justamente no... causar.
 
No último dia 25, o artista e fotógrafo espanhol, residente na Itália, Gonzalo Orquín, "causou", exibindo em uma galeria de Roma, 16 fotografias de casais homossexuais, tiradas no interior das igrejas da cidade, sugerindo aquele momento da cerimônia de casamento em que o padre diz: "agora pode beijar a noiva" (veja aqui e aqui).
 
 
De acordo com a mídia internacional (aqui, em inglês), o Vaticano "causou", logo em seguida: "Chegou uma carta do Vicariato de Roma, informando que a Igreja se posiciona contra a exposição. Conversei com os advogados e por razões de segurança decidimos não mostrar as fotos" - disse Orquín à imprensa. O porta-voz do Vicariato de Roma, Claudio Tanturri, disse que as fotos violam a Constituição italiana. "A Constituição italiana garante o respeito pelos sentimentos religiosos das pessoas e o papel dos lugares de culto. Portanto, as fotos não são adequados e não se conformam com a espiritualidade do lugar, ofendem um lugar para a expressão da fé ". O Vicariato de Roma confirmou o envio da carta e ameaçou tomar medidas legais, caso as fotos (que "poderiam ferir os sentimentos religiosos dos fiéis") não fossem retiradas. Gonzalo Orquin disse que todas as dezesseis fotos da exposição foram tiradas em igrejas da cidade, com as pessoas, tanto gays e heterossexuais que se ofereceram para aparecer nas imagens.

Anteriormente - na ocasião do "beijaço para Bento XVI" em Barcelona (2010) - escrevi aqui sobre a minha opinião (negativa) a respeito de certas formas de manifestações que, a princípio, seriam realizadas em prol da visibilidade e dos direitos de pessoas homossexuais. Houve, depois, o "beijaço para o Papa Francisco", aqui no Rio, durante a JMJ. Mais tarde "explodiu a bomba" com o beijo de duas mulheres, durante um culto evangélico, presidido pelo pastor (e deputado federal) Marco Feliciano.
 
Confesso que hoje a minha opinião já não é mais tão negativa. Acho interessante o fato de que a arma do protesto tenha sido o beijo, ou seja, algo totalmente oposto à violência . Podemos começar a discutir aqui sobre essa expressão de carinho e intimidade que o citado pastor tenha definido como "ato de vilipendiação ou de baderna" e o Vicariato de Roma, como algo que viola a Constituição do país, ofende um lugar para a expressão da fé e pode ferir os sentimentos religiosos dos fiéis. Aos mais ofendidos em seus sentimentos religiosos fundamentalistas que quiserem logo trazer a comparação com o beijo de Judas ("Judas, com um beijo trais o Filho do Homem" Lc 22, 48), quero citar outra frase de Jesus (de sua conversa com o fariseu Simão): "Tu não me deste o beijo de saudação; ela, porém, desde que entrei, não parou de beijar meus pés. (...) Por esta razão, eu te declaro: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela mostrou muito amor." (Lc 7, 45. 47).  Antes, vendo isso, o fariseu que o havia convidado ficou pensando: “Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora” (Lc 7, 39-40). A mulher "causou" - o fariseu ficou escandalizado, Jesus, por sua vez, comovido e admirado.
 
A conclusão, portanto, pode ser essa: o "causar" pode ser uma ótima ocasião para avaliarmos os nossos pontos de vista. Certamente é isso que os "causadores" têm em mente, ao tomarem as suas atitudes. Afinal, o maior "causador" na história é o próprio Jesus...

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