ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



_____________________________________________________________________________



24 de setembro de 2013

Luta livre ou vale-tudo?

 
No estilo de luta livre esportiva nem tudo é permitido e a aplicação de golpes proibidos por um dos atletas resulta em desclassificação. Por sua vez, a luta livre vale-tudo, ainda que parecida com o estilo do combate livre, permite socos, golpes, cotoveladas e joelhadas. Mesmo assim, continuam proibidas as condutas consideradas antiesportivas: cabeçada, dedo no olho, mordida, puxão de cabelo, além de utilizar linguagem imprópria ou abusiva no ringue. Enfim, não é permitido o golpe baixo intencional.
 
Podemos fazer aqui uma analogia com as regras que regem, até o combate militar. Todos nós acompanhamos a situação na Síria e o assunto mais falado é, justamente, o uso de armas químicas. Neste contexto, está sendo lembrada uma lista de ações militares que estão fora do conceito de uma guerra justa, ou seja: diferentemente do que diz o pensamento popular "tudo vale no amor e na guerra", não é tudo que vale. Entre as formas ilegítimas de guerra (portanto, proibidas), definidas em acordos internacionais, destacam-se: ataques contra civis não engajados nas batalhas, incluindo qualquer violência sexual, recrutar ou utilizar crianças menores de 15 anos nas forças armadas, matar ou ferir militares que tenham deposto suas armas ou não estejam em condição de se defender, o tratamento desumano de prisioneiros, incluindo torturas físicas ou psicológicas, usar gases tóxicos e outros tipos de armas químicas, ou utilizar armamentos capazes de causar ferimentos desumanos e muitas outras ações. Ainda que o termo "guerra justa" esteja presente no pensamento da Igreja, pelo menos, desde Santo Agostinho, até os dias de hoje (cf. CIC 2307-2317), a opinião sobre a guerra que representa o meio mais bárbaro e mais ineficaz para resolver os conflitos (João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1982, n. 12), está muito clara: Entre os sinais de esperança, há que incluir ainda o crescimento, em muitos estratos da opinião pública, de uma nova sensibilidade cada vez mais contrária à guerra como instrumento de solução dos conflitos entre os povos, e sempre mais inclinada à busca de instrumentos eficazes, mas « não violentos », para bloquear o agressor armado. João Paulo II, Encíclica Evangelium vitae, n. 27).
 
Feitas essas ressalvas, vou ao assunto principal. A impressão que tenho é que existe uma área, na qual não funcionam as mínimas regras de conduta, análogas às leis de guerra ou de luta livre. É a mídia, inclusive, a mídia católica. Vale lembrar aqui uma definição clara, fornecida pela própria Igreja: É necessário, sobretudo, que todos os interessados na utilização destes meios de comunicação formem retamente a consciência acerca de tal uso, em especial no que se refere a algumas questões agudamente debatidas nos nossos dias. A primeira questão refere-se à chamada informação, ou obtenção e divulgação das notícias. É evidente que tal informação, em virtude do progresso atual da sociedade humana e dos vínculos mais estreitos entre os seus membros, resulta muito útil e, na maioria das vezes, necessária, pois a comunicação pública e oportuna de notícias sobre acontecimentos e coisas facilita aos homens um conhecimento mais amplo e contínuo dos fatos, de tal modo que pode contribuir eficazmente para o bem comum e maior progresso de toda a sociedade humana. Existe, pois, no seio da sociedade humana, o direito à informação sobre aquelas coisas que convêm aos homens, segundo as circunstâncias de cada um, tanto particularmente como constituídos em sociedade. No entanto, o uso reto deste direito exige que a informação seja sempre objetivamente verdadeira e, salvas a justiça e a caridade, íntegra. Quanto ao modo, tem de ser, além disso, honesto e conveniente, isto é, que respeite as leis morais do homem, os seus legítimos direitos e dignidade, tanto na obtenção da notícia como na sua divulgação (Decreto Inter Mirifica do Concílio Vaticano II, n. 5).
 
O espaço virtual está repleto de entidades (sites, páginas, blogs), ditas "católicas" que, apesar dessa pretensão em (ab-)usar o adjetivo "católico", ferem gravemente os legítimos direitos e a dignidade das pessoas, sempre quando lhes convém. O exemplo de hoje é o caso de um padre australiano, Greg Reynolds que foi destituído e excomungado pelo Papa Francisco. Um destes "católicos" meios de comunicação, o portal "Logos - apologética cristã" escreve em tom de vitória: Papa Francisco excomunga padre pró-casamento gay. Ele não é o liberal que a mídia quer. E acrescenta: A mídia secularista, golpista e desonesta, junto com os famigerados militantes e ativistas gays e abortistas tiveram sua alegria de curta duração: o papa é fiel e ardente defensor da moral tradicional. No mesmo texto desta "notícia do dia", o próprio portal se contradiz. Depois de comemorar a derrota dos inimigos, diz: O documento de excomunhão – escrito em latim e não dando o motivo – e de 31 de maio, o que significa que está sob a autoridade do papa Francisco, que ganhou as manchetes na quinta-feira pedindo uma Igreja menos obcecada por regras. Percebendo, talvez, a própria contradição, acrescenta: O documento pode não dar nenhuma razão explícita, mas a razão é implícita e bem compreendida: Reynolds ofendeu a Igreja Mãe com sua política (opiniões radicais sobre mulheres no clero e “casamento” gay).
 
Pesquisando, porém, mais um pouco, podemos chegar facilmente a outras informações que, convenientemente, o portal "Logos" omite. O portal "Ecclesia", informa que na manhã desta terça-feira, 24, agências de notícias internacionais divulgaram o decreto de excomunhão contra o padre australiano Greg Reynolds que se manifestou em reiteradas ocasiões a favor do casamento homossexual e a ordenação de mulheres. (...) Há dois anos o ex-padre havia sido afastado da paróquia a que pertencia em Melbourne e agora recebeu oficialmente o parecer da Igreja quanto ao seu futuro. Segundo Reynolds, o documento de excomunhão, escrito em latim, foi emitido sobre a autorização do próprio Papa Francisco. Após ter sido suspenso em 2011 das funções sacerdotais dedicou os últimos meses a fundação de um grupo chamado "Inclusive Catholics", dedicado a promover o ativismo gay dentro da Igreja.
 
Outro portal católico, "Fratres in unum", citando as testemunhas oculares, diz que em 5 de agosto [de 2012] um cão recebeu a comunhão em uma celebração de “católicos inclusivos”, um movimento de Melbourne lançado pelo Padre Greg Reynolds, um padre suspenso da arquidiocese. Após defender a ordenação de mulheres em uma homilia de 2010, o Padre Reynolds teve as suas faculdades suspensas pelo Arcebispo Denis Hart e renunciou ao seu pastoreio. Atualmente ele organiza celebrações para um grupo variado de católicos desafetos. O periódico The Age noticiou que uma mulher conduziu a celebração, enquanto o Padre Reynolds “desempenhava um pequeno papel da maneira que podia.” Parece improvável, portanto, que a cerimônia tenha sido uma Missa válida ou que o pão fosse realmente consagrado. Contudo, The Ager relatou que a congregação suspirou quando um participante administrou a comunhão ao cão. O Arcebispo Hart emitiu uma declaração dizendo “que é uma abominação qualquer pessoa alimentar um cão com a Eucaristia.” Em um protesto ao The Age, o Arcebispo disse que o relato do jornal sobre a cerimônia “somente pode ser entendido como uma tentativa de ridicularizar o catolicismo”.
 
A conclusão é simples: antes de uivar a "derrota dos gayzistas", os usuários da mídia (principalmente católica), teriam que cumprir o seu dever de consciência para com a virtude de honestidade e renunciar à tentação de manipular a informação.
 

2 comentários:

  1. que bom que você pôde fazer essa pesquisa e publicar esse esclarecimento, Teleny! Eu bem achei muito estranha essa excomunhão, e imaginei que era resultado de um processo longo, não podia ter começado ontem. Além disso, o nome desse Pe. Reynolds nao me era estranho... lembrava vagamente das controversias em que se meteu há uns 2 anos. Mas as pessoas são rapidissimas em julgar e acusar, infelizmente... sobretudo quando se trata de usar as informações, deliberadamente manipuladas ou nao, para defender seus próprios pontos de vista. :-(
    Um beijo grande, querido amigo.
    Cris

    ResponderExcluir
  2. Pois é, eu acho que muita gente reproduz a primeira notícia que chega, sem verificar as coisas com maior precisão que, especialmente nestes casos, se faz necessária. Dessa maneira, toda tentativa de diálogo (por exemplo entre a comunidade GLBTT e a Igreja) fracassa, porque os interlocutores se apegam às generalizações e às opiniões superficiais, repetidas pela mídia (que não está interessada em nenhum diálogo).

    Grande abraço!

    ResponderExcluir