No
estilo de luta livre esportiva nem tudo é permitido e a aplicação
de golpes proibidos por um dos atletas resulta em desclassificação.
Por sua vez, a luta livre vale-tudo, ainda que parecida com o estilo
do combate livre, permite socos, golpes, cotoveladas e joelhadas.
Mesmo assim, continuam proibidas as condutas consideradas
antiesportivas: cabeçada, dedo no olho, mordida, puxão de cabelo,
além de utilizar linguagem imprópria ou abusiva no ringue. Enfim,
não é permitido o golpe baixo intencional.
Podemos
fazer aqui uma analogia com as regras que regem, até o combate
militar. Todos nós acompanhamos a situação na Síria e o assunto
mais falado é, justamente, o uso de armas químicas. Neste contexto,
está
sendo lembrada uma lista de ações militares que estão fora do
conceito de uma guerra
justa, ou seja: diferentemente do que diz o pensamento popular
"tudo vale no amor e na guerra", não é tudo que vale.
Entre as formas ilegítimas de guerra (portanto, proibidas),
definidas em acordos internacionais, destacam-se: ataques
contra civis não engajados nas batalhas, incluindo qualquer
violência sexual, recrutar ou utilizar crianças menores de 15 anos
nas forças armadas, matar ou ferir militares que tenham deposto suas
armas ou não estejam em condição de se defender, o tratamento
desumano de prisioneiros, incluindo torturas físicas ou
psicológicas, usar gases tóxicos e outros tipos de armas químicas,
ou utilizar armamentos capazes de causar ferimentos desumanos
e muitas outras ações. Ainda que o termo "guerra justa"
esteja presente no pensamento da Igreja, pelo menos, desde Santo
Agostinho, até os dias de hoje (cf. CIC
2307-2317), a opinião sobre a guerra que representa
o meio mais bárbaro e mais ineficaz para resolver os conflitos
(João Paulo II, Mensagem
para o Dia Mundial da Paz, 1982, n. 12), está muito clara: Entre
os sinais de esperança, há que incluir ainda o crescimento, em
muitos estratos da opinião pública, de uma nova sensibilidade cada
vez mais contrária à guerra como instrumento de solução dos
conflitos entre os povos, e sempre mais inclinada à busca de
instrumentos eficazes, mas « não violentos », para bloquear o
agressor armado.
João Paulo II, Encíclica Evangelium
vitae,
n. 27).
Feitas
essas ressalvas, vou ao assunto principal. A impressão que tenho é
que existe uma área, na qual não funcionam as mínimas regras de
conduta, análogas às leis de guerra ou de luta livre. É a mídia,
inclusive, a mídia
católica.
Vale lembrar aqui uma definição clara, fornecida pela própria
Igreja: É
necessário, sobretudo, que todos os interessados na utilização
destes meios de comunicação formem retamente a consciência acerca
de tal uso, em especial no que se refere a algumas questões
agudamente debatidas nos nossos dias. A primeira questão refere-se à
chamada informação, ou obtenção e divulgação das notícias. É
evidente que tal informação, em virtude do progresso atual da
sociedade humana e dos vínculos mais estreitos entre os seus
membros, resulta muito útil e, na maioria das vezes, necessária,
pois a comunicação pública e oportuna de notícias sobre
acontecimentos e coisas facilita aos homens um conhecimento
mais amplo e contínuo dos fatos, de tal modo que pode contribuir
eficazmente para o bem comum e maior progresso de toda a sociedade
humana.
Existe, pois, no seio da sociedade humana, o direito à informação
sobre aquelas coisas que convêm aos homens, segundo as
circunstâncias de cada um, tanto particularmente como constituídos
em sociedade. No entanto, o uso
reto deste direito exige que a informação seja sempre objetivamente
verdadeira e, salvas a justiça e a caridade, íntegra.
Quanto ao modo, tem de ser, além disso, honesto
e conveniente,
isto é, que respeite
as leis morais do homem,
os seus legítimos
direitos e dignidade,
tanto na obtenção da notícia como na sua divulgação (Decreto
Inter
Mirifica
do Concílio Vaticano II, n. 5).
O
espaço virtual está repleto de entidades (sites, páginas, blogs),
ditas "católicas" que, apesar dessa pretensão em
(ab-)usar o adjetivo "católico", ferem
gravemente os legítimos direitos e a dignidade das pessoas, sempre
quando lhes convém.
O exemplo de hoje é o caso de um padre australiano, Greg
Reynolds
que foi destituído e excomungado pelo Papa Francisco. Um destes
"católicos" meios de comunicação, o portal "Logos
- apologética cristã" escreve em tom de vitória: Papa
Francisco excomunga padre pró-casamento gay. Ele não é o liberal
que a mídia quer.
E acrescenta: A
mídia secularista, golpista e desonesta, junto com os famigerados
militantes e ativistas gays e abortistas tiveram sua alegria de curta
duração: o papa é fiel e ardente defensor da moral tradicional. No
mesmo texto desta "notícia do dia", o próprio portal se
contradiz. Depois de comemorar a derrota dos inimigos, diz: O
documento de excomunhão – escrito em latim e não
dando o motivo
– e de 31 de maio, o que significa que está sob a autoridade do
papa Francisco, que ganhou as manchetes na quinta-feira pedindo uma
Igreja menos obcecada por regras.
Percebendo, talvez, a própria contradição, acrescenta: O
documento pode não dar nenhuma razão explícita, mas a razão é
implícita e bem compreendida: Reynolds ofendeu a Igreja Mãe com sua
política (opiniões
radicais sobre mulheres no clero e “casamento” gay).
Pesquisando,
porém, mais um pouco, podemos chegar facilmente a outras informações
que, convenientemente, o portal "Logos" omite. O portal
"Ecclesia",
informa que na
manhã desta terça-feira, 24, agências de notícias internacionais
divulgaram o decreto de excomunhão contra o padre australiano Greg
Reynolds que se manifestou em reiteradas ocasiões a favor do
casamento homossexual e a ordenação de mulheres. (...)
Há
dois anos o ex-padre havia sido afastado da paróquia a que pertencia
em Melbourne e agora recebeu oficialmente o parecer da Igreja quanto
ao seu futuro. Segundo Reynolds, o documento de excomunhão, escrito
em latim, foi emitido sobre a autorização do próprio Papa
Francisco. Após ter sido suspenso em 2011 das funções sacerdotais
dedicou os últimos meses a fundação de um grupo chamado "Inclusive
Catholics", dedicado a promover o ativismo gay dentro da Igreja.
Outro
portal católico, "Fratres
in unum", citando as testemunhas oculares, diz que em
5 de agosto [de
2012]
um
cão recebeu a comunhão
em uma celebração de “católicos inclusivos”, um movimento de
Melbourne lançado pelo Padre Greg Reynolds, um padre suspenso da
arquidiocese. Após defender a ordenação de mulheres em uma homilia
de 2010, o Padre Reynolds teve as suas faculdades suspensas pelo
Arcebispo Denis Hart e renunciou ao seu pastoreio. Atualmente ele
organiza celebrações para um grupo variado de católicos desafetos.
O periódico The Age noticiou que uma mulher conduziu a celebração,
enquanto o Padre Reynolds “desempenhava um pequeno papel da maneira
que podia.” Parece improvável, portanto, que a cerimônia tenha
sido uma Missa válida ou que o pão fosse realmente consagrado.
Contudo, The
Ager
relatou que a congregação suspirou quando um participante
administrou a comunhão ao cão. O Arcebispo Hart emitiu uma
declaração dizendo “que é
uma abominação qualquer pessoa alimentar um cão com a Eucaristia.”
Em um protesto ao The Age, o Arcebispo disse que o relato do jornal
sobre a cerimônia “somente pode ser entendido como uma tentativa
de ridicularizar o catolicismo”.
A
conclusão é simples: antes de uivar a "derrota dos gayzistas",
os usuários da mídia (principalmente católica), teriam que cumprir
o seu dever de consciência para com a virtude de honestidade e
renunciar à tentação de manipular a informação.
que bom que você pôde fazer essa pesquisa e publicar esse esclarecimento, Teleny! Eu bem achei muito estranha essa excomunhão, e imaginei que era resultado de um processo longo, não podia ter começado ontem. Além disso, o nome desse Pe. Reynolds nao me era estranho... lembrava vagamente das controversias em que se meteu há uns 2 anos. Mas as pessoas são rapidissimas em julgar e acusar, infelizmente... sobretudo quando se trata de usar as informações, deliberadamente manipuladas ou nao, para defender seus próprios pontos de vista. :-(
ResponderExcluirUm beijo grande, querido amigo.
Cris
Pois é, eu acho que muita gente reproduz a primeira notícia que chega, sem verificar as coisas com maior precisão que, especialmente nestes casos, se faz necessária. Dessa maneira, toda tentativa de diálogo (por exemplo entre a comunidade GLBTT e a Igreja) fracassa, porque os interlocutores se apegam às generalizações e às opiniões superficiais, repetidas pela mídia (que não está interessada em nenhum diálogo).
ResponderExcluirGrande abraço!