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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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15 de setembro de 2013

Heteronormatividade: é o que temos...

Foto: papaigay
 
O termo "heteronormatividade" é relativamente novo e apareceu na literatura GLSBTTS, como um neologismo de fácil compreensão. Eu mesmo passei a usar esta palavra, ora citando alguns autores, ora tentando fazer a referência ao fenômeno que perece ser tão óbvio, quanto - as vezes - enganador. Digo enganador, não no sentido de estar errado em si, mas que pode nos levar a umas conclusões precipitadas. Para explicar melhor, vou recorrer a um exemplo de cunho doméstico. Imaginemos os preparativos para ceia de Natal, na casa de uma família pobre. Todo mundo sonhava com aquele peru enorme ou, pelo menos, um chester, mas as coisas não foram exatamente assim como todos esperavam. Houve uns gastos a mais naquela mesma época e só deu para comprar um frango médio. A mulher, mãe daquela família, olhou à cara triste do filho e disse: "Meu filho, é o que temos, vamos dar graças a Deus!"...
 
Mais ou menos neste sentido que digo: a heteronormatividade é o que temos. Pelo menos no momento.
 
Alguns autores apresentam tal fenômeno, como algo que precisa ser urgentemente superado, combatido e extinto, para, finalmente, livrar a sociedade do preconceito, notadamente, de homofobia.
 
Um dos exemplos dessa opinião, à qual dou muita razão, é (já citado aqui) o livro de Klecius Borges "Muito além do arco-íris" que diz: Por mais que certas questões relacionais sejam comuns a todos os indivíduos e casais, afirmar que casais são casais, não importa a sua orientação e identidade sexual, é no mínimo um reducionismo. Para mim, essa atitude é inaceitável. Essa afirmação desconsidera as dinâmicas psíquicas e sociais envolvidas nas vivências e experiências de indivíduos e casais submetidos a uma cultura não apenas heteronormativa, mas muitas vezes opressora e dominada, ainda hoje, por práticas e atitudes fortemente discriminatórias. (p. 11)
 
Por sua vez, Alex Castro, citando a sua conversa com o psicólogo clínico Gilmaro Nogueira, na Revista online "Papo de Homem" (o texto reproduzido, também, pelo portal Homorrelidade), diz: A heteronormatividade é tão forte que opera até mesmo dentro da comunidade de gays, lésbicas e simpatizantes. Sempre que alguém, mesmo se for GLS, reclama contra gays afetados, exagerados, ou efeminados demais, está se caindo também, sem nem perceber, na armadilha da heteronormatividade, ou seja, “até aceito gays, desde que se comportem de acordo com a norma heterossexual de conduta masculina”.
 
Concordo quase com tudo, mas pergunto: na certeza de que esse processo de superação seja um processo longo e penoso, o que podemos fazer agora? Apenas esperar até que a heteronormatividade acabe? E se não acabar, enquanto estivermos vivos e só será possível criar uma nova mentalidade daqui a um século?
 
Discordo um pouco da opinião de Klecius Borges, quanto ao reducionismo, do qual ele fala e que se refere à atitude de equiparar os casais homossexuais aos heterossexuais (é bom notar que a Igreja levanta o mesmo questionamento e usa o mesmo termo, só que em direção oposta!). A minha opinião é que o relacionamento, antes de ser hetero- ou homossexual, é um relacionamento humano e como tal tem, de fato, muito em comum em todos os seus tipos, se olharmos aos requisitos necessários e básicos, tais como diálogo, confiança, perdão, humildade, sacrifício, etc. Na atual e quase total ausência de um sólido material de estudo sobre o relacionamento exclusivamente heterossexual, o que temos para hoje, é uma vasta literatura que trata de casais heterossexuais e de seus inúmeros problemas, fornece testemunhos de superação daqueles mesmos problemas, etc.
 
Voltando à imagem do frango, no lugar do peru: a mãe precisou tomar mais cuidado em sua generosidade, ao dividir as porções. Esse "tomar cuidado" é importante, mas associa-se ao "é o que temos". Seria um absurdo se aquela família ficasse olhando ao frango em cima da mesa, reclamando que não era um peru e ficasse com fome, logo na noite de Natal. O filho poderia ficar revoltado, jogar o frango ao chão e gritar: "Se não for o peru, eu prefiro não comer nada! Para mim o Natal acabou!". Imagino a mãe, igualmente muito triste e decepcionada, repetindo: "Mas é o que temos por hoje, meu filho! É o que temos!"... A palavra cuidado aplica-se aqui perfeitamente. Trata-se de ler, estudar e consultar, todos aqueles livros e artigos, sempre com um pé atrás, para (como diz Alex Castro) não cair na armadilha da heteronormatividade, mas, ao mesmo tempo, aprendendo com aquilo que realmente possa ser considerado universal em cada relacionamento humano. Por enquanto (até que acabe a heteronormatividade), a única restrição seria: "o relacionamento amoroso" (para não se afogar em questões de relacionamentos entre pais e filhos, amigos, chefes e subordinados, etc). Acredito muito que, no amor humano, seja ele voltado à pessoa do mesmo sexo, ou do sexo oposto, haja muito em comum, justamente por ele ser... humano.
 
Como exemplo prático, prometo publicar aqui (em breve), em forma de exercício para os casais homossexuais, um texto baseado no material que se encaixa perfeitamente naquele conceito da heteronormatividade. Digo mais, é um material do tipo gospel, ou seja, evangélico...
 
...é o que temos por hoje...

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