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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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23 de junho de 2011

Analogias de Corpus Christi

Em grande parte do mundo celebra-se hoje a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi). Algumas regiões têm os mesmos festejos transferidos para o próximo domingo. De acordo com a doutrina da Igreja católica, esta festa, estendida pelo papa Urbano IV, em 1264 a toda a Igreja Latina, constitui, por um lado, uma resposta de fé e de culto às doutrinas heréticas acerca do mistério da presença real de Cristo na Eucaristia e, por outro, foi a coroação de um movimento de grande devoção ao augusto Sacramento do altar. A Igreja sempre defendeu o seu direito de manifestar publicamente a própria fé, quer dizer, a sua identidade de um povo reunido em torno de Cristo vivo, realmente presente na Santíssima Eucaristia. A motivação original de responder às heresias do século XIII, ganhou um novo sentido diante da crescente laicização da sociedade moderna. É como dizer ao mundo de hoje: nós, católicos, não concordamos em permanecer trancados em nossas igrejas e, por isso, saímos pelas ruas e praças públicas para manifestar a todos quem somos e em que acreditamos. Uma vez por ano, portanto, tiramos Jesus Eucarístico do sacrário para levá-lo, atravessando cidades e aldeias.

Ora, quem não sabe, o sacrário (ou tabernáculo) é uma espécie de armário, onde fica guardado o Santíssimo Sacramento (as Hóstias consagradas durante a Missa). Seria uma blasfêmia dizer que, na Solenidade de Corpus Christi, o próprio Jesus, sai do armário? Seria um abuso tecer analogias entre a procissão eucarística pelas ruas, com a manifestação pública realizada, também, uma vez por ano e promovida pelas pessoas que vivem a sua realidade de GLBTS? Aqui e ali, trata-se de mostrar o conteúdo das convicções pessoais, ou melhor, o amor que essas ou aquelas pessoas vivem e cultivam. Ambos os grupos não concordam em levar uma vida clandestina e, por isso, fazem questão de manifestar-se publicamente. E essa regra vale tanto para os momentos solenes (procissões e paradas), quanto para todas as manifestações públicas, ainda que feitas individualmente. Assim como um católico pode fazer o sinal da cruz ao passar em frente de uma igreja, do mesmo modo, as pessoas que se amam, têm o direito de expressar o seu afeto em público. A proibição arbitrária desses gestos deve ser vista como intolerância. Sabemos que, na prática, não é bem assim. Enquanto a Igreja protesta contra qualquer legislação que pretenda limitar a sua liberdade religiosa, ela mesma toma atitudes exatamente contrárias quando a questão é a liberdade de expressão do mundo GLBTS.

Observação final [1]: Não concordo com as iniciativas de alguns militantes da diversidade sexual que fazem questão em promover eventos, justamente, nos dias de comemorações religiosas. A ideia de confronto não me soa bem. Por outro lado, não compreendo e não aceito a incoerência daqueles que defendem o seu direito de expressão pública e, ao mesmo tempo, condenam os outros por lutarem pelo mesmo direito.

Observação final [2]: Ao falar sobre analogias, não pretendo dizer que a procissão de Corpus Christi seja a mesma coisa que a Parada do Orgulho Gay. Estou mostrando apenas as motivações e dinâmicas parecidas, bem como a semelhança maior que consiste em manifestação pública do amor. Evidentemente, há diferenças. Na procissão eucarística adoramos a divindade do Filho do Homem. Na parada do orgulho GLBT proclamamos a humanidade dos filhos de Deus.

Leia, também, aqui sobre Jesus que sai do armário.
Outros textos para a Festa de Corpus Christi:

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