ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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22 de junho de 2011

pérolas e porcos


Confesso que sempre quando escrevo aqui, tenho a sensação de um olhar crítico que (supostamente) me acompanha. Aquela sensação (suposição) diminui, ao lembrar-me de que, provavelmente, não tenho tantos leitores assim e, estes que tenho, estão no "mesmo barco", portanto a leitura deles, talvez, não tenha sido tão crítica. Mesmo assim, algo me diz que, caso as minhas reflexões chegassem às pessoas, digamos, "cristãs-ortodoxas" (no sentido de uma adesão incodicional à doutrina oficial da Igreja e não de uma denominação), logo teria recebido as mais duras críticas, relacionadas, sobretudo, ao simples fato de escrever do ponto de vista de um homossexual e católico, mais do que, propriamente, ao conteúdo dos meus textos. Uma das coisas que imagino, desde o dia em que comecei a comentar as leituras bíblicas proclamadas na liturgia, é aquela observação sarcástica de um "alguém" que diria: "Tá vendo! Não tem coragem de falar sobre todos os textos!". O Evangelho de ontem (terça-feira) seria um dos exemplos dessa minha "omissão". Por isso, mesmo tendo passado de meia-noite, recorro às passagens bíblicas do dia que, há pouco, acabou. Não quero me justificar ou tentar explicar qualquer coisa, até porque, não assumi compromisso algum com ninguém sobre isso. Ou seja, não sou (ainda) um colunista em nenhum dos sites ou jornais católicos. Quem sabe, um dia...

Fiquei pensando o dia inteiro sobre as palavras de Jesus que alguém, talvez, gostasse de "jogar na minha cara", justamente, devido ao fato de eu ter "ousado" tocar nos assuntos sagrados. Não deis aos cães as coisas santas, nem atireis vossas pérolas aos porcos; para que eles não as pisem com o pés e, voltando-se contra vós, vos despedacem. (Mt 7, 6) Não tenho a menor dúvida de que existem - e muitos - os católicos e evangélicos "ortodoxos" (não quero usar o termo "fundamentalistas" embora o sentido seja o mesmo) que digam: "Permitir que um gay fale sobre a Bíblia é o mesmo que dar aos cães as coisas santas e atirar pérolas aos porcos". E nem preciso dizer quem seriam esses cães ou porcos (nós, homossexuais, já ouvimos coisas piores a nosso respeito). Permito-me, entretento, propor uma interpretação diferente e a minha argumentação não terá nada inventado, mas vem da própria leitura. Aliás, do conjunto das leituras, conforme a orientação da própria Igreja: A estrutura atual [do Lecionário], além de apresentar com frequência os textos mais importantes da Escritura, favorece a compreensão da unidade do plano divino, através da correlação entre as leituras do Antigo e do Novo Testamento, centrada em Cristo e no seu mistério pascal. Certas dificuldades que se sentem ao querer identificar as relações entre as leituras dos dois Testamentos devem ser consideradas à luz da leitura canônica, ou seja, da unidade intrínseca da Bíblia inteira. Onde se sentir a necessidade, os organismos competentes podem prover à publicação de subsídios que tornem mais fácil compreender o nexo entre as leituras propostas pelo Lecionário, que devem ser todas proclamadas na assembleia litúrgica, como previsto pela liturgia do dia. (Bento XVI, Exortação Apostólica Verbum Domini, n° 57)

Pois bem. É, justamente, no "nexo entre as leituras", que vejo uma pista para esta reflexão. A primeira leitura, tirada do Livro de Gênesis (Gn 13,2.5-18), além de contar sobre a sábia decisão de Abrão (de se separar de Ló, para evitar a discórdia), menciona a cidade de Sodoma e os seus habitantes que eram péssimos, e grandes pecadores diante do Senhor. (v. 13) Faço uma simples pergunta (que vejo, justamente, no conjunto de dois textos): será que insistir em usar as passagens bíblicas, referentes à cidade de Sodoma, como o "martelo dos gays", não é o mesmo que dar as coisas sagradas aos cães e atirar pérolas aos porcos? Só que, neste caso, os cães e os porcos, não são os homossexuais, mas aqueles que os odeiam e perseguem. O uso da Sagrada Escritura para incitar o ódio e o preconceito é ilícito e indigno do nome de cristão. À luz dessa observação, ganham um novo sentido as palavras de Jesus da mesma leitura do Evangelho: Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas. (v. 12) Você quer ser respeitado? Respeite! Até as frases seguintes podem ajudar aos cristãos a compreenderem e aceitarem a diversidade dos outros, por mais estreita seja a porta e apertado o caminho, o ato de acolher os irmãos "diferentes", leva à vida! (cf. v. 14)

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