Confesso que as traduções do termo grego Paráclito, sempre me deixavam um tanto insatisfeito.
Beato João Paulo II, em sua Encíclica Dominum et vivificantem (aqui), diz: O evangelista São João, que estava presente, escreve que, durante a Ceia pascal no dia anterior à sua paixão e morte, Jesus se dirigiu a eles com estas palavras: «Tudo o que pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho ... Eu pedirei ao Pai, e Ele vos dará um outro Consolador, para estar convosco para sempre, o Espírito da verdade». É precisamente a este Espírito da verdade que Jesus chama o Paráclito — e Parákletos quer dizer «consolador», e também «intercessor», ou «advogado». E diz que é «um outro» Consolador, o segundo, porque ele mesmo, Jesus Cristo, é o primeiro Consolador, sendo o primeiro portador e doador da Boa Nova. (n° 3) A Bíblia Ave Maria, no rodapé referente a Jo 14, 16, diz: Paráclito, palavra grega muitas vezes traduzida por consolador, mas que significa realmente auxílio, sustentáculo, intercessor. A Bíblia da CNBB, por sua vez, explica o mesmo termo assim: Defensor, em grego ‘Paráclito’, termo da linguagem jurídica (advogado de defesa), no contexto do “processo” do mundo contra os fiéis. Cardeal Tarcisio Bertone, numa homilia (aqui), disse que a palavra grega παρακλητος é traduzida com termos que se iluminam reciprocamente: advogado defensor, consolador, socorrista. Eu sei que o advogado defende o seu cliente, intercede por ele e o socorre, trazendo-lhe com isso uma consolação. Termos que – como diz cardeal Bertone – iluminam-se reciprocamente, não são, entretanto, sinônimos no sentido exato.
Um dia desses ouvi uma pregação na qual o padre deu uma explicação bastante enriquecedora (que, aliás, ele deve ter encontrado aqui). Ainda que o pregador não tenha mencionado a fonte de tais afirmações (o site também não), achei a ideia interessante. A palavra Paráclito vem do grego e significa mais ou menos "aquele que fica ao lado". Este termo era usado nos tribunais. Naquela época os acusados não tinham advogados de defesa. Eles mesmos precisavam se defender sozinhos e conseguir testemunhas que pudessem comprovar a sua inocência. Acontecia, porém, que muitas dessas pessoas, mesmo sendo inocentes, não conseguiam provar que o eram, ou porque suas testemunhas eram "fracas", assim como seus argumentos. Muitos deles eram condenados injustamente. Ocorria, porém, que essa situação podia ser mudada. Caso houvesse alguém presente na assembléia, que fosse uma pessoa com uma fama irrepreensível, considerada como totalmente verdadeira e honesta, isenta de qualquer erro, esta pessoa podia interceder por quem estava sendo acusado. Deste modo, esta pessoa com uma excelente fama levantava-se e ia ao encontro do acusado, colocando-se ao seu lado, sem dizer sequer uma palavra. Ficava em silêncio, mas sua presença, com sua fama honesta e verdadeira, bastavam como uma garantia de que o acusado era inocente. Não precisava dizer nada. Esta pessoa era conhecida nos tribunais como PARÁCLITO, ou seja, como aquele "que se colocava ao lado" e que intercedia.
Achei esta explicação sensacional, porque engloba advogado, defensor, intercessor, mediador, sustentáculo, consolador e muitas outras coisas. A promessa de Jesus de enviar o outro Paráclito ganha o sentido, sem dúvida, mais profundo.
Há mais uma pista nesta reflexão. O pregador do Papa (da Casa Pontifícia), padre Raniero Cantalamessa, propõe-nos um desafio (aqui): No Evangelho Jesus fala aos discípulos sobre o Espírito usando o termo "Paráclito", que significa consolador, ou defensor, ou as duas coisas. (...) Devemos agora tirar disso uma conseqüência prática para a vida. Temos de nos converter em paráclitos! Ainda que é certo que o cristão deve ser "outro Cristo", é igualmente certo que deve ser "outro Paráclito". (...) A frase do Apóstolo aos cristãos de Tessalônica: "Confortai-vos mutuamente" (1Ts 5, 11), literalmente se deveria traduzir: "sede paráclitos uns dos outros". Acrescento mais uma coisa. Jesus disse que devemos ser perfeitos como o nosso Pai do céu é perfeito (cf. Mt 5, 48). E nós, que fomos criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26-27), temos a necessidade, gravada em nossa natureza, de “estar ao lado do outro”. E isso diz respeito a todos os homens e mulheres, sejam hetero ou homossexuais. O "estar ao lado do outro" é a realização plena de todo ser humano. A questão agora é de nos tornarmos cada vez mais perfeitos nisso.
Excelente pesquisa e explicação do termo Paráclito! Me ajudou muito! Obrigado!
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