ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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17 de junho de 2011

olho doente

O olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho é sadio, todo o teu corpo ficará iluminado. Se o teu olho está doente, todo o corpo ficará na escuridão. Ora, se a luz que existe em ti é escuridão, como será grande a escuridão. (Mt 6, 22-23)

Depois da última postagem (aqui) fiquei inquieto por não ter comentado mais sobre aquele artigo do cardeal Scherer (aqui). A primeira ideia que me vinha era a respeito da arte de escrever. O texto pode estar dentro dos padrões de gramática/linguística, teologia e até - quem sabe - lógica. Mas, ao mesmo tempo, pode ser altamente antipedagógico. Os professores de língua portuguesa, os teólogos e os profissionais em direito, podem se debruçar sobre tal redação e dizer que tudo está em ordem. Quando, porém, um "leitor comum" lê aquilo, as coisas ficam diferentes. Um redator sábio e respeitador da pessoa do leitor, pensa nos efeitos de sua própria erudição e não usa truques baratos de lavagem cerebral (leia sobre isso aqui). O que dizer sobre a frase na qual Dom Odilo põe na mesma linha (equipara): amor possessivo, ciumento, irresponsável diante das consequências, anárquico, promíscuo, violento, sádico, devasso, egoísta, comprado ou vendido, contrário à natureza? Um dos truques que revelam má fé é colocar o termo mais importante no final da frase. Acrescente ainda o contexto geral do artigo - a condenação da Parada Gay de São Paulo pelo uso das palavras de Jesus "Amai-vos uns aos outros" - e você terá o perfil completo do autor e a intenção real para escrever tais coisas. O problema é o mesmo que Jesus aponta no Evangelho de hoje: Se o teu olho está doente, todo o corpo ficará na escuridão. Ora, se a luz que existe em ti é escuridão, como será grande a escuridão. Ninguém duvida que, ao falar do "amor contrario à natureza", o cardeal tenha se referido aos homossexuais. Ainda que não concordemos com tal conceito (debatido veementemente pela ciência), vamos tolerá-lo por um instante, para perceber o pecado ainda mais grave. Apresentar a lista que comporta - e tem intenção de igualar - o amor homossexual com amor possessivo, ciumento, irresponsável diante das consequências, anárquico, promíscuo, violento, sádico, devasso, egoísta, comprado ou vendido, é um ato anticristão e desumano. Os bajuladores do cardeal, juntamente com os católicos ingênuos de um lado e, de outro, os preconceituosos homofóbicos, acabam de receber mais uma arma para odiar e agredir os homossexuais. A esperteza do autor do texto consiste em falar muito mais nas entrelinhas do que literalmente. Já imagino aquele sorriso cínico e a resposta: "mas eu nem usei a palavra homossexual!".

Não sei até quando vamos suportar as autoridades (religiosas, políticas, etc.) que nos acham idiotas. Pior que, enquanto tenhamos como dar (ou não) o voto de confiança a um representante político do povo, não podemos fazer o mesmo em relação às autoridades eclesiásticas. Por isso temos prelados que, não raramente, mostram-se possessivos, ciumentos, irresponsáveis diante das consequências, anárquicos, promíscuos, violentos, sádicos, devassos, egoístas - pelo menos seus sermões e artigos, pois é Deus (e só Ele) quem julga a sua vida pessoal e a sua consciência. E se alguém usurpa para si o direito de julgar o meu amor, é porque os seus olhos estão doentes (cf. Mt 6, 22).

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