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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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11 de janeiro de 2011

Homossexuais e Eucaristia (2)

Na postagem anterior sobre este assunto (aqui) citei a opinião do então Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Ratzinger (atual Papa Bento XVI). Mais precisamente, o texto refere-se à situação dos "casais de segunda união" (casados na igreja, depois divorciados e casados novamente, sem o Sacramento do Matrimônio). Temos, portanto, uma analogia entre esses casais e as pessos homossexuais que vivem, também, numa união não reconhecida pela Igreja como legal (legítima). Um ponto de vista bastante diferente sobre a relação entre "tais pessoas" e a Eucaristia, apresenta o padre jesuíta Matthew Linn, no livro escrito em conjunto com o seu irmão Dennis e a cunhada Sheila Fabricant Linn ("Abuso espiritual & vício religioso"; Editora Verus, Campinas-SP, 2000; p. 76-77 e 136). Estes três autores formam uma equipe de pregadores de retiros e escritores (outros livros deles: "Cura dos oito estágios da vida" e "Não perdoe cedo demais", da mesma editora) - sempre no contexto (com aprovação, supõe-se) da Igreja Católica. Embora o texto não fale (de novo), literalmente, sobre os homossexuais, podemos facilmente e sem exagero algum, inclui-los na lista de "casos" mencionados. Resta agora apenas uma reflexão pessoal de cada homossexual que se identifica (apesar de todas as dificuldades) com a Igreja Católica.
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[Padre Matthew Linn, jesuíta]: Durante anos segui ao pé da letra a lei que recebessem a comunhão somente aqueles que reconhecessem a autoridade do papa, não fossem divorciados e não estivessem em pecado mortal. Eu negava comunhão a uma parte do corpo místico de Cristo, embora afirmasse durante a comunhão que me tornava um com o corpo de Cristo. Ignorei o fato de Jesus ter dado comunhão a Judas e de nós chegarmos como pessoas feridas, rezando: “Dizei uma só palavra e serei salvo.” Hoje acredito que a Eucaristia é um sacramento de salvação para ser recebido em resposta ao amor de Deus, não como medalha de honra ao mérito do amor de Deus conseguido através de boas ações. O rebelde em mim quer deixar de lado a letra da lei e agir de acordo com uma lei de amor mais elevada (cf. Mt 22, 34-40). Mas a criança responsável e obediente em mim tem medo de desconsiderar a lei. Sou tentado a obedecer por medo e acho difícil pôr de lado a lei e, com amor, convidar todos para a comunhão. Obedeço por medo, porque não quero arriscar ser censurado pelos bispos e outras autoridades da Igreja. Como é que posso então amar com minha energia rebelde e ainda manter satisfeita minha criança obediente e responsável? Nos nossos retiros, quando me perguntam sobre a comunhão, cito duas regras, dizendo: “Temos uma regra que não permite que eu publicamente convide a todos para receber a comunhão. Temos outra regra (eu sorrio) que me diz para não recusar comunhão a ninguém que venha recebê-la. Faça o que você acredita que Jesus quer que você faça.” Aposto que você pode adivinhar o que acontece. Rezo pelo dia em que essas regras farisaicas acabem sendo postas de lado. Até lá, isso é o melhor que posso fazer, porque ainda sou uma criança responsável em processo de cura, assim como é o resto da Igreja. (p. 76-77)
Através dos séculos, quando os cristãos recebem a Eucaristia, as palavras permanecem as mesmas: “O Corpo de Cristo”, às quais a pessoa que comunga responde: “Amém”. Santo Agostinho lembrou às pessoas que comungam que “amém” quer dizer: “Sim, eu sou”. Ao dizer “amém”, o comungante faz a afirmação mais radical possível para um cristão, ou seja: “Sim, eu sou o corpo de Cristo”. Até o nome “cristão”, que vem de alter Christus (outro Cristo), declara: “Sim, eu sou o corpo de Cristo”. Durante os primeiros séculos da Igreja, todos os cristãos, e não somente os padres, eram considerados e reconhecidos como aqueles cuja identidade mais profunda era aquela do alter Christus. Porque nossa mais profunda identidade é Cristo (cf. Gal 2, 20), nossa resposta à lei canônica, à autoridade da Igreja ou a qualquer situação da vida reflete nosso verdadeiro eu, até o ponto de podermos dizer (...): “Eu fiz o que Jesus teria feito!” (p. 136)
(Matthew* Linn, Sheila Fabricant Linn, Dennis Linn; “Abuso espiritual & vício religioso”; Editora Verus, Campinas, SP, 2000) * Matthew é sacerdote jesuíta.

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