Embora a comemoração do Dia da Criança, aqui no Brasil, tenha a data marcada para 12 de outubro, é hoje que a maioria dos países do mundo presta homenagem aos pequeninos (confira aqui). No contexto de reflexões sobre a homossexualidade, raramente o nosso pensamento se volta à criança como sujeito, digno de atenção. Em vez disso, muitos enxergam nela apenas o objeto/alvo de disputa, como acontece na briga pelo kit-antihomofobia, ou em polêmica sobre a adoção de crianças por casais homoafetivos. O assuto "criança" entra em pauta, evidentemente, quando falamos sobre a pedofilia. Tudo isso é importante, mas onde é que fica a contribuição ativa da própria criança? Lembro-me de um ditado que dizia: "Peixes e crianças não têm a voz". Que pena! Sei que é um assunto extremamente delicado, por isso proponho a reflexão de alguém que já era criança (como todos nós) e, justamente no período de infância, experimentava os primeiros sinais de sua homossexualidade. O texto completo encontra-se no blog "Papai Gay" (aqui). Entre outras coisas, o Autor diz: Criança gay não é como Papai Noel: EXISTE! Para quem duvida, vou esclarecer. De onde vieram todos os gays que vemos por aí? De outro planeta? Já nasceram adultos? Eram hoterosexuais até o fim da adolescência? (...) Desde muito novo, lá pelos meus 5 ou 6 anos eu já havia me dado conta que era gay. Sabia exatamente o que isso significava: ser atraído pelo mesmo sexo. Eu me apaixonava pelos amiguinhos, pelos amigos do meu pai, pelos porteiros, mas é claro, tudo dentro da inocência e cabeça de uma criança. Sentia vontade de ver homens pelados, como eu acredito que as crianças heteros sentem vontade de ver peitos e revistas de mulheres peladas escondido. Lembro bem da revista de homens nus que minha empregada tinha, eu já estava com 8 anos, e devorava cada foto da mesma. Qual a conclusão? Eu era uma criança gay! Nada mudaria essa verdade.
O texto acima, carregado de emoção, encontra respaldo nos argumentos profissionais. Kimeron N. Hardin, doutorado em psicologia, diretor do Centro de Combate à Dor da Universidade em São Francisco, escreve em seu livro "Auto-estima para homossexuais. Um guia para o amor próprio" (Editora Summus, São Paulo, 2000): Muitos adultos gays e lésbicas lembram de terem se sentido desdenhados, de maneira direta ou não-verbal, devido à sua atração por pessoas do mesmo sexo. Mesmo que a sua família não tenha discutido abertamente a questão da sua homossexualidade, ou até mesmo da sexualidade em geral, você provavelmente conhecia a postura da sua família sobre essas questões e aprendeu a esconder esses sentimentos. O reconhecimento precoce por parte de uma criança de sua atração por pessoas do mesmo sexo, numa família ou cultura sem atitudes tolerantes em relação a essa orientação, pode fazer com que a criança desenvolva uma fragmentação de sua identidade, criando uma pública e outra privada ou secreta. (...) As crianças gays e lésbicas têm uma probabilidade muito maior de fugir de casa e até de tentar o suicídio do que seus correlatos hetrossexuais, provavelmente para escapar de um sistema familiar disfuncional que resiste à noção de uma criança com uma identidade que não se adapta a ele. (...) Crianças gays e lésbicas sadias frequentemente aprendem a compartimentar as suas vidas, guardando suas partes secretas (sua sexualidade) bem lá no fundo. Elas desenvolvem um exterior conformista, que segue as regras do sistema familiar e lhes permite funcionar numa relativa segurança, até serem capazes de se mudar para um ambiente mais saudável ou que as aceite melhor. (p. 43 e 47)
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