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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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5 de junho de 2011

Ascensão é o parto

Todos sabem que uma das principais características do parto normal bem-sucedido é a posição correta do bebê no útero materno. Na linguagem dos médicos fala-se de apresentação cefálica, ou seja, quando a criança nasce de cabeça. Quem deu à luz ou, ao menos, assistiu uma cena dessas, lembra-se daquela voz animada do médico que, em algum momento disse: “Já estou vendo a cabeça! Daqui a pouco vem o resto!”.

Hoje, na liturgia da Ascensão do Senhor, ouvimos a conhecida expressão sobre Cristo que é a Cabeça da Igreja: [Deus] pôs tudo sob seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja. (Ef 1, 22); Ele, nossa cabeça e princípio, subiu aos céus, não para afastar-se de nossa humanidade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade. (Prefácio da Ascensão do Senhor I). É nos textos de Paulo Apóstolo que encontramos essa simbologia, por exemplo: vivendo segundo a verdade, no amor, cresceremos sob todos os aspectos em relação a Cristo, que é a cabeça. (Ef 4, 15); Ele é a Cabeça do corpo, que é a Igreja (Col 1, 18). Na I Carta aos Coríntios encontramos a alegoria da Igreja, revelada na imagem de um corpo: Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo. (1Cor 12, 12) Lembrando, ainda, outra frase de Paulo: sabemos que toda a criação, até o presente, está gemendo como que em dores de parto (Rm 8,22), o mistério da Ascensão do Senhor ganha um novo sentido. Podemos dizer assim: a nossa existência no mundo é como a gestação, na qual preparamo-nos para uma vida plena na eternidade. Quando (um dia que só Deus sabe) saímos daqui, somos como um bebê que sai do ventre materno. No contexto da fé cristã, isso se refere, em primeiro lugar, às pessoas unidas pelo batismo e pela fé, mas também à humanidade inteira. Neste contexto podemos recorrer à doutrina do Concílio Vaticano II que fala sobre a Igreja que, de diversas maneiras, engloba todos os seres humanos: Todos os homens são chamados a esta unidade católica do Povo de Deus, a qual anuncia e promove a paz universal; a ela pertencem, de vários modos, ou a ela se ordenam, quer os católicos quer os outros que acreditam em Cristo quer, finalmente, todos os homens em geral, pela graça de Deus chamados à salvação. (Lumen gentium, n° 13 [leia aqui esta Constituição dogmática, especialmente o capítulo II]).

Com muita simplicidade (talvez exagerada!), imagino o Pai do céu que, na hora da ascensão de Jesus, disse: “Já estou vendo a cabeça! Daqui a pouco vem o resto!”

Quero dizer que uma ideia dessas não é o assunto apenas para teólogos, mas implica consequências bastante concretas e práticas, importantes para o nosso dia-a-dia. Em primeiro lugar, abre diante dos nossos olhos a perspectiva da eternidade, revela o verdadeiro sentido da vida. Com ela aprendemos a amar, não desmoronamos no sofrimento e não desanimamos na hora de lutar. O outro nome dessa perspectiva da eternidade é a esperança. Pois bem, vou dizer mais, sobretudo para quem enxerga a eternidade como algo vago e distante e para quem considera o assunto uma bobagem. A visão da Igreja, enquanto o corpo de Cristo, compromete-nos seriamente já aqui e agora. Como? Vejamos, então, como o Apóstolo Paulo desenvolve o tema. O corpo não é feito de um membro apenas, mas de muitos membros. Se o pé disser: “Eu não sou mão, portanto não pertenço ao corpo”, nem por isso deixa de pertencer ao corpo. E se o ouvido disser: “Eu não sou olho, portanto não pertenço ao corpo”, nem por isso deixará de pertencer ao corpo. Se o corpo todo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se o corpo todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? De fato, Deus dispôs os membros, e cada um deles, no corpo, conforme quis. (...) O olho não pode dizer à mão: “Não preciso de ti”, nem a cabeça dizer aos pés: “Não preciso de vós”. Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. (1Cor 12, 14-18. 21. 26) Deu para perceber? Somos membros do mesmo corpo e é uma loucura desprezar a quem quer que seja só porque é diferente. A diversidade das partes do corpo é a sua riqueza. E, ainda que isso nem sempre fique tão claro, ou não tenha uma explicação suficiente, a verdade é que um membro precisa do outro. E isso vale especialmente para aqueles que assumem a fé cristã.

Nesta semana, aqui no Brasil, somos convidados a orar e trabalhar pela unidade dos cristãos. E quando tivermos superado mágoas, atipatias e animosidades mútuas, vamos pedir a Deus por todos os cristãos católicos, cristãos protestantes, cristãos ortodoxos e tantos outros mais. Por que não incluir aqui a prece pela aproximação entre cristãos heterossexuais e cristãos homossexuais? Vamos tentar dar este primeiro passo dentro do âmbito cristão para, depois, sair em direção à sociedade inteira e dizer: somos membros do mesmo corpo e eu preciso de você, assim como você precisa de mim...

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