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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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18 de maio de 2011

Sodoma - uma evolução

Há três semanas, o Papa Bento XVI, iniciou uma nova série de catequeses, proferidas - de costume - em todas as quartas-feiras no Vaticano. O tema deste novo cíclo é a oração. Hoje (18/05), o Papa dedicou o seu discurso à figura de Abraão, como modelo de intercessor, no contexto de sua oração pelas cidades de Sodoma e Gomorra (cf. Gn 18). O texto, na íntegra, pode ser encontrado no site da Canção Nova (aqui), pois o portal do Vaticano publica, no momento, apenas um resumo. O que chama minha atenção é o fato de não haver no texto qualquer menção, nem mesmo alusão, que associasse o pecado dos habitantes daquelas cidades à homossexualidade. Vale lembrar que o Catecismo da Igreja Católica (redigido sob o comando do então Prefeito da Congregação Para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI), no número 2357, faz essa associação, ao dizer: Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a Tradição sempre declarou que «os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados» (a nota, no rodapé, menciona, entre outros textos, Gn 19, 1-29 [a destruição de Sodoma e Gomorra]). E na Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre o atendimento pastoral das pessoas homossexuais (aqui), assinada pelo mesmo Cardeal Ratzinger, lemos a seguinte afirmação: O deterioramento devido ao pecado continua a desenvolver-se na história dos homens de Sodoma (cf. Gn 19, 1-11). Não pode haver dúvidas quanto ao julgamento moral aí expresso contra as relações homossexuais. (n° 6) O curioso da catequese de hoje é que o Santo Padre, ao falar sobre a mesma história bíblica, limita-se a seguintes termos:
- narra-se que a malvadeza dos habitantes de Sodoma e Gomorra havia chegado ao seu ápice, tanto que se tornou necessário uma intervenção de Deus para realizar um ato de justiça e parar o mal, destruindo aquelas cidades
- Deus decide revelar-lhe [a Abraão] aquilo que está para acontecer e lhe faz conhecer a gravidade do mal e as suas terríveis consequências
- o pecado (...) invadiu a realidade do homem 
- Abraão compreende imediatamente o problema em toda a sua gravidade
- se a cidade é culpável, é justo condenar o seu crime e infligir a pena
- Com a sua oração, portanto, Abraão não invoca uma justiça meramente retributiva, mas uma intervenção de salvação que, tendo em conta os inocentes, liberte da culpa também os ímpios, perdoando-os
- não se podem tratar os inocentes como os culpáveis
- se os malfeitores aceitam o perdão de Deus e confessam as culpas deixando-se salvar, não continuarão mais a fazer o mal, tornar-se-ão também esses justos, sem mais necessidade de serem punidos
- A destruição de Sodoma devia parar o mal presente na cidade
- É o perdão que interrompe a espiral do pecado
- O mal, de fato, não pode ser aceito, deve ser assinalado e destruído através da punição: a destruição de Sodoma tinha exatamente essa função
- nem mesmo dez justos se encontravam em Sodoma e Gomorra, e as cidades foram destruídas
- as cidades estavam fechadas em um mal totalizante e paralisante
- é dentro da realidade doente que deve estar aquela semente do bem que pode curar e restituir a vida

Pois bem, há quem diga: "O Papa não falou sobre o homossexualismo porque todo mundo sabe que se trata disso mesmo!" Além de preferir o termo "homossexualidade" (em vez daquele "-ismo"), eu não concordo com essa ideia. Ao evitar aquela infeliz associação de Sodoma com a homossexualidade, o Papa - pelo menos - abre espaço para outras interpretações, ou seja, volta à leitura objetiva (imparcial) da Bíblia. No contexto um pouco diferenta (mas no mesmo texto da catequese), Bento XVI usa seguintes termos: "Se lemos, no entanto, mais atentamente o texto, damo-nos conta de que...". É, exatamente, isso! Ler mais atentamente, para darmo-nos conta de que a passagem bíblica em questão não faz a mesma associação que os fundamentalistas homofóbicos fazem. Este, aliás, é o convite que o Papa dirigiu, no final da catequese de hoje, aos peregrinos de língua portuguesa: Convido-vos a aproveitar o percurso que faremos nas próximas catequeses para conhecer melhor a Bíblia, que tendes – penso eu – em casa. Durante a semana, parai um pouco a lê-la e meditá-la na oração para aprenderdes a história maravilhosa da relação entre Deus e o homem: Deus que Se comunica a nós, e nós que Lhe respondemos rezando. Sereis assim uma bênção no meio dos vossos irmãos, como foi Abraão. A Virgem Mãe vos guie e proteja!

Um comentário:

  1. Você capturou muito bem essa omissão muito significativa do papa. Sensacional! :-)
    Abs!

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