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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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30 de maio de 2011

o nó no lencinho



Lembro-me de um costume da minha avó. Era algo que, aparentemente, beirava o mundo de mágica ou superstição (pelo menos essa foi a percepção que tive naquela época, sendo um garoto de 10 anos). Ela fazia um nó na ponta do lenço – para não esquecer – como dizia. Nunca mais me esqueci disso, quer dizer, funcionou pelo menos neste caso! Trago aqui essa recordação para meditar um pouco sobre a festa de Pentecostes.

Estamos no final do tempo pascal e a nossa atenção volta-se aos preparativos para esse dia importante que, aliás, já existia na tradição dos judeus, séculos antes do nascimento de Jesus, como o festival da colheita. O nome grego (Pentecoste[s] / πεντηκοστή), conservado quase intacto também em nosso idioma, significa literalmente “quinquagésimo dia” (depois da Páscoa). No calendário dos judeus, são 50 dias depois do Êxodo (a libertação da escravidão egípcia) e a festa comemora, além da colheita, também a entrega do Decálogo (10 mandamentos) no Monte Sinai. Para nós, cristãos, é a comemoração da descida do Espírito Santo sobre apóstolos, reunidos com Maria, a Mãe de Jesus e com outros discípulos no Cenáculo. O dom anunciado por Jesus manifestou-se nesse dia em forma de vento forte e línguas de fogo que repousaram sobre cada um (cf. At 2, 1-41). Por sua vez, o nome “Cenáculo”, de origem latina, denomina o local onde foi realizada a Última Ceia. É o mesmo lugar em que tinham sido entregues os mandamentos a Moisés: o Monte Sião (na época de Moisés, em meio ao deserto; nos tempos de Jesus e até hoje, dentro da cidade santa de Jerusalém). Revela-se, também dessa maneira, o maravilhoso plano de Deus que ama o seu povo e, a partir de uma só nação, acolhe toda a humanidade. A festa cristã de Pentecostes é, de certo modo, a celebração do nascimento da Igreja que, existindo – digamos - em forma embrionária, em Jesus e no grupo de seus seguidores, tinha sido “dada à luz”, 50 dias depois da ressurreição de Cristo. Ao longo dos séculos, os cristãos concluem o período de celebração da Páscoa com intenso clamor: “Vinde, Espírito Santo!”. E Ele vem, com toda certeza, pois o dia da festa é, sobretudo, o momento da graça. Mas, é necessário lembrar, justamente nesse dia solene, que o Espírito Santo vem em todos os outros 364 dias do ano. A Igreja celebra periodicamente as solenidades, festas e memórias litúrgicas. Seja anualmente, como é o caso de Pentecostes (Natal, Páscoa, Ascensão do Senhor, etc.), seja semanalmente, como acontece em todo domingo, chamado também, a “Páscoa semanal”. A finalidade dessas celebrações pode ser resumida em três elementos: o culto prestado a Deus, a renovação da nossa fé e o aprofundamento de nossa compreensão dos mistérios divinos. A graça, em si, está sendo derramada permanentemente e não apenas no dia da festa. É importante lembrar-se disso, para viver o ano todo, a ressurreição de Cristo, assim como o seu nascimento ou, então, o derramamento do Espírito Santo. Há quem reze pela vinda do Espírito Santo apenas no dia de Pentecostes, enquanto deveria fazê-lo sempre.

A festa é como aquele nó na ponta do lencinho da minha avó. É para não se esquecer. Exatamente o mesmo acontece com centenas de comemorações anuais, também na sociedade laica. O homem que compra flores para uma mulher do dia 8 de março, mas desrespeita a mesma mulher todos os outros dias do ano, não entendeu nada da mensagem do Dia da Mulher. Também as suas flores não valem nada. E quem comemora, por exemplo, o Dia Internacional de Combate à Homofobia (17/05), mas, todo o resto do ano, não mexe um dedo sequer, pela mesma causa, também não entendeu nada. Neste caso, seria melhor nem comemorar.

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