O documento da Santa Sé (de 2003), assinado pelo então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Joseph Card. Ratzinger (atual Papa Bento XVI), “Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais” (aqui), afirma: Não existe nenhum fundamento para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimônio e a família. Não pretendo entrar, hoje, no mérito da frase, tampouco de todo este documento. Faço, entretanto, uma pergunta, inspirada no termo "equiparar" em conjunto com a mensagem litúrgica desta segunda-feira (a 1ª leitura relata o martírio de Estêvão: At 7,51-8,1a). De acordo com o Dicionário do Aurélio (on-line), "equiparar", significa: Comparar pessoas ou coisas, considerando-as iguais. / Igualar em condições ou em benefícios. Pois bem. O documento da Igreja diz que as uniões homossexuais - nem por analogias remotas - podem ser comparadas/igualadas ao matrimônio (deixo a discussão para outra hora, assinalando apenas que tenho sérias dificuldades para concordar com isso). A minha pergunta é: a perseguição e a morte de homossexuais, por causa de sua orientação sexual, podem ser equiparadas ao martírio de Estêvão (e de tantos outros mártires venerados pela Igreja)? Já ouço vozes que gritam: "Blasfêmia!" Vamos, então - desta vez - à fonte ainda mais legítima, do que um simples dicionário. O Catecismo da Igreja Católica diz: O martírio é o supremo testemunho dado em favor da verdade da fé; designa um testemunho que vai até à morte. O mártir dá testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, ao qual está unido pela caridade. Dá testemunho da verdade da fé e da doutrina cristã. Suporta a morte com um ato de fortaleza. (n° 2473) Por que razão, os homossexuais, travestis e tantos outros, estão sendo perseguidos, agredidos e assassinados? Por serem fiéis à verdade sobre si mesmos! Por amarem, do jeito que amam! Encontramos na Palavra de Deus as seguintes revelações: [Jesus respondeu:] Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. (Jo 18,37) e Eu sou o caminho, a verdade e a vida. (Jo 14,6), ou então, Deus é amor. (1Jo 4, 8) Será, de fato, uma blasfêmia, chamar de mártires, aqueles que sofrem e morrem por amor e pela verdade? Para nós, potenciais mártires (...portanto, vigiai, pois não sabeis o dia, nem a hora! [Mt 25, 13]), fica a preciosa lição, deixada pelo Santo Estêvão: Enquanto o apedrejavam, Estêvão clamou dizendo: “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito”. Dobrando os joelhos, gritou com voz forte: “Senhor, não os condenes por este pecado”. E, ao dizer isto, morreu. (At 7, 59-60)
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