ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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22 de maio de 2011

Quem me vê

Disse Felipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!” Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Felipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim?" (Jo 14, 8-10a) Há um tempo, escrevi alguma coisa sobre o pedido de Felipe (aqui). Hoje proponho a reflexão sobre a resposta de Jesus: Quem me viu, viu o Pai. Podemos ler esta frase no contexto das palavras do Prólogo de João: A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigênito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer (Jo 1,18). Em primeiro instante, parece ser uma contradição, mas não é. Podemos dizer assim: Deus que nos criou à SUA imagem e semelhança, revela-se, em Jesus, à NOSSA imagem e semelhança. E isso não quer dizer que Ele seja "só isso" (por mais belo que Jesus tenha sido). Trata-se, sobretudo, de um modo de olhar. É a questão de COMO se vê e não apenas O QUÊ se vê. Aliás, Deus ensina o homem a olhar assim já bastante tempo. No Antigo Testamento temos, por exemplo, a história de Samuel que foi enviado a Belém para escolher o sucessor do rei Saul. O profeta ficou fascinado com a formosura dos rapazes, filhos de Jesse, vendo-os desfilarem na sua frente. Mas o Senhor disse-lhe: “Não te impressiones com a sua aparência, nem com a sua grande estatura; não é este que eu quero.. Meu olhar não é o dos homens: o homem vê a aparência, o Senhor vê o coração”. (1Sm, 16, 7) Já sabemos de onde Antoine de Saint-Exupéry titou a inspiração, para escrever, no "Pequeno Príncipe": Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer. E Jesus, ao censurar os seus oponentes, referia-se também a este fenômeno: Tendo olhos, não enxergais (cf. Mc 8, 18). E disse aos seus seguidores: O olho é a lâmpada do corpo. Se teu olho é são, todo o corpo será bem iluminado; se, porém, estiver em mau estado, o teu corpo estará em trevas. Vê, pois, que a luz que está em ti não sejam trevas. Se, pois, todo o teu corpo estiver na luz, sem mistura de trevas, ele será inteiramente iluminado, como sob a brilhante luz de uma lâmpada. (Lc 11, 34-36) Embora a interpretação mais exata indique o olho que pertence ao próprio corpo, a conexão "olho - corpo", pode ser estendida, também, a outras pessoas, o que parece sugerir o início do texto: Se teu olho é são, todo o corpo será bem iluminado. Todo e qualquer corpo é iluminado quando o nosso olhar é sadio. Vemos aqui uma solução, tanto para os males de cobiça puramente carnal, quanto para todo tipo de preconceito que se inspira naquilo que vemos (o racismo é um exemplo "clássico", por ter a cor da pele como diferencial). Lembro-me, neste contexto, de uma confissão que fiz, há vários anos, na época das minhas descobertas (e primeiras experiências) homossexuais. Para começar a conversa "temática", disse ao sacerdote (que já me conhecia): "Padre, eu tenho tendências homossexuais". Ele respondeu: "Nossa! Você nem parece ter esse problema". Pois é, pelo menos no meu caso, "o essencial é invisivel aos olhos". Por algum motivo, não tenho os famosos "trejeitos efeminados". Inspirado nas palavras de Jesus ("quem me viu, viu o Pai"), pergunto: quem me vê, vê o quê (ou quem)? E, mesmo se tivesse tais trejeitos, seria visto de que maneira? Tenho consciência de ser impotente perante o modo com o qual os outros me enxergam. O que posso (e devo) fazer, é aprender a ver além das aparências. Percebo certa analogia da frase "quem me viu, viu o Pai", com a outra de Jesus, que diz: Quem receber em meu nome esta criança, estará recebendo a mim mesmo. E quem me receber, estará recebendo Aquele que me enviou. (Lc 9, 48) Entre "receber" e "perceber" não há tanta diferença. Por isso digo: o ideal é que eu, ao olhar alguém, veja Jesus e, vendo-o, enxergue o próprio Pai. Assim serei capaz de amar. Amar de verdade. Se, em vez disso, eu me apaixonar apenas pelo corpo de alguém, tal paixão terá somente um destino: a frustração. E se eu despresasse alguém, devido à sua homossexualidade, ou então, ao seu  jeito efeminado (como, inclusive, muitos gays declaram e fazem), não mereceria ser considerado  um seguidor de Cristo.

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