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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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24 de maio de 2011

Mandamentos de Jesus

Já começou terça-feira, mas eu ainda estou com o Evangelho de ontem na cabeça. Demorei,  porque fui jantar, numa churrascaria, com um amigo (aquele que, há uns anos, era mais do que amigo). Provavelmente ninguém vai acreditar, mas conversamos - entre outras coisas - sobre os pecados capitais, tais como a preguiça ou a gula, o que, naquelas circunstâncias, teve a sua base existencial. Enfim, além de barriga cheia demais, fiquei com a conclusão de que o "ex" é "ex" mesmo e não adianta insistir (desta vez nem tentei). Os nossos mundos se distanciaram. Sobrou uma amizade que talvez sobreviva ainda por muito tmpo, mas já posso notar os efeitos daquela distância crescente entre os nossos mundos.

Vamos, então, ao Evangelho de ontem. Jesus disse: Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele. (Jo 14,21-26). Fiquei pensando, quais são, exatamente, os mandamentos de Jesus? Ah, sim, os mandamentos de Deus (o Decálogo), pois Jesus é Deus. A resposta seria somente esta, ou há algo mais? Em seu ensinamento, o Senhor fez várias referências aos 10 mandamentos que Deus tinha transmitido ao Povo de Israel por intermédio de Moisés. Ao jovem que queria saber como alcançar a vida eterna, Jesus disse: "Guarda os mandamentos", indicando-os como base para uma decisão mais corajosa: vender tudo, distribuir entre os pobres e seguir o Mestre (cf. Mt 19, 16-22; Mc 10, 17-22; Lc 18, 18-23). Em outra ocasião, Jesus dedicou longo discurso ao entendimento mais profundo de alguns mandamentos (cf. Mt 5, 17-48). Enquanto, neste caso, podemos dizer que Jesus tenha "apertado o parafuso", muitas vezes chegou a ouvir duras críticas dos fariseus e mestres da lei, justamente, por ter "afrouxado" o mesmo parafuso. Numa visão geral, Jesus podia ser visto, tanto como um conservador, quanto um liberal. Com outras palavras: parece uma grande confusão. A chave para desvendar o dilema é aquela expressão única, à qual o próprio Cristo se refere como "o meu mandamento". Foi no cenáculo, horas antes de sua morte na cruz, que Jesus disse: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros. (Jo 13, 34-35) Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. (...) O que eu vos mando é que vos ameis uns aos outros. (Jo 15, 12. 17) Notemos que a citação inicial desta reflexão pertence ao mesmo contexto daquela íntima e comovente conversa de Jesus com os discípulos, no cenáculo. É uma espécie de testamento. É, também, a resposta clara, a todas as dúvidas e críticas a respeito de sua doutrina sobre os mandamentos. Ele disse, em outra ocasião: Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para cumprir. (Mt 5, 17) Alguns tradutores preferem: Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição, o que pode significar, também, "levar à plena compreensão" (porque seria impossível cumprir, sem compreender). Parece confirmar isso mais uma afirmação de Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é semelhante: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos. (Mt 22, 37-40) À luz deste princípio entendemos o motivo de "apertar o parafuso", por exemplo, no mandamento "Não cometerás adultério": Ora, eu vos digo: todo aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela em seu coração. (Mt 5, 28) Lembro-me de um amigo, gay, que disse ser possível que ele tenha cometido um monte de pecados, mas esse, de olhar para uma mulher daquele jeito, nem lhe passou na cabeça. Brincadeira à parte, Jesus aponta o perigo de instrumentalização (alguns dizem "coisificação") de outra pessoa (seja mulher ou homem), o que constitui uma das faltas graves contra o amor, mesmo que aconteça apenas no pensamento. Por outro lado, acusado de violar o preceito referente ao sábado (o dia santo dos judeus), Jesus denuncia a hipocrisia dos adversários: Em dia de sábado, o que é permitido: fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou matar? (Mc 3, 4) Ou seja, no sábado e em qualquer outro dia, é preciso amar. Para concluir, tentando responder à pergunta inicial: "quais são os mandamentos de Jesus", leiamos o que Ele mesmo diz, nessa mesma passagem, lida na segunda-feira (Jo 14,21-26): Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. (v. 23) Percebemos que, neste pequeno trecho, o termo "meus mandamentos", é apresentado como sinônimo de "minhas palavras". Entre todas as palavras de Jesus, registradas nos 4 evangelhos, aquelas que têm a forma de ordem, ganham, evidentemente, o maior destaque. Cito apenas algumas e digo que a leitura do Evangelho, sob este ângulo, é muito interessante (como costumam dizer os nossos jovens: fica dica!):
+ Segui-me! (Mt 4, 19)
+ Assim brilhe a vossa luz diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus. (Mt 5, 16)
+ Procura reconciliar-te com teu adversário. (Mt 5, 25)
+ Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. (Mt 5, 37)
+ Ora, eu vos digo: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem! (Mt 5, 44)
+ De fato, se vós perdoardes aos outros as suas faltas, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. (Mt 6, 14)
+ Não julgueis, e não sereis julgados. (Mt 7, 1)

... e assim por diante...

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