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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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15 de maio de 2011

CNBB - duas notas

Não estou falando de duas notas em categorias escolares, embora este ponto de vista possa servir como introdução. Neste caso, as duas notas seriam: 10 e 0. Até parece uma goleada. Infelizmente, o time da CNBB não é o vencedor, pelo menos no balanço final. As duas notas, sobre as quais pretendo escrever, são as recentes declarações da cúpula da Igreja Católica no Brasil. Uma observação importante: vou interpretar apenas duas de um número maior de notas emitidas, nestes dias, pela CNBB. Os bispos do Brasil, reunidos em Aparecida (interior de SP), nos últimos dias 4 a 13 de maio, na 49ª Assembléia Geral, abordaram diversos temas, emitindo no final alguns textos, tais como “As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”, a “Moção de Apoio à Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida - Contra o aborto”, homenagem na ocasião da (próxima) beatificação de Irmã Dulce e da (recente) beatificação de João Paulo II, além de vários outros. Um dos textos que quero abordar é o “Compromisso solidário da CNBB com a Causa Indígena no Brasil” e o outro, “Nota da CNBB a respeito da decisão do Supremo Tribunal Federal quanto à união entre pessoas do mesmo sexo”. O primeiro destes documentos pode ser encontrado, por exemplo, no portal da Canção Nova (aqui) [não consegui localizá-lo no site da CNBB]. O outro está – evidentemente – no site da CNBB (aqui). A leitura fica muito mais interessante, quando se faz a comparação destas duas declarações. Ambas começam em tom solene, mas logo tomam rumos diferentes. Vejamos o início do “Compromisso solidário com a causa indígena”: Reunidos na 49ª Assembléia Geral, nós, bispos do Brasil, mais uma vez tomamos conhecimento dos sofrimentos e injustiças que afetam os povos indígenas do nosso País. Por isso, não podemos deixar de reagir, de forma solidária e comprometida, diante da grave situação em que se encontram tantos desses nossos irmãos. Beleza! Nota 10! Que tal, ao falar de homossexuais, começar da mesma maneira? Reunidos na 49ª Assembléia Geral, nós, bispos do Brasil, mais uma vez tomamos conhecimento dos sofrimentos e injustiças que afetam as pessoas homossexuais do nosso País. Por isso, não podemos deixar de reagir, de forma solidária e comprometida, diante da grave situação em que se encontram tantos desses nossos irmãos. Em vez disso, suas excelências (e algumas eminências), falam que equiparar as uniões entre pessoas do mesmo sexo à família descaracteriza a sua identidade e ameaça a estabilidade da mesma. Tudo bem, há, no meio do texto, uma frase cautelosa que diz: As pessoas que sentem atração sexual exclusiva ou predominante pelo mesmo sexo são merecedoras de respeito e consideração. Repudiamos todo tipo de discriminação e violência que fere sua dignidade de pessoa humana – mas não e é a mesma coisa, nem o mesmo efeito, quando se fala, mais adiante, sobre a ameaça que as uniões homoafetivas trazem para família. É o mesmo que dizer: não se pode discriminar nem tratar com violência as pessoas homossexuais, mas cuidado, porque essas mesmas pessoas desestabilizam a família que, como se sabe, é um recurso humano e social incomparável, além de ser também uma grande benfeitora da humanidade. Ela favorece a integração de todas as gerações, dá amparo aos doentes e idosos, socorre os desempregados e pessoas portadoras de deficiência. Portanto têm o direito de ser valorizada e protegida pelo Estado. Vamos defender a família de todos que pretendem ameaçá-la (e que todos que nos escutam, escolham a maneira de lutar por isso, até mesmo com paus, pedras, facas e armas de fogo, se for necessário). É claro que os bispos não chegam a este ponto, mas trata-se de um jeito antipedagógico de dizer as coisas. As ideias de violência podem, facimente, nascer numa mente "católico-homofóbica" (é o que não falta por aqui). Vejamos, também, outro trecho do texto sobre a causa indígena: Muitos povos indígenas enfrentam conflitos decorrentes da não demarcação de suas terras, perseguição de suas lideranças, ameaças de morte, assassinatos, prisões ilegais, criminalização de suas lutas e outras agressões à sua dignidade e aos seus direitos constitucionais. Esses conflitos são responsáveis pelo alto índice de violência que, de 2003 a 2010, ceifou a vida de 499 indígenas. No texto “dedicado” aos homossexuais poderia ser, mais ou menos, assim: Muitos homossexuais enfrentam conflitos decorrentes da falta de espaço na vida social e religiosa, perseguição de suas lideranças, ameaças de morte, assassinatos, prisões ilegais, criminalização de suas lutas e outras agressões à sua dignidade e aos seus direitos constitucionais. Esses conflitos são responsáveis pelo alto índice de violência que, apenas em 2010, ceifou a vida de 260 homossexuais e de outros 65, nos primeiros três meses deste ano. No Brasil, um homossexual é morto a cada 36 horas e esse tipo de crime aumentou 113% nos últimos cinco anos. Que ilusão! Não há nada sobre isso! A ausência – no texto dos bispos - de qualquer menção sobre a trágica situação de homossexuais, tem uma explicação. Na nota sobre as uniões entre pessoas do mesmo sexo, os bispos apontam a fonte de sua inspiração: motivados pelo Documento de Aparecida, propomo-nos a renovar o nosso empenho por uma Pastoral Familiar intensa e vigorosa. Para quem não sabe, o Documento de Aparecida é o fruto da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, inaugurada pelo Papa Bento XVI e realizada em Aparecida no ano de 2007. O documento trata a “questão homossexual” assim: Entre os pressupostos que enfraquecem e menosprezam a vida familiar encontramos a ideologia de gênero, segundo a qual cada um pode escolher sua orientação sexual, sem levar em consideração as diferenças dadas pela natureza humana. Isto tem provocado modificações legais que ferem gravemente a dignidade do matrimônio, o respeito ao direito à vida e a identidade da família. [n° 40] Sinceramente, uma premissa dessas é como querer chegar ao Corcovado de barco. Conclusão: é ótimo que os indígenas são reconhecidos como “nossos irmãos”. E é péssimo que os homossexuais não têm o mesmo privilégio. É louvável que os bispos católicos do Brasil querem defender os índios. E é lamentável que – de fato – condenam os homossexuais.
P.S. Nesta reflexão lembrei-me da história de Susana do Antigo Testamento (leia o capítulo 13 do Livro de Daniel). Acusada por dois velhos perversos, estava prestes a ser condenada pela assembleia dos anciãos de Israel (olha a analogia). Deus ouviu a prece da mulher inocente e suscitou o espírito íntegro de um adolescente chamado Daniel, para socorrê-la. Daniel pediu que se ouvisse os dois acusadores separadamente. Inspirado por Deus, o jovem dirige à assembleia dos anciãos uma exortação: Como sois idiotas, israelitas! Sem julgamento e sem formar uma idéia clara acabais de condenar à morte uma mulher israelita! (Dn 13, 48) e, depois, recebe o primeiro dos homens com estas palavras: Ó homem envelhecido na malícia, agora teus pecados vão aparecer, tudo o que já vinhas praticando, ao dar sentenças injustas, condenando o inocente e deixando sair livre o culpado, quando a palavra do Senhor é: ‘Cuidado para não condenar à morte o inocente e o justo!’ (Dn 13, 52-53). Confesso que, ao ler as declarações da CNBB, referentes a homossexuais, tenho vontade de repetir os dizeres de Daniel. O curioso é que os bispos, ao tratarem da “causa indígena”, declaram: É necessário ouvir os povos indígenas (...), bem como combater a violência e proteger a integridade física dos membros de suas comunidades. Pergunto: e não é necessário ouvir e defender os homossexuais? A omissão, neste sentido, é contribuir para a sentença da morte deles! Como sois idiotas, homens envelhecidos na malícia! Sem julgamento e sem formar uma idéia clara acabais de condenar à morte os inocentes! (Cf. Dn 13, 48. 52)
P.S. [2] Mais uma interrogação: se, dentro de uma comunidade indígena, fossem "detectados" alguns homossexuais (o que, sem dúvida, ocorre de fato), esta comunidade não mereceria mais todo aquele cuidado da CNBB? Ou mereceria? O que prevalece nesse caso: a "causa indígena" ou a "questão homossexual"? Hein?
Hein ???

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