A vida continua, acontecem coisas importantes (e envolventes) e eu, aqui, continuo com o meu tercinho. A oração pode acompanhar todas as coisas, embora eu nunca tenha visto pessoas rezando o terço em uma Parada Gay (é uma das coisas que vai acontecer nestes dias). Bem... nunca vi, porque nunca fui nesse evento. Obviamente, o clima da Parada não contribui para com uma oração sequer, mas não me surpreenderia se alguém conseguisse essa arte (até me vem na mente um nome que começa com a letra "L" - é o rapaz que não renuncia, nem esconde, a sua identidade gay na Igreja e a sua fé cristã no meio GLBTTS... aliás, nem sei se ele costuma ir às paradas). É claro, o assunto não ia ser esse. Mas, como já comecei a falar das coisas que acontecem nesses dias (enquanto eu rezo o meu tercinho), devo lembrar de que amanhã estarei - pela primeira vez na minha vida - no casamento homoafetivo. Já estou ansioso e emocionado antecipadamente e - curiosamente - essa ocasião se inscreve na minha meditação do 2° mistério gozoso do rosário (não fui eu quem inventou esse termo!).
Além de toda riqueza bíblico-teológica (cf. Lc 1, 39-56) da visita que Maria foi fazer na casa de sua parenta Isabel, trata-se de um encontro - por que não dizer isso? - afetivo. O afeto é tão profundo que envolve o menino no ventre da mulher mais velha: apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo (Lc 1, 41). Vale acrescentar aqui o dado importantíssimo da doutrina cristã: Maria já carregava no seu seio imaculado o Filho de Deus, tendo-se passado um curto período de alguns dias, após o seu sim dado a Deus, representado pelo Anjo. Deu-se, portanto, o duplo encontro: de Maria com Isabel e de Jesus com João Batista. Este encontro, porém, ainda que o mais importante, permanece na esfera do mistério da fé. O que temos, diante dos nossos olhos, é o profundo afeto de duas mulheres, unidas no amor indescritível e "separadas" por uma grande diferença de idade.
É por isso disse antes que o casamento, ao qual fui convidado, me vem na mente neste momento. Como falei há um tempo, o meu amigo (um dos noivos) tem 24 anos e o seu futuro marido... mais de 50. Deixando de lado todos aqueles que consideram a união homoafetiva um absurdo em si, detenho-me em outra opinião, talvez ainda mais difundida, inclusive em referência aos casamentos heteroafetivos. São muitíssimas as pessoas que descartam a possibilidade de "dar certo" entre as pessoas que, em outras circunstâncias, poderiam ser, por exemplo, o pai e o filho, ou - quem sabe - o vovô e o neto. No próprio "universo GLBTTS" a crítica de tal configuração é muito frequente, a ponto de se manifestar como um preconceito. Em geral, "o velhote não presta" e "o jovem é louco" (quando não é um frio aproveitador). Porém, o amor é um dos maiores mistérios do coração humano. Não pretendo repetir aqui os inúmeros argumentos a favor de uma união semelhante, construída apesar de (ou, graças a) uma grande diferença de idade. Apenas acrescento: eu mesmo espero que algo assim possa acontecer, um dia, na minha própria vida.
Falando nisso, tenho sonhado recentemente com um jovem coreano [sic!], com quem me caso e para essa ocasião estamos juntos visitando a minha família (que o adora!) e já planejamos a nossa lua de mel, na Coréia. É esse tipo de sonho que não apenas se repete por várias noites em seguida, mas continua, mesmo depois de acordar. Enfim... esse já é o outro assunto.
Para concluir este texto que, a princípio, seria uma meditação de mais um mistério do rosário (e, na forma em que está, pode deixar alguém escandalizado), digo o seguinte: tudo aquilo que muita gente consideraria uma distração na hora de rezar, eu, simplesmente, incluo à oração. Assim, a vida se faz presente diante de Deus e a oração envolve a vida. Não sou um mestre de oração, mas rezo assim...
Outro texto sobre a Visitação de Nossa Senhora encontra-se, neste blog, aqui.
Religião é um mistério...
ResponderExcluirCaraca, casal de 24 anos e 50 anos de idade... algo diferente, mas o importante é o sentimento de ambos, do resto, foda-se...
Pois é, Ro! Daqui a pouco vou participar dessa cerimônia e tentar expressar a minha admiração pelo amor desses dois. Tomara que dure!
ExcluirObrigado pela visita!
Grande abraço!