ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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18 de outubro de 2013

O conceito da castidade

 
Insisto apontando o problema de linguagem como o principal (ou, pelo menos, inicial) obstáculo em qualquer tentativa de diálogo/aproximação entre os GLBTT e todos os seus oponentes, especialmente, os religiosos (e, mais especificamente: os cristãos). Já citei, em outras ocasiões, a expressão do Papa Bento XVI, de sua encíclica "Deus caritas est" (n. 2): O amor de Deus por nós é questão fundamental para a vida e coloca questões decisivas sobre quem é Deus e quem somos nós. A tal propósito, o primeiro obstáculo que encontramos é um problema de linguagem. O termo « amor » tornou-se hoje uma das palavras mais usadas e mesmo abusadas, à qual associamos significados completamente diferentes.
 
O mesmo acontece com vários outros termos e, justamente por isso, toda tentativa de comunicação, torna-se parecida com o som de um instrumento desafinado. Além da palavra "amor", entendida diversamente, aparece também o termo "castidade" que exerce a função igual ao ponto final de qualquer discurso. Mesmo que alguém consiga argumentar sobre o amor existente no coração de uma pessoa homossexual, a conversa termina, quando entra em cena a falta de castidade, em qualquer relação íntima entre as pessoas do mesmo sexo.
 
Lembro-me aqui de um casal de portugueses, velhinhos, piedosos e de sua história sobre a viagem que fizeram à Aparecida do Norte, para comemorar o aniversário do Sacramento do Matrimônio. Foi uma romaria de uns 3 dias, repleta de momentos comoventes e de muita devoção. Como que de passagem, o marido tinha me informado que todas as noites, os dois, dormiram em camas separadas, "pois estavam no lugar sagrado". Coitado do homem, não ousou tocar em sua esposa. Imagino que nem o beijinho tinha ocorrido nessa circunstância, "para não pecar contra a castidade". Na verdade, o exemplo retrata a associação direta da virtude da castidade, com a total ausência de sexo (inclusive, em qualquer forma preliminar), mesmo aquele que é considerado legítimo por mais ortodoxa e rigorosa das Igrejas.
 
Afinal, o que é a castidade? O Catecismo da Igreja Católica diz que é uma virtude moral, um dom de Deus, uma graça, um fruto da obra espiritual. O Espírito Santo concede o dom de imitar a pureza de Cristo àquele que foi regenerado pela água do Batismo (n. 2345). Portanto, a castidade é a pureza e a pureza é o fruto de purificação. Este último termo podemos encontrar nas páginas da Bíblia com bastante frequência. É claro: quem purifica é o próprio Deus.
 
Podemos aqui recordar uma cena misteriosa que encontramos nos Atos dos Apóstolos. Pedro viu o céu aberto e descer uma coisa parecida com uma grande toalha que baixava do céu à terra, segura pelas quatro pontas. Nela havia de todos os quadrúpedes, dos répteis da terra e das aves do céu. Uma voz lhe falou: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Disse Pedro: De modo algum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma profana e impura. Esta voz lhe falou pela segunda vez: O que Deus purificou não chames tu de impuro (At 10, 11-15). Certamente, neste momento, podem aparecer os argumentos do tipo: "uma coisa é a pureza ritual e a outra, a pureza moral". Porém, o texto diz: "O que Deus purificou não chames tu de impuro", sem especificar a abrangência da coisa. Pelo que entendo de português, a expressão "o que", corresponde ao "tudo (que)". Será, então, que Deus tenha purificado, também, o ato íntimo entre as pessoas do mesmo sexo?
 
O curioso é que em todas as explicações sobre a virtude da castidade, fornecidas pelo Catecismo, não aparece a palavra "amor". Não é o amor que purifica? Deus é amor e onde há amor, Deus está presente. Os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor - disse Jesus sobre a mulher na casa de um fariseu (Lc 7, 47).
 
Evidentemente, neste exato momento, muitos irão afirmar que não existe o amor verdadeiro entre as pessoas do mesmo sexo, ou então, aquilo que acontece na intimidade de um casal homossexual, pode ser chamado de qualquer coisa, menos de amor. Queria perguntar aqui ao "filósofo" Olavo de Carvalho, ao "pastor" Marco Feliciano (e aos seus respectivos seguidores), se algum deles já sentou para ouvir o que tem para dizer um(a) homossexual? Com certeza, nunca fizeram isso, porque - conforme às suas doutrinas - "tais pessoas" não são dignas de diálogo. Valeria a pena observar o homem que passa, noites e mais noites à beira da cama de hospital, onde agoniza o seu amado. Alguém ainda vai dizer que é apenas desejo carnal que os une? Ali já não existe desejo carnal. É o amor. E aqueles homossexuais que estão prontos para dar a própria vida pela pessoa amada (ou já o fizeram), não expressam, por acaso, um amor que Jesus chama de maior (cf. Jo 15, 13)?
 
Eu sei que existem muitos homossexuais que procuram e vivem o "sexo por sexo" e detestam "todo aquele papo sobre o amor". Certamente, não irão gostar dessa minha opinião. O que, então, acontece, de fato, naquele ato sexual, movido apenas por tesão, pelo desejo da carne? É como se alguém se masturbasse, usando um objeto, neste caso, uma outra pessoa. Quem costuma assistir os filmes pornô, repara-se muito com esse tipo de comportamento. Permita-me perguntar: você tem nojo de zoofilia? Ou acha bizarro, alguém enfiar o seu pênis no buraco, feito em uma melancia? Entretanto, quem transa para sentir apenas o seu próprio prazer, sem se importar com a sensação do outro, está reduzindo outra pessoa ao nível de um animal, ou de uma melancia. Isso, sim, é o amor impuro, porque o amor está ausente. Estou falando de amor recíproco que só é possível entre dois seres humanos (não me venha dizer aqui que você e o seu cachorro se amam!). O amor recíproco, por sua vez, requer a consciência e a liberdade. Por isso, nunca será puro o ato sexual entre um adulto e uma criança. A pedofilia é crime e gravíssimo pecado! Quando falo de amor impuro que apenas usa outra pessoa, como se ela fosse um brinquedo para masturbação, refiro-me a muitos (muitos mesmo!) casos que acontecem na vida de casais heterossexuais. Agora virou piada, mas a famosa frase de uma minissérie nacional, retrata perfeitamente essa realidade (inclusive, aprovadíssima pela Igreja durante muitos séculos): "Prepara-te! Hoje vou te usar!". Alguém vai me dizer que só pelo fato de ter acontecido entre homem e mulher (casados na igreja), tal sexo é casto? A castidade é o amor. E amar, nunca significará usar. O sexo é casto, portanto, quando existe o amor. Não tem nada a ver com a orientação sexual.
 
Será que, a partir deste princípio, podemos começar a conversar?

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