ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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13 de outubro de 2013

O casório

 
Estou de volta, depois de participar de um momento histórico: a cerimônia de assinatura de declaração de pacto de união estável, entre A. e V. Não houve a pergunta sobre os possíveis impedimentos ao casamento (com aquela famosa frase: "Diga agora ou cale-se para sempre!"), aliás, não houve qualquer pergunta, nem a presença de um juiz. Enfim, não se trata de um casamento, no sentido literal da palavra, ainda que os efeitos tenham sido os mesmos - pelo menos, no coração dos noivos (que o documento define com a palavra feia "contratantes") e, certamente, de todos os convidados, visivelmente emocionados. Um dos noivos fez o seu breve pronunciamento, os dois assinaram o documento, trocaram as alianças e a festa continuou, em forma de um esplêndido jantar.
 
O que mais chamou a minha atenção, foi a sensação de maior naturalidade na face da terra. Ninguém ficou cochichando pelos cantos, não houve um comentário sequer, sobre o fato de dois homens declararem o início de uma nova fase de suas vidas que, desde agora, tornam-se uma vida só. O grupo de convidados contou com a presença de umas 40 pessoas, entre os familiares (não todos compareceram e alguns nem ficaram sabendo da cerimônia), os amigos e a equipe do bufê. Ninguém estranhou a presença de algumas crianças na festa...
 
Eu perco a minha timidez, depois do segundo copo de caipirinha... Puxei o assunto da diferença de idade dos noivos (24 - 50 e poucos), em algumas conversas particulares, tentei fazer - em vão - as intervenções relacionadas ao beijo dos dois e da leitura - em voz alta - do texto daquele documento que tinha sido assinado. A única coisa que consegui, foi convencer os noivos (contratantes, nubentes, enfim...) a brindarem com o champanhe, cruzando os braços, mais ou menos assim, como os alemães e outros europeus, bebem o "brüderschaft" (um brinde à amizade que resulta em abandonar as formalidades e começar a chamar determinada pessoa pelo nome).
 
Depois do 4° copo de caipirinha, comecei as minhas investidas em relação a um jovem convidado, segundo o meu amigo (o noivo), um gay declarado. Consegui conversar um pouco com ele, descobri que mora no bairro vizinho e tal. Queria mais, mas como ele faz parte do grupo de amigos do outro noivo, provavelmente surgirão novas ocasiões para prosseguir o contato. Só para encerrar esse assunto, os 4 copos (relativamente pequenos) de caipirinha, não me deixam embriagado. Antes, ajudam-me a sair do casulo de timidez exagerada (e quase sair do armário). Falando nisso, descobri que a minha amiga que também estava presente ali, simplesmente sabe que eu sou gay, mesmo sem termos conversado sobre isso...
 
Enfim, foi uma noite feliz, marcada pelas gargalhadas saudáveis e mesas fartas. E, o que mais importante, o espírito de amor pairava sobre todos. Talvez tenha faltado um buquê de flores, jogado pelos noivos na minha direção (também reclamei!), mas o momento não deixou de ser contagiante de verdade. O namorado da minha amiga fez a ela o pedido de casamento. E ainda tem gente dizendo que "as uniões de pessoas do mesmo sexo ameaçam a família, enquanto célula fundamental da sociedade". Quem pensa assim, deveria participar de cerimônias como essa.
 
Parabéns aos pombinhos que, nesta altura, devem ter desembrulhado todos os presentes...

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