Confesso que me senti entalado, como que em uma lama pegajosa e fedorenta, ao ler vários textos nos sites, portais e páginas, onde escrevem aqueles que se declaram "guardiões da Santa Tradição Católica", repudiam o modernismo pós-conciliar e detonam cada nova fala do Papa Francisco. Evidentemente, depois da última entrevista do Santo Padre, os caras entraram em desespero e, praticamente, excomungaram Francisco. O meu alívio veio logo depois. Se alguém ainda duvida na ação do Espírito Santo, atribua isso, então, à intuição do Papa. Tenho certeza de que o Santo Padre não perde tempo para ler as matérias daquele tipo, menos ainda, os furiosos comentários que se multiplicam como uma praga, mas tudo o que foi dito na última catequese papal, durante a Audiência Geral no dia 02 de outubro, torna-se uma resposta direta e clara aos uivos dos fundamentalistas "católicos" (que, aliás, perderam a própria catolicidade, desde o momento em que contestaram as decisões da Santa Igreja, definidas no Concílio Vaticano II).
Como sempre, vale a pena ler o texto todo. Eu cito aqui alguns trechos:
Vocês poderiam dizer-me: mas a Igreja é formada por pecadores, vemos isso todos os dias. E isto é verdade: somos uma Igreja de pecadores; e nós pecadores somos chamados a deixar-nos transformar, renovar, santificar por Deus. Houve na história a tentação de alguns que afirmavam: a Igreja é somente a Igreja dos puros, daqueles que são totalmente coerentes e os outros seguem afastados. Isto não é verdade! Isto é uma heresia! A Igreja, que é santa, não rejeita os pecadores; não rejeita todos nós; não rejeita porque chama todos, acolhe-os, está aberta também aos mais distantes, chama todos a deixar-se envolver pela misericórdia, pela ternura e pelo perdão do Pai, que oferece a todos a possibilidade de encontrá-Lo, de caminhar rumo à santidade. “Mas, padre, eu sou um pecador, tenho grandes pecados, como posso sentir-me parte da Igreja?”. Querido irmão, querida irmã, é propriamente isto que deseja o Senhor; que você lhe diga: “Senhor, estou aqui, com os meus pecados”. Alguém de vocês está aqui sem os próprios pecados? Alguém de vocês? Ninguém, nenhum de nós. Todos levamos conosco os nosso pecados. Mas o Senhor quer ouvir que lhe digamos: “Perdoa-me, ajuda-me a caminhar, transforma o meu coração!”. E o Senhor pode transformar o coração. Na Igreja, o Deus que encontramos não é um juiz implacável, mas é como o Pai da parábola evangélica. Você pode ser como o filho que deixou a casa, que tocou o fundo do distanciamento de Deus. Quando tens a força de dizer: quero voltar pra casa, encontrarás a porta aberta, Deus vem ao seu encontro porque te espera sempre, Deus te espera sempre. Deus te abraça, te beija e faz festa. Assim é o Senhor, assim é a ternura do nosso Pai celeste. O Senhor nos quer parte de uma Igreja que sabe abrir os braços para acolher todos, que não é a casa de poucos, mas a casa de todos, onde todos podem ser renovados, transformados, santificados pelo seu amor, os mais fortes e os mais frágeis, os pecadores, os indiferentes, aqueles que se sentem desencorajados e perdidos. A Igreja oferece a todos a possibilidade de percorrer o caminho da santidade, que é o caminho do cristão: faz-nos encontrar Jesus Cristo nos Sacramentos, especialmente na Confissão e na Eucaristia; comunica-nos a Palavra de Deus, faz-nos viver na caridade, no amor de Deus para com todos. Perguntemo-nos então: deixamo-nos santificar? Somos uma Igreja que chama e acolhe de braços abertos os pecadores, que dá coragem, esperança, ou somos uma Igreja fechada em si mesma? Somos uma Igreja na qual se vive o amor de Deus, na qual se tem atenção para com o outro, na qual se reza uns pelos outros?
Conheço muitos homossexuais que se sentem indignos, até mesmo, de entrar na igreja para participar da Missa. Outros, já escutaram essa "sentença" (de não serem dignos), por parte dos pais, irmãos, amigos, colegas de escola, padres e muitos outros. Muitos desistiram de procurar o caminho para a Igreja, devido à leitura de alguns documentos oficiais dela. Não me surpreendo, portanto, ao ver um tipo de desconfiança, em relação às palavras do Papa. Uns insistem em afirmar de que não se trata de ensinamento oficial da Igreja, mas de opiniões pessoais de um tal de Bergoglio (que por acaso, ou talvez, por engano, ocupa o trono de Pedro). Outros imaginam (de certa forma, até esperam, assustados) um "cala-a-boca", dado ao Papa, por seus adversários da cúpula vaticana. Há quem pense: "eles vão acabar com ele". Realmente, quando se lê as declarações dos fundamentalistas "católicos", do tipo: "chegou a hora do combate", a gente começa a se preocupar. Mas, aqui, surpreendentemente, vou concordar - em um ponto - com os tradicionalistas: o Papa é o Papa e a Igreja é a Igreja. Um Papa não vai mudar a Igreja.
Tenho, porém, uma má notícia aos contestadores de Francisco. Na mesma medida, em que o Papa fala pela Igreja, é a Igreja que fala através do Papa. Não é o Papa que vai demolir, de repente, a Igreja. É a Igreja que se revela no Papa e em suas palavras. Ele apenas transmite a mudança (a conversão) da Igreja. Mesmo que alguém queira calar o Papa, é o Espírito Santo que conduz a Igreja à plena verdade. Basta ler a história! É uma ótima leitura, especialmente neste dia, dedicado a um outro Francisco...
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