A minha epopeia de
sonhos/delírios que envolvem a misteriosa figura de um jovem coreano
continua. Outras partes da história estão aqui e aqui. Na quinta-feira passada fui procurar dois dos três
restaurantes coreanos, localizados pela internet. O restaurante no
centro da cidade, perto da estação de metrô Cinelândia, oferece
alguns tipos de comida oriental, mas quem trabalha lá, são as
mulheres brasileiras. Acabei tomando uma sopinha por R$ 6,00 e fui
embora. Segui até a praça Afonso Pena e percorri a rua Mariz e
Barros inteira, à procura do restaurante “China” que, segundo à
propaganda, serve a comida coreana. Ninguém nessa rua ouviu falar do
restaurante “China”. Decidi voltar para casa e, pelo caminho,
encontrei um restaurante japonês (afinal, o meu sonho pode não
estar tão exato assim). Conferi o horário com um japonês de
meia-idade e resolvi voltar lá mais tarde, no mesmo dia, imaginando
encontrar muita gente. À noite, porém, o restaurante contou apenas
com a presença de uma mulher e uma criança. Na sexta-feira fui
conhecer mais uma restaurante, na Rua do Bispo (esquina com Haddock
Lobo). Esqueci de dizer que adorei tudo que comi, principalmente o
sashimi. Até consegui usar os pauzinhos de madeira. Neste
restaurante vi um grupo de jovens asiáticos, três rapazes e duas
meninas. Por pouco não parei para contar a eles a minha história de
sonhos, mas imaginei como seria a conversa. O texto em seguida conta
o que eu não fiz, por falta de coragem. Pode ser entendido,
simplesmente, como a continuação da estória “À procura do meu
coreano”. Só que apenas na minha imaginação...
Aproximei-me daquela mesa
e pedi licença:
- Me desculpem pela
invasão, mas queria contar para vocês uma coisa que me preocupa
ultimamente e talvez vocês possam me ajudar. Eu sei que a coisa é
bastante esquisita, por isso nem vou sentar e prometo ocupar, no
máximo, uns dois minutos de sua atenção. Quando terminar, vocês
poderão, simplesmente, dizer: “Você é um maluco”. Eu vou
embora e a gente nunca mais vai se ver. Pode ser?
O rapaz de óculos,
sentado à ponta da mesa, fez uma cara de desprezo, mas antes de
abrir a boca, uma menina, com aparência de líder do grupo, aceitou
a minha proposta e com um gesto pediu ao dono do restaurante uma
cadeira para mim. Sentei-me ao lado do rapaz de cabelo ondulado que
tinha a cara de mais jovem do grupo. Comecei a minha história.
- Primeiro, queria dizer
que, com os meus quase 48 anos, nunca tinha me acontecido uma coisa
semelhante e, também, que – embora eu acredite em coisas
sobrenaturais – não sou um cara voltado à premonição ou
adivinhação. Mas, como a coisa está insistindo, há mais de uma
semana e trata-se de alguém que talvez tenha passado por momentos
difíceis, prefiro me expor ao ridículo, do que cometer algum tipo
de omissão. Tudo começou com um sonho que, mais tarde, continuou na
minha cabeça, mesmo quando estou acordado, sempre tratando da mesma
situação e só acrescentando novos detalhes. Trata-se de um rapaz
com as feições de asiático. Não sei se isso veio a mim, ou se fui
eu que inventei, mas algo me diz que ele é um coreano. Olha, eu sou
europeu e para nós europeus – eu acho que também para a maioria
dos brasileiros – é praticamente impossível distinguir, apenas
pela aparência, se a pessoa com esses traços, é da Coreia, do
Japão, da China, ou de algum outro país da Ásia. Fico, então, com
a intuição de que tenha sido um coreano. Pode ser que ele tenha
nascido lá e vindo ao Brasil com a família, ainda pequeno, ou
nasceu aqui, sendo os seus pais que vieram de lá. Parece-me que ele
tem alguns familiares na Coreia. De outras características dele que
se repetem é que ele ou trabalha na cozinha, ou gosta de cozinhar,
além de ter bastante talento com a informática. O essencial da
história é que ele teria sofrido recentemente uma grande desilusão
amorosa, em relação a uma pessoa mais velha, pela qual tinha se
apaixonado perdidamente. O caso durou, mais ou menos um mês e tudo
indicava que essa pessoa correspondia ao sentimento do rapaz. Como,
porém, essa pessoa não é daqui, mas da Europa (muito provavelmente
da Alemanha), depois de um mês, tinha que voltar para casa. Os
dois combinaram que, quando for possível, o rapaz viajaria para
passar um tempo na Alemanha, para dar a continuidade ao
relacionamento. Agora, finalmente, surgiu a oportunidade e o jovem
coreano apaixonado decidiu viajar, na primeira quinzena de novembro,
para passar um mês na Alemanha. Ele comprou a passagem e continuou
mantendo o contato com aquela pessoa via internet. Começou,
entretanto, a sentir uma mudança de comportamento da pessoa, até o
dia em que recebeu um e-mail que o deixou totalmente arrasado. A
pessoa tinha escrito que tudo isso que os dois viviam, não passou de
uma aventura de férias e que, na verdade, ela tem um companheiro, lá
na Alemanha e que não quer mais saber do rapaz, nem de sua visita
por lá. Como vocês podem imaginar, o mundo do rapaz caiu. Ele
perdeu o interesse por todo do que gostava, fechou-se em si, ficou
tão triste que os seus familiares e amigos estão com medo de que
ele possa cometer alguma loucura... Aí, não sei bem como, mas essa
situação veio a mim, como se eu pudesse ajudar esse rapaz de alguma
maneira.
O rapaz de óculos
continuou com aquela cara de indiferença, mas não me interrompeu. A
menina (a líder) ouviu tudo com bastante atenção. Quando terminei,
ela disse, simplesmente:
- Você, por acaso, não
esqueceu de um detalhe importante? Ou omitiu de propósito?
- Sim, omiti, porque
achei que teria atrapalhado a história, ou criado a impressão
distorcida sobre as minhas intenções. O fato é que aquela pessoa
da Alemanha, é um homem e o rapaz é um homossexual. Inclusive, pelo
que me parece, a família dele sabe disso e aceita a condição dele.
O rapaz de óculos, nessa
hora, ficou mais atento. A menina pediu que eu contasse tudo que
tinha omitido e explicasse melhor, como é que essas informações
chegam a mim.
- Então, como falei,
tudo começou com um sonho mesmo que tive – eu acho – na semana
passada. Normalmente, a gente sonha algo e logo esquece. Esse sonho
ficou na minha cabeça e, mesmo acordado, tenho, desde então, um
tipo de continuação da história, pelo menos em parte, independente
da minha vontade. Vejo as cenas muito nítidas que se complementam. A
maior parte dessas cenas ocorre na casa da minha mãe que mora na
Europa. É uma viagem que a gente está fazendo junto. De outros
detalhes posso dizer que ele é muito carinhoso, sempre muito sereno
e sorridente, tem a enorme facilidade de se comunicar com as pessoas.
Dorme no chão porque quer, mas, as vezes, acorda no meio da noite
com medo de estar sozinho. Por isso, quando adormece, pede para
segurar a sua mão, ou ao menos, deixar ele sentir a proximidade do
corpo de outra pessoa.
A menina me interrompeu,
perguntando:
- E o rosto dele, o
cabelo... Você sabe o nome dele? A idade?
- Quanto à idade, vi a
seguinte cena. A minha mãe disse que ele parecia muito novo
(realmente, ele tem a cara de menino). Nisso, ele trouxe o passaporte
dele e mostrou a data de nascimento: 21 de agosto de 1987, o que
deixou a minha mãe fascinada. Como eles se comunicam meio que por
intuição, pois falam idiomas diferentes, a minha mãe pediu que eu
trouxesse a bolsa dela. Ela tirou da bolsa a identidade dela e
mostrou a data de seu nascimento: 21 de agosto de 1937, quer dizer,
exatamente 50 anos antes do nascimento dele... Eu nunca tive certeza
do nome dele, mas hoje mesmo (sexta-feira) à tarde, fui tirar uma
soneca e sonhei com ele. Bem, eu acho que era ele. Ele estava muito
aflito, carente, a gente acabou se beijando, aí eu pedi que ele me
dissesse o nome dele. Ele não disse, mas me mostrou – como se
fosse na tela do computador – o nome composto de três palavras,
das quais ele foi apagando a primeira, mais longa, que eu não tive
tempo de decorar e que era um nome comprido, nunca visto por mim. O que
sobrou – e que ele me mostrou – foi “Robert inn”. Ele ainda
confirmou que são dois “enes” mesmo... Com isso acordei. Ah,
esqueci dizer que, desta vez, ele tinha a cor de cabelo meio
diferente: enquanto sempre aparecia com o cabelo preto, nesse sonho
parecia que ele tinha pintado de leve o cabelo que ficou agora mais
claro. Mas é o mesmo cabelo, liso e com aquele corte "yaoi", cobrindo
na testa e caindo na nuca [mais ou menos, como na foto acima].
Quando falei do cabelo, o
menino de óculos deixou cair o copo que tinha segurado na mão.
Todos ficaram muito quietos, olhando um ao o outro.
Eu fiquei sem graça e
disse:
- Terminei. Agora todos
vocês podem me chamar de maluco...
A menina respondeu:
- Não vou te chamar de
maluco. Quero te mostrar uma coisa.
Pegou o celular dela e,
depois de manipular um pouco com ele, passou para mim. Estava aberto
na caixa de entrada de mensagem de texto. O que li na tela do celular me deixou curioso:
“Onde você está?”
“Robert inn”
Algo me diz que você
vai sofrer por causa desse cara”
Não sabia o que seria
esse “Robert inn”. A menina adivinhou e disse:
- “Robert inn” é uma
pousada no bairro Santa Teresa, onde ficou hospedado um estrangeiro.
O meu primo ia lá todos os dias, durante quase um mês. Ele estava
perdidamente apaixonado. O resto você mesmo já contou. Agora vamos
conferir outras coisas.
Menina pegou o telefone
da minha mão e digitou um número. Alguém atendeu do outro lado. A
menina disse:
- Oi, sou eu. Tudo bem?
Você me disse mais cedo que confiava em mim, certo? Então peço que
agora você preste bem atenção e não me interrompa. Vou passar
para o viva voz.
Logo ouvi uma meiga voz
masculina:
- Tudo bem, confio mesmo
em você. Você é a bruxa da minha vida. Das boas e poderosas.
A menina sorriu e
perguntou:
- O que você tá
fazendo?
A voz linda respondeu:
- Olha, pintei cabelo mais cedo e agora estou tentando
cancelar a minha viagem à Alemanha, mas o site diz que cancelando
vou perder praticamente 50% do dinheiro. Liguei para lá do fixo e tô
com o telefone na mão, mas o atendente me deixou com uma musiquinha,
enquanto ele procura resolver o meu problema. Você acredita que ele
me deu a proposta de não cancelar a viagem, mas em forma de
promoção, acrescentar um acompanhante pela metade do preço? É um
absurdo o que eles fazem para roubar o dinheiro da gente.
A menina:
- Escuta agora com muita
atenção. Quando o atendente voltar a falar contigo, diga a ele que
você não só aceita a promoção, mas quer ampliar um pouco a rota.
Agora anote o número do meu cartão. Vai pagar o que for necessário
e depois a gente resolve isso. Se precisar do nome completo do seu
acompanhante, passo para você pelo face do Lucas (depois descobri
que era aquele rapaz de óculos, na ponta da mesa).
Mais tarde fiquei sabendo
que esse é o grupo de amigos do rapaz, liderado pela prima dele.
Todo mundo sabe que ele é gay e conhece a história com o alemão
safado. Essa parte do sonho/delírio termina com a questão: é ele
que vem para cá, ou a gente pega a comida e vai à casa dele? Parece
que, finalmente, vou descobrir o nome dele..
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Dicionário:
잘
지내요? - Jar jine yo? - Tudo bom?
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