ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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3 de outubro de 2013

Meu zeloso guardador

 
No final deste dia, dedicado na Igreja aos Santos Anjos da Guarda (leia sobre este tema aqui e aqui), gostaria de prestar uma singela homenagem a meu amigo inseparável que nunca me abandona, pelo contrário, já me deu provas palpáveis de sua presença e de seu amor para comigo. Pois é, se não fosse um Anjo, eu o pediria para namorar comigo... pelo menos, de maneira mais visível. Bem... eu sei que os anjos do céu não se casam (cf. Mt 22, 30), portanto, certamente, não namoram, mas que o meu é um fofo, não tenho dúvida. Aliás, na minha opinião, ele faz parte do mundo GLBTTS, inserido no universo, pelo menos, correspondendo à letra "S", quer dizer, simpatizante - evidentemente simpatiza comigo. Só acho que ele se distrai no shopping... É, que eu sempre me perco no shopping. Mas, já passamos juntos no meio dos traficantes armados, já batemos com o carro, já apontaram em minha direção uma arma e - mais frequentemente - caminhamos nas madrugadas sem fim pelos bairros considerados perigosos e sempre chegamos bem em casa. Sim, nessas horas, particularmente senti a sua presença. Eu sei que o tal de Cupido, embora retratado como um anjinho, pertence a outra história, mas - como diz a Igreja - as sementes de verdade estão presentes e operantes nas diversas tradições religiosas e são um reflexo do único Verbo de Deus (veja aqui), portanto, não tenho certeza se não daria certo pedir ao meu Anjo da Guarda que me ajudasse a encontrar um namorado, fazendo o papel daquele Cupido. Ou, então, como fazia o Beato João XXIII, pedir ao eu Anjo da Guarda que conversasse com o seu colega, o Anjo da Guarda dessa ou daquela pessoa. Por exemplo, do Lucas ou do Gabriel... Falando nesses dois, eu acho que se o meu Anjo da Guarda assumisse um corpo, teria essa aparência, principalmente os cachos e aqueles olhos lindos que penetram a minha alma.
 
Essa coisa de assumir um corpo já aconteceu no passado (e deve estar acontecendo atualmente), basta ler o livro de Tobias, no qual a história com o anjo começa assim: Tobias encontrou um jovem de belo aspecto, equipado como para uma viagem. (Tb 5, 5) e termina dessa maneira: Então Tobit chamou seu filho e disse-lhe: Que havemos nós de dar a esse santo homem que te acompanhou? Meu pai, respondeu ele, que gratificação lhe havemos de dar? Que presente poderá igualar os seus benefícios? Ele levou-me e trouxe-me em boa saúde; foi receber o dinheiro de Gabael; fez-me ter uma mulher e afugentou dela o demônio; encheu de alegria os seus pais; livrou-me de ser devorado pelo peixe, e fez-te rever a luz do céu; enfim, ele cumulou-nos de toda a sorte de benefícios. Que presente poderia igualar a tudo isso? Rogo-te, meu pai, que lhe peças se digne aceitar a metade de tudo o que trouxemos. Chamaram-no, pois, o pai e o filho, e, tomando-o à parte, rogaram-lhe que aceitasse a metade de tudo o que tinham trazido. Então ele falou-lhes discretamente: Bendizei o Deus do céu, e dai-lhe glória diante de todo o ser vivente, porque ele usou de misericórdia para convosco. (...) Eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos na presença do Senhor. (Tb 12, 1-6. 15) Notemos que uma das tarefas do Anjo parece muito com o trabalho de um Cupido.
 
Há quem considere as reflexões acima uma blasfêmia. Garanto, porém, que tenho o respeito profundo pelas coisas de Deus e acredito que a minha condição homossexual faça parte dos desígnios dele. A minha homossexualidade não anula a minha humanidade. A humanidade, por sua vez, contém o chamado ao amor, como a forma essencial de sua própria realização no plano de Deus. Evidentemente, posso me realizar amorosamente no serviço aos pobres, na dedicação generosa à ciência ou à arte. Posso, também, ter recebido uma vocação especial e sublime, ao celibato, mas tenho certeza de que não é todo homossexual que seja chamado a esta forma de vida. Aliás, a Igreja não admite, nem ao sacerdócio, nem à profissão religiosa nos conventos, "as pessoas com tendências homossexuais fortemente enraizadas". Logo, a plena realização humana, consiste em compartilhar o amor com outra pessoa. No caso de um/a homossexual, com a pessoa do mesmo sexo. E o meu Anjo da Guarda sabe de tudo e nem por isso me abandonou...
 
 
Quero terminar o texto com mais uma reflexão. Não sei se é uma questão de idade e, associada naturalmente a ela, a vocação à paternidade, mas reparo-me com um desejo que cresce no meu coração com o passar do tempo. É uma profunda, sincera e pura vontade de cuidar de alguém. Normalmente se pensa que a carência afetiva seja algo contrário, isto é, uma vontade de ter alguém que cuidasse da gente. Confesso, porém, que a minha visão de felicidade, aqui na terra, revela-se como a possibilidade de cuidar, de proteger. Assim imagino o meu namoro. Assim me sinto em relação a Lucas ou Gabriel. É uma sensação isenta de perversidade. É uma pena que ainda não aprendi a demonstrar isso de maneira mais clara e convincente. Talvez, um dia, o meu Anjo da Guarda me ensine essa arte, afinal é isso que ele faz comigo...
 
Todos os dias, antes de dormir, faço a saudação ao meu Anjo da Guarda, que aprendi ainda com a minha avó:

2 comentários:

  1. "Santo Anjo do Senhor meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarde, me agoure e mne ilumine. Amém."
    Gostei do blog, gosto de tua fé...esta oração costumo fazer até hoje, antes de dormir, e me sinto muito bem, apesar da insônia, então até o remedinho fazer efeito fico repetindo esta oração como um mantra. Tenho um Anjo também, mas não me atrevi a pedir estas "coisas" para ele, porque se eu não tiver mérito algum, como compartilhar minha vida com alguém?
    ps. Meu carinho meu respeito meu abraço.

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  2. Obrigado pela visita e por suas palavras, Jair.

    Só queria polemizar um pouco com a sua afirmação sobre a falta de méritos, como o impedimento para compartilhar a vida com alguém. Primeiro, eu acho que cada ser humano tem, sim, os seus méritos. Além disso, a vida compartilhada com alguém, depende mais de amor, do que de qualquer mérito. É aquela sensação de um "amor não merecido", que nasce no coração de outra pessoa, ao qual eu procuro corresponder, mesmo sabendo que, provavelmente, não vou conseguir. Ao mesmo tempo sei que o amor não depende dos meus méritos. Tudo bem, na linguagem popular, existe a expressão "merecer", ou melhor, "não merecer" o amor, quando alguém fere a confiança, o respeito, a fidelidade. Enfim, entramos em uma relação com alguém, trazendo o mérito de nossa personalidade, de nossa história e, principalmente, de nossa prontidão de entrega. Não sei se interpretei bem as suas palavras, mas senti nelas um pouco de baixa autoestima...

    Grande abraço! Seja sempre bem-vindo!

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