ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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9 de outubro de 2013

Em parte, sou um conservador

 
O conservadorismo e o progressismo são dois conceitos que preenchem a cena política, revelam-se nas conversas à mesa do boteco e detectam-se em todos os níveis da vida eclesial. A regra que diz: "Os opostos se atraem", muitas vezes precisa de uma vírgula, para constatar: "atraem-se, para a guerra". Paradoxalmente, porém, com certa frequência, descobrimos que os mesmos opostos conseguem coexistir - sem entrar em guerra - dentro da mesma pessoa. Entre os famosos, o excelente exemplo, é o Beato João Paulo II, de quem se diz que era um progressista em questões da doutrina social e o conservador, em relação à doutrina moral. Mas, talvez, o paradoxo tenha sido apenas aparente. Se olharmos a um dos princípios fundamentais que, além do Evangelho, movia a atuação desta Papa - e este principio é o personalismo ético - ali mesmo iremos encontrar a luta pelos direitos trabalhistas, o combate à fome, o apelo pala paz, bem ao lado de absoluta proibição de preservativos, a veemente condenação das práticas (e uniões) homossexuais, do aborto e do divórcio.
 
É neste sentido que eu mesmo me defino como um conservador parcial. De um lado, penso sobre a releitura das passagens bíblicas sobre a criação do ser humano, a redefinição do conceito de castidade e o reconhecimento de homossexualidade como planejada (e não apenas admitida) por Deus. Por outro lado, porém, defendo a monogamia (mesmo em uniões homoafetivas) e questiono a parte mais radical da "ideologia trans".
 
Acho muito precioso e construtivo o livro de Klecius Borges, "Muito além do arco-íris - amor, sexo e relacionamentos na terapia homoafetiva". A obra reúne os questionamentos, trazidos pelos gays ao consultório de psicoterapia e apresenta os conselhos de um profissional (o próprio autor, psicoterapeuta, analista junguiano e mestre em psicologia clínica). Várias ideias sobre a estratégia de superação de traumas e problemas de relacionamento, são ótimas e, sem dúvida, muito úteis. O ponto de partida para todo este trabalho é o questionamento da heteronormatividade. Pergunto-me, entretanto, se a monogamia faz parte da (rejeitada) heteronormatividade, ou antes, é um princípio de "antroponormatividade", ou seja, define a forma de um laço afetivo fundamental que faz parte da natureza humana.
 
A proposta de experimentar o relacionamento poliamoroso (que permite ter um envolvimento sexual e emocional com mais de um parceiro), aparece várias vezes nas páginas do livro. Clecius escreve, por exemplo: Criados numa cultura homocentrada, na qual o casamento monogâmico representa o modelo saudável de relacionamento, e a não exclusividade sexual é tratada como traição, passível de várias penalidades, inclusive o divórcio, é natural que os homens gays (assim como os héteros) internalizem esse modelo a ser respeitado (p. 26-27). Relatando o caso de Samuel e Léo, o autor escreve: O que Samuel, e certamente também Léo, não sabe é que essa maneira de amar tem hoje um nome, poliamorosidade - isto é, o desejo e a capacidade de amar e de se relacionar amorosa e sexualmente com mais de um parceiro sem alimentar os sentimentos de posse e de exclusividade comuns nos relacionamentos tradicionais -, e é cada vez mais aceita e praticada por grupos de vanguarda comportamental. (...) compreendê-la e aceitá-la como uma forma legítima e saudável (...) me parece muito promissor, pois nela está plantada a semente de uma transformação criativa dos modelos tradicionais que, como sabemos, podem ser profundamente aprisionadores (p 72 e 74).
 
A minha opinião negativa sobre tal proposta, baseia-se na experiência própria e diz respeito apenas da minha perspectiva existencial. Enquanto não critico, nem condeno, as pessoas que vivem assim por opção livre e consciente, eu mesmo não consigo me ver nessa situação. Ainda que eu ame (de certa forma) e considere amigos, todos os meus 3 ex-namorados, não consigo imaginar a vida em formação de um triângulo (neste caso: um quadrado) como a união poliamorosa (poligâmica). Confesso que a cena de intimidade entre nós 4, até me parece possível (e interessante), mas apenas como travessura e não um estado permanente de "namoro". Acredito que o desejo primordial de poder chamar alguém de "(só) meu", faça parte na natureza do ser humano e não seja o atributo da heteronormatividade.
 
Mencionada acima, a minha contestação de algumas ideias mais extremas da "ideologia trans" é ainda mais firme. Tenho consciência de estar diante de um profundo, delicado e complexo mistério do ser humano, em busca de adequação da própria corporeidade com a afetividade e a identidade sexual. Estou totalmente a favor de todos os esforços possíveis que possam trazer a paz e a felicidade a uma pessoa. Reconheço, também, o enorme sacrifício com que as pessoas transgêneras pagam por isso. Não sou capaz, porem, de compreender aquela parte da teoria do gênero que propõe a livre e frequente mudança de sexo. Para mim, isso é a falta de identidade. Essa sugestão podemos observar na enquete "Teste a sua dependência de gênero", proposta pelo site da Letícia Lanz.
 
É possível perceber aqui que, em certas coisas, sou tradicionalista e conservador. Já era mais do que isso. Demorei mais de 30 anos para admitir a minha própria homossexualidade. Talvez, daqui a outros 30 anos (caso esteja vivo), aceite as ideias apresentadas aqui. Vou ter que admitir, também, que - devido à minha idade - tudo isso permanecera, realmente, apenas no nível das ideias. 

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