Continua o meu sonho conto sobre o namoro com um rapaz coreano. Acabamos de chegar na casa da minha mãe e ela, muito rapidamente, passou a adorá-lo. O sentimento é, também, nitidamente recíproco. Essa afinidade começou logo no primeiro dia, no final do almoço. A minha mãe estava inicialmente muito preocupada com as diferenças culturais, especialmente no que se refere aos costumes culinários e à etiqueta à mesa. A minha declaração de que o rapaz era moderno, tranquilizou a minha mãe, até o susto que ela levou, por um delicioso instante, depois da refeição. Como de costume, a minha mãe tirou os pratos da mesa e foi à cozinha para fazer o café (sagrado, lá em casa). Ela toma um café solúvel com leite, no copo e sabe que eu gosto de acompanha-la da mesma maneira. O meu café é sempre um pouco mais forte e cada um coloca a sua dose de açúcar no copo (ou seja, o café não é adoçado na hora de ser feito). Como, porém, tratava-se de uma visita e ainda tão exótica, a minha mãe, educadamente, perguntou da cozinha se ele também queria o café ou, por exemplo, um chá. Agora não sei se foi de um propósito minuciosamente elaborado, mas o fato é que ele pediu um chá preto. Dentro de alguns instantes, a minha mãe chegou, carregando três copos em uma bandeja. Estávamos sentados no mesmo sofá, eu no meio, o rapaz e a minha mãe nas pontas. Ele me pediu para trocar de lugar e se sentou mais perto da minha mãe. A cena em seguir merece uma atenção redobrada...
Ele tem este costume com as pessoas que considera amigas: quando fala, segura com as duas mãos a mão do outro. A minha mãe contou-me depois que "ele tem alguma coisa no toque que dá uma sensação de ternura e de paz" ("Mãe! Eu que o diga!"). Segurando, portanto, a mão da minha mãe e olhando bem nos seus olhos, ele começou a falar pausadamente...
"Mãe! [sic!] Eu conheço muito bem os costumes e as tradições milenares da minha pátria. Sei também cumpri-los todos, com muita reverência, pois reconheço o seu valor. Entre as regras tradicionais da Coréia está a forma de servir o chá. É uma bebida nobre que requer o recipiente igualmente nobre, isto é, a porcelana. Para os coreanos, servir o chá em um copo de vidro, configura o grave insulto. (Nessa hora, a minha mãe tinha a mistura de susto e vergonha, estampada no rosto). Ele continuou, segurando as mãos dela e disse: Eu sou um coreano moderno, aprendi no Brasil muitas coisas novas i boas. Uma delas é a capacidade de respeitar profundamente os costumes antigos, sem estar aprisionado neles. Para mim, o modo tradicional de servir o chá, é um entre outros. Nem melhor, nem pior. É apenas um dos modos. Por isso vou tomar com muito gosto o chá que senhora fez para mim, pois o que importa, é o seu carinho e a sua gentileza ao fazê-lo e não a embalagem no qual ele veio. Com a mesma gratidão, eu tomaria o seu chá, servido em qualquer recipiente."
Quando tudo parecia bem resolvido e a sensação de alívio tinha aparecido no rosto da minha mãe, ele prosseguiu: "Aproveitando este exemplo, queria lhe falar sobre outra coisa. Tanto na tradição coreana, quanto na cultura de todas as nações, o casamento entre homem e mulher é mais frequente e considerado normal, a ponto de todas as outras formas serem vistas, pela maioria, como um insulto, ou absurdo. Eu, porém, compreendo este modo como um entre outros. Respeito, reconheço o seu valor milenar e majoritário. Porém, para mim, é apenas um dos modos. É por isso que gostaria de declarar à senhora o meu desejo e pedir o seu consentimento para que eu possa me casar com o seu filho. Na verdade, foi ele que me pediu em casamento, mas é o mesmo sentimento e a mesma vontade que eu trago no meu coração."
Não sei se foi a força da comparação, ou as suas mãos "mágicas", mas o que importa é que a minha mãe ficou emocionada e deu a ele um demorado abraço regado de lágrimas. Depois disse simplesmente: "Vocês têm o meu apoio para sempre. Cuidem bem um do outro e se amem muito!"
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Dicionário:
감사합니다 엄마 - (kam-sa-ham-ni-da, oem-ma) Muito obrigado, mamãe!
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