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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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27 de outubro de 2013

Perda e reencontro

 
Termino aqui o ciclo de meditações inspiradas nos primeiros cinco mistérios do Rosário. Confesso que já tive períodos de maior fidelidade a essa oração que aprendi ainda no tempo da minha adolescência. Descobri, com o passar do tempo, que o essencial nessa "reza" não é a repetição das "Ave-marias", mas a meditação bíblica, ou melhor, bíblico-existencial. A minha avó que rezava o Rosário todos os dias, uma vez me disse que o anjo tira do abismo do inferno as almas, usando - como se fosse uma corrente - o terço e que, portanto, eu deveria me agarrar a ele. Inicialmente levei isso meio que pelo lado de superstição. Agora sei que o que nos mantém ligados a Deus não é um objeto qualquer, mas sim, a oração confiante e, justamente, existencial, ou seja, aquela que traz na presença de Deus a nossa vida do jeito como ela está. Como falei em outra oportunidade, a minha oração é homossexual, porque em mim tudo é assim e eu não me vejo em condição de ir ao encontro com o Senhor apenas de maneira fragmentada. A homossexualidade não é uma característica, digamos, genital, mas envolve a razão e os afetos, o corpo e a alma. Ela ultrapassa todas as dimensões do meu ser...
 
O quinto mistério gozoso do Rosário me leva diretamente à adolescência. Para muitos adultos o termo em si é visto como pejorativo. Adolescente é "aborrescente". Lembra-se logo de rebeldia, imaturidade e esquisitice. Algo assim aparece, até, na cena bíblica em questão (Lc 2, 41-52). Podemos imaginar, com toda simplicidade, o momento em que Maria e José, tendo cumprido todas as prescrições da Lei, disseram a Jesus: "Agora vamos embora". Jesus, porém, ficou naquele lugar e não foi embora. Aquilo que, no olhar apressado e superficial, parece ser rebeldia ou desobediência é, de fato, a manifestação de uma nova autonomia. A pessoa começa a seguir os seus próprios caminhos. Lembro-me de uma meditação sobre esse mistério do Rosário que dizia: "Na verdade não foi Jesus que se perdeu dos pais, mas foram eles que se perderam em relação a ele". Na maioria dos casos, os pais têm dificuldade de admitir aquela autonomia (autossuficiência) nascente do(a) filho(a). E ainda mais, quando se trata de sexualidade, principalmente quando esta não se encaixa nos padrões gravados na mentalidade deles. Ainda que existam os testemunhos dos pais que dizem: "Nós sabíamos (desconfiávamos) disso desde a sua infância", a maioria dos adolescentes que descobrem e revelam a sua homossexualidade, são forçados a enfrentar batalhas pesadas que - não raramente - terminam em tragédia. É porque, para maioria dos adultos, o adolescente "não sabe o que quer". Na vida de muitos adolescentes repete-se, neste sentido, a resposta de Jesus: "Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu Pai?" (Lc 2, 49). Repete-se, também, a reação dos pais: "Eles, porém, não compreenderam a palavra que ele lhes falou" (Lc 2, 50).
 
O que me vem mais à memória em relação à adolescência, é a timidez, acompanhada (paradoxalmente) pela teimosia. Houve alguns conflitos com o meu irmão e com os meus pais. Era o tempo de várias descobertas e experiências. Um período precioso, porém não valorizado por mim mesmo como tal. Não sei se todo adolescente sonha em ser logo um adulto, mas algum tipo de insatisfação - eu acho - faz parte dessa fase da vida. Curiosamente, o nome desse mistério do Rosário: "A perda e o reencontro", retrata, de maneira bastante exata, a experiência de cada adolescente.
 
Acrescento aqui mais uma observação pessoal. Ainda que as ciências forneçam algumas definições sobre a adolescência, inclusive os limites de idade, no meu caso, alguma parte de adolescência durou até uns 30 anos. Foi então que, definitivamente, admiti a minha própria homossexualidade. Antes, simplesmente, procurava evitar essa definição. Não queria ou não precisava me definir. De certa forma fui poupado, tanto de grandes traumas dessa descoberta, quanto de ocasiões ou necessidades de colocar em prática os meus desejos.
 
Rezando e meditando hoje "A perda e o reencontro de Jesus no Templo de Jerusalém", quero interceder por todos os adolescentes que enfrentam conflitos internos e externos, principalmente em relação a sua descoberta de homossexualidade.

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