ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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22 de outubro de 2013

O nascimento

 
Daqui a pouco vai terminar o mês de outubro e eu aqui estou demorando com as prometidas (?) meditações dos mistérios do Rosário (as anteriores estão aqui e aqui). Ainda estamos no primeiro terço, chamado gozoso, mas - para evitar eventuais piadinhas de mau gosto - podemos dizer que se trata de mistérios de alegria. O momento central, evidentemente, é o nascimento de Jesus que nos leva diretamente ao nosso próprio nascimento e, logo em seguida, à figura da mãe. Foi a minha mãe que me ensinou a associar o dia do aniversário natalício à pessoa da mãe. Ela própria fazia assim, enquanto a minha avó estava viva: completando mais um ano de vida, homenageava a sua mãe com as flores. É como se fosse o segundo Dia das Mães, ainda mais particular, porque pessoal. E não é a questão de esquecer do pai, mas na hora do parto, o meu pai deve ter bebido umas doses, enquanto a minha mãe estava naquela sublime fronteira que separa a vida e a morte. Ela sobreviveu e eu apareci. Rezando o terceiro mistério de alegria, imagino as cenas de Belém, mas, ao mesmo tempo, imagino o meu próprio nascimento. O que já sei, nasci antes do tempo previsto, o que foi definido como "de 7 meses" (sinceramente, não faço ideia sobre essa contagem, nem como calcular a data, digamos, "certa" que seria o dia do meu nascimento, caso corresse tudo no esquema). O que importa é o fato de eu ter nascido e vivido até o momento presente. O resto está nas mãos de Deus. Assim, como o passado. Por isso, nesta ocasião, lembro com muita gratidão, de algumas passagens bíblicas:
  • A mulher, quando vai dar à luz, fica angustiada, porque chegou a sua hora. Mas depois que a criança nasceu, já não se lembra mais das dores, na alegria de um ser humano ter vindo ao mundo. (Jo 16, 21)
  • Todos os que ouviram a notícia ficavam pensando: "Que vai ser este menino?" De fato, a mão do Senhor estava com ele. (Lc 1, 66)
  • Nem todos são capazes de entender, mas só aqueles a quem é concedido. De fato, existem eunucos que nasceram assim do ventre materno (...). (Mt 19, 12)
  • Foste Tu que criaste minhas entranhas e me teceste no seio de minha mãe. Eu Te louvo porque me fizeste maravilhoso; são admiráveis as Tuas obras; Tu me conheces por inteiro. Não Te eram ocultos os meus ossos quando eu estava sendo formado em segredo, e era tecido nas profundezas da terra. Ainda embrião, Teus olhos me viram e tudo estava escrito no Teu livro; meus dias estavam marcados antes que chegasse o primeiro. (Sl 139[138], 13-16)
O que me foi contado inúmeras vezes, desde à infância, é que os meus pais desejavam e esperavam uma menina. Talvez por isso, tenham comprado, antes do tempo, algumas bonecas, com as quais cheguei a brincar, antes de desaparecerem. Ora, não escrevo isso para acusar os meus pais, afinal tudo o que fizeram, foi por um amor ingênuo e sincero. Se foi isso que contribuiu para minha orientação sexual - entre muitos outros fatores - louvado seja Deus.
 
A mina avó costumava me contar em segredo que, quando nasci, o médico chamou o meu pai e lhe disse: "Você tem um filho, mas ele não vai sobreviver". Ainda bem que - neste caso - os médicos às vezes se enganam. A vontade de viver é a força principal na luta contra todos os argumentos que procuram fazer com que a gente desista. Inclusive a homofobia e qualquer outro preconceito. Estou falando apenas sobre o meu caso. Não pretendo de maneira alguma julgar aqueles que, justamente por causa da discriminação, atentaram contra a própria vida. A minha vontade de viver, desafiada já na hora do nascimento, foi se fortalecendo ao longo dos anos e, quando chegou a hora, ajudou-me no processo de reconciliação comigo mesmo, ou seja, na minha autoaceitação.
 
Eu sei que me espera ainda um novo nascimento - para a eternidade. De certa forma, sinto uma ansiedade, em relação a esse momento. Enquanto ele não chega, desejo viver.
 
Outras meditações sobre o nascimento de Jesus podem ser encontradas neste blog, no final do ano 2010 e no início de 2011 (Novena e Oitava de Natal).

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