ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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3 de abril de 2011

O cego de nascença

Neste IV Domingo da Quaresma (Ano A), a liturgia apresenta-nos a cena de cura do cego de nascença (Jo 9, 1-41). É bom lembrarmos que, especialmente neste ciclo litúrgico, chamado "Ano A", a Igreja nos leva a revivermos as etapas do caminho de preparação para o Sacramento do Batismo, o Catecumenato. Para quem já foi batizado, este período torna-se uma experiência que podemos denominar "neocatecumenato" (existe um movimento com este nome, reconhecido pela Igreja). O catecumenato em si, vivem aqueles que, de fato, preparam-se para o Batismo (os catecúmenos), tendo alcançado a idade adulta (o que, no sentido definido pelo Código de Direito Canônico, ocorre na idade de 7 anos). Leia sobre o catecumenato, por exemplo aqui.
O pregador da Casa Pontifícia, o Padre Raniero Cantalamessa, comenta o Evangelho de hoje: Ver é um milagre, só que não lhe damos atenção porque estamos acostumados. Eis aí então que Deus às vezes atue de forma repentina, extraordinária, a fim de sacudir-nos de nosso supor e tornar-nos atentos. É o que fez na cura do cego de nascença e de outros cegos no Evangelho. Mas é só para isso que Jesus curou o cego de nascença? Em outro sentido também nascemos cegos. Há outros olhos que devem ainda abrir-se ao mundo, além dos físicos: os olhos da fé! Permitem vislumbrar outro mundo muito além do que vemos com os olhos do corpo: o mundo de Deus, da vida eterna, o mundo do Evangelho, o mundo que não termina nem sequer... com o fim do mundo. É o que Jesus quis recordar-nos com a cura do cego de nascença. Antes de tudo, Ele envia o jovem cego à piscina de Siloé. Com isso, Jesus queria significar que estes olhos diferentes, os da fé, começam a abrir-se no batismo, quando recebemos precisamente o dom da fé. Por isso, na antiguidade o batismo se chamava também «iluminação», e ser batizado era chamado de «ter sido iluminado». (Leia a pregação inteira aqui)
O que pode nos interessar de modo especial, no contexto de nossa homossexualidade, é a parte do texto que apresenta o diálogo de Jesus com os seus discípulos: Os seus discípulos lhe perguntaram: “Rabi, quem pecou para que ele nascesse cego, ele ou seus pais?” Jesus respondeu: “Nem ele, nem seus pais pecaram, mas é uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus." (Jo 9, 2-3). Quantos pais de homossexuais, quantos parentes, vizinhos e até estranhos, fazem esta pergunta: "Quem é culpado pelo fato de que essa pessoa seja homossexual?". Os próprios gays e lésbicas fazem, com frequência, esta pergunta. A analogia que faço, não está entre a cegueira e a homossexualidade, portanto, para o melhor entendimento, podemos interpretar a frase do Evangelho assim: “Rabi, quem pecou para que ele nascesse assim, ele ou seus pais?”. É claro que esta reflexão serve somente para aqueles que admitem a tese de que, na formação da orientação sexual, atuam os fatores anteriores ao nascimento (genética, influências ocorridas durante a gestação, etc.). Refleti um pouco sobre os segredos da gestação no 2° dia da Novena de Natal (aqui) e também, em outra postagem, sobre a genêtica (aqui). É neste sentido que leio a resposta de Jesus: Nem ele, nem seus pais pecaram, mas é uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus. Acredito que, a partir destas palavras de Jesus, seja possível enxergar melhor a nossa identidade e prosseguir pelo caminho de novas descobertas: quais são as obras de Deus que se manifestam em mim e, quais ainda devem se manifestar, com a minha participação consciente, livre e confiante?
Leia as belíssimas reflexões no site "Diversidade Católica" (aqui e aqui), baseadas no episódio de cura do cego de nascença: "Olhos para ver o invisível " e "Caminhos para a fé".

Um comentário:

  1. Suas palavras nos comoveram mto, caro amigo. Sim, tb nós acreditamos que tudo aquilo que somos (e não só nossa homossexualidade; afinal, não somos apenas gays, somos? rs) faz parte do plano de Deus para nós, do conjunto de dons com que Ele nos criou, e nada, NADA justifica que sejamos menos inteiros e menos completos do que o Pai nos fez e quis. :-))))

    Um imenso e fraterno abraço.

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