A ressurreição de Lázaro (Jo 11, 1-45) é a magnífica revelação da Humanidade e da Divindade de Jesus. Quando lemos que Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro (v. 5), sentimo-nos em casa, pois também somos "muito amigos" de alguém. De maneira ainda mais particular toca-nos aquele curtinho versículo que diz: E Jesus chorou (v. 35). Agora sei, a partir desta palavra, que posso entrar em profunda comunhão com o Senhor, quando choro. Ai de mim se não conseguir chorar. As lágrimas tornam-me mais humano, assim como revelam poderosamente a Sagrada Humanidade de Jesus (recomendada tanto pela Santa Teresa d'Ávila, como o conteúdo de meditação frequente - leia aqui). É um prenúncio da revelação máxima de Jesus-Homem que se realizou na cruz, assim como a ressureição de Lázaro, introduz ao mistério da Vida que venceu a morte em Jesus. A revelação da Divindade de Cristo não consiste somente na manifestação do seu poder sobre a vida e a morte. O Senhor não quer mostrar apenas o que Ele pode fazer (sendo todo-poderoso, logicamente, pode tudo), mas também, como é que faz. Evidentemente, não somos capazes de compreender toda a metódica (se preferir: metodologia) de Deus: Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são os meus — oráculo do Senhor. Pois tanto quanto o céu acima da terra, assim estão os meus caminhos acima dos vossos e meus pensamentos distantes dos vossos. (Is 55, 8-9) Graças a Jesus, porém, podemos penetrar um pouquinho neste mistério. A passagem sobre a ressurreição de Lázaro é um exemplo. Primeiro, parece que o Senhor gosta de surpreender a gente. Vejamos a desorientação dos discípulos, a delicada, mas firme, "reclamação" de Marta e Maria e, sobretudo, os comentários daqueles judeus: Este, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito com que Lázaro não morresse? (v. 37). Esta é a palavra-chave: "não podia?". A resposta é clara e, acima de tudo, única: "podia!". Podia ter feito, mas não fez. Se não fez, foi porque não quis. O próprio Jesus disse isso aos discípulos: Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela. (v. 4); e, depois, a Marta: Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus? (v. 40). Creio que o nosso problema está na dificuldade de enxergarmos esta glória. Talvez, até, porque ela ainda não se tenha manifestado. Confesso que, o que me consola e tranquiliza, diante dos fatos que não compreendo é, exatamente, a convicção de que o Senhor sabe muito bem o que faz e tudo que tem feito é o melhor. Penso que, muitas vezes, é melhor que eu não entenda, mas, em primeiro lugar, tenho consciência de que sou pequeno demais para entender. O que importa, nessas horas, é estar nas mãos de Deus. Vejamos alguns exemplos: Deus não podia ter feito com que o terremoto, seguido por tsunami, não acontecesse no Japão? Ou a tragédia na região serrana do Rio? Ou o massacre na escola Tasso da Silveira em Realengo? Outro tipo de pergunta: Deus não podia ter feito com que eu nascesse hetrossexual? E, já nascido com algum tipo de predisposição para a homossexualidade, Ele não podia ter feito que eu ficasse livre disso (alguns abusam da palavra "curado"). Repito: podia! Podia tudo isso, porque Ele é todo-poderoso. Mas não o fez, assim como não fez com que Lázaro não morresse. O exemplo mais eloquente é o do momento literalmente crucial. Enquanto Jesus agonizava, os judeus comentavam entre si: A outros salvou, a si mesmo não pode salvar! É Rei de Israel: desça agora da cruz, e acreditaremos nele. (Mt 27,42) Jesus podia descer da cruz? Podia! Não desceu. Não quis. A cruz é uma das peças mais importantes em todo o seu plano de amor e salvação!
Uma outra ideia, também a respeito da metódica (metodologia) de Jesus. Chamam a minha atenção alguns detalhes. Jesus disse: Tirai a pedra! (v. 39) e, mais tarde: Desatai-o e deixai-o caminhar. (v. 44). O Senhor que, apenas com o poder de sua palavra, faz a morte recuar e a vida renascer, dá trabalho às pessoas ali presentes. Ele não podia fazer o "serviço completo"? Para mesma pergunta, a mesma resposta: podia! Quis, entretanto, envolver o homem nessa obra. Acredito que essa seja uma revelação muito importante para nós. Jesus não nos chama para sermos espectadores, mas participantes. E Ele nos diz o que fazer, ainda que fiquemos surpresos e queiramos protestar como Marta...
Nenhum comentário:
Postar um comentário