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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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4 de abril de 2011

A fé em andamento

Embora usemos com frequência a expressão: "o ato de crer", a fé não é uma relidade estagnada. A dinâmica, o movimento constante, é a sua natureza própria. Neste sentido, o ato de crer, seria um dos passos da jornada de fé. Assim como numa caminhada, cada passo é algo novo, também cada ato de crer é diferente. Podemos perceber isso na passagem do Evangelho de hoje (Jo 4, 43-54). O funcionário do rei dá seu primeiro passo ao sair de casa à procura de Jesus. Não desiste do seu propósito diante da declaração de Jesus: Se não virdes sinais e prodígios, não acreditais. Podemos falar aqui de uma fé desafiada que, se fosse pequena ou fraca, iria desistir naquele exato momento. O homem, no entanto, insiste: Senhor, desce, antes que meu filho morra! Agora vem um desafio ainda maior: Podes ir, teu filho está vivo. Ou seja, Jesus não atende ao pedido do pai angustiado de maneira que este imaginava. Acredito ser esta a verdade muito importante para a nossa percepção da fé e de oração. Quantas vezes as nossas preces tomam uma forma de instruções para Deus! Nesta altura, o homem do Evangelho, dá o segundo passo: acredita na palvra de Jesus e vai para casa. É, mais ou menos, como a resposta de Simão Pedro, no início de sua vocação: Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos; mas por causa de tua palavra, lançarei a rede. (Lc 5, 5) Aquele funcionário do rei, um pai preocupado, pode ter pensado assim: "Imaginei que o Mestre fosse para minha casa para curar o menino, mas por causa de sua palavra, eu vou embora sozinho". Vai com fé e não com revolta no coração. E a fé está sempre acompanhada pela esperança, ambas sustentadas pelo amor (a fé, a esperança e a caridade, são inseparáveis). Alguém pode ter criticado aquele homem: "Poxa, você não trouxe Jesus?", mas ele está seguro: Tendo uma tal esperança, procedemos com toda a segurança. (2Cor 3, 12) Somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos em apuros, mas não desesperançados. (2Cor 4, 8) Pois, se labutamos e lutamos, é porque pusemos a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador de todos, principalmente dos que têm fé. (1Tm 4, 10) A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vêem. (Hbr 11, 1). O Papa Bento XVI, em sua encíclica sobre a esperança, "Spe salvi" (leia esta encíclica aqui), escreveu que «esperança» equivale a «fé» (n. 2). O Evangelho relata os detalhes do retorno daquele homem para casa: os empregados com boas notícias e a preocupação do pai com a hora em que o filho tinha melhorado. Tenho a impressão de que, naquele momento, esse homem estava mais interessado com o detalhe do horário, do que com o estado de saúde do próprio filho, mas talvez tenha siddo assim, porque, de fato, ele não estava mais preocupado com o filho, mesmo sem tê-lo visto. Tinha acreditado de verdade. O terceiro passo da sua jornada de fé, porém, ocorreu já em casa: Ele abraçou a fé, juntamente com toda a sua família. (Jo 4, 53). Três etapas: acreditou, foi embora (agiu, contra a lógica e contra os sentimentos) e, finalmente, abraçou a fé. E, quando o evangelista conclui a descrição deste episódio, com a informação de que esse foi o segundo sinal de Jesus. Realizou-o quando voltou da Judeia para a Galileia. (v. 54) - podemos interpretá-lo de duas maneiras: a cura do menino foi, sem dúvida, um sinal (no Evangelho é o sinônimo de milagre), mas também (o que parece sugerir a sequência imediata das afirmações de João), não deixa de ser um sinal a mudança de vida daquela família que abraçou a fé (ou seja, a sua conversão).
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Para nós, homossexuais e cristãos, é muito importante esta lição de fé. Primeiro, porque temos motivos de sobra para deistir, diante das palavras (muitas vezes ouvidas dentro da própria Igreja) que pretendem nos desencorajar. É bom lembrarmos aqui, mais uma vez, a frase de São Paulo, citada acima: Pois, se labutamos e lutamos, é porque pusemos a nossa esperança no Deus vivo (1Tm 4, 10). Para terminar, vou repetir a minha opinião, sobre a enorme necessidade de um trabalho sério, estruturado, apoiado de verdade pela Igreja, que podemos chamar de "Pastoral para Homossexuais". Nós precisamos urgentemente de uma formação espiritual de qualidade. Não podemos continuar abandonados e desprezados pela Igreja. Caso contrário, a própria Igreja permanecerá em estado de omissão grave.

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