Até onde consegue chegar o ser humano? A perplexidade toma conta do nosso coração, diante das notícias sobre a maldade de um criminoso que, nesta manhã, assassinou dentro de uma escola, várias crianças inocentes. Os noticiários falam de um - mais que provável - transtorno psíquico daquele homem. Houve indícios anteriores dessa atitude desumana? Alguém teve a chance de prever e, principalmente, impedir, tal acontecimento? Certamente, vamos ouvir ainda muito sobre este assunto. Não cabe a mim emitir aqui nada em tom de definição ou julgamento. Uno-me, em oração, com todas as vítimas e concordo com as palavras de Dom Orani, Arcebispo do Rio: O atentado feriu não só aqueles que foram atingidos, mas também a todos os cariocas. (Leia o texto da nota aqui)
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Estamos na proximidade da celbração anual do Mistério Pascal. Apesar do nome, que associamos principalmente à ressurreição, este mistério engloba também o inimaginável sofrimento do Filho de Deus. Não me refiro "apenas" à paixão de Jesus, ocorrida entre a noite de Quinta-feira Santa e a tarde de Sexta-feira da Paixão. Sim, naquelas horas foi o auge do sacrifício. Os textos do Evangelho lidos nestes dias, porém, mostram-nos o cerco de maldade que se apertava, cada vez mais, em torno de Cristo. É impressionante a frieza de coração, bem como a "anestesia de inteligência", que apresentam os inimigos de Jesus. No texto de hoje (Jo 5,31-47), lemos a triste constatação de Jesus: Eu sei que não tendes em vós o amor de Deus. (v. 42) Foi esta falta de amor de Deus que impediu àqueles judeus, líderes religiosos, a reconhecerem o significado das obras de Jesus: As obras que eu faço dão testemunho de mim, mostrando que o Pai me enviou. (v. 36) É bom pararmos aqui, para refletir um pouco. Que obras são essas? Sem dúvida, em primeiro lugar, os milagres (com frequência descritos no Evangelho como "sinais"). Enquanto o povo simples se maravilhava com esses feitos extraordinários de Jesus, as autoridades ficavam furiosas. Entre vários exemplos, cito apenas dois: Jesus estava ensinando numa sinagoga, num dia de sábado. Havia aí uma mulher que, dezoito anos já, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e totalmente incapaz de olhar para cima. Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse: “Mulher, estás livre da tua doença”. Ele impôs as mãos sobre ela, que imediatamente se endireitou e começou a louvar a Deus. O chefe da sinagoga, porém, furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado, se pôs a dizer à multidão: “Há seis dias para trabalhar. Vinde, pois, nesses dias para serdes curados, mas não em dia de sábado”. (Lc 13, 10-14) A reação do chefe da sinagoga me espanta. Como se tivesse falado de varrer o chão ou carregar as cadeiras dentro da sinagoga no dia de sábado, mas tratava-se de um milagre! Outro exemplo é ainda mais chocante: Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde morava Lázaro, que ele tinha ressuscitado dos mortos. Lá, ofereceram-lhe um jantar. Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Muitos judeus souberam que ele estava em Betânia e foram para lá, não só por causa dele, mas também porque queriam ver Lázaro, que Jesus tinha ressuscitado dos mortos. Os sumos sacerdotes, então, decidiram matar também Lázaro, pois por causa dele muitos se afastavam dos judeus e começaram a crer em Jesus. (Jo 9, 1-2. 9-11) Sinceramente, não consigo entender a insensibilidade dos corações daqueles homens (homens religiosos, é bom lembrar!). A falta de boa vontade não resulta apenas em uma simples indiferença. Torna-se má vontade.
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Concluo com uma observação no contexto da experiência diária de muitos homossexuais. Digo a todo aquele que nos condena, despreza e persegue: Por que você, antes de dizer ou fazer qualquer coisa, não quer nos conhecer mais de perto? Olhar nos olhos de um homossexual? Compreender, um pouco melhor, a sua vida, os seus sentimentos, a sua história? Jesus disse que as suas obras davam testemunho a respeito dele. Você pensa que os homossexuais vivem fazendo "aquele sexo pavoroso" 24 horas por dia e que essas são as suas únicas "obras"? Você já imaginou que muitos homossexuais são filhos, irmãos e amigos carinhosos, ótimos profissionais e artistas, têm alma sensível, coração aberto e sonham com o futuro, assim como você? E que muitos são religiosos e procuram cultivar uma dedicada vida de oração? Ah, sim, existem homossexuais perversos, promíscuos, mentirosos, ladrões, pedófilos e até assassinos. Assim como entre os hetrossexuais. Precisamos rezar por todos eles.
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