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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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6 de março de 2011

genética e homossexualidade

Já escrevi aqui algumas vezes sobre a principal dificuldade enfrentada num (eventual) diálogo sobre a homossexualidade. Quando leio os argumentos, tanto dos "simpatizantes" quanto "antipatizantes", tenho a impressão de que, ao falar, estamos usando idiomas diferentes (ainda que tenha sido a mesma língua portuguesa). Muitas vezes, altera-se (propositalmente) o conteúdo das afirmações de opositores, para "ganhar pontos" em sua própria argumentação. É evidente que, desta maneira, o diálogo torna-se ainda mais difícil (ou praticamente impossível). Acrescentemos aqui toda aquela carga emocional e já temos pronta uma briga sem fim. Como exemplo, trago aqui uma declaração de José Manuel Giménez Amaya, professor de Anatomia e Embriologia na Universidade Autônoma de Madri e diretor do grupo de pesquisa "Ciência, razão e fé" da Universidade de Navarra. O texto completo encontra-se no portal católico de notícias, Zenit (aqui). O professor Amaya diz: "Há condicionamentos genéticos do homem que têm relação com seu comportamento, mas não se pode dizer que são absolutamente determinantes. Infelizmente, muitas vezes, quando se fala sobre os chamados genes que regulam o nosso comportamento, por exemplo, o ‘gene da conduta sexual', pretende-se dar a entender que tudo no homem é determinado pelo genoma. E neste caso, é importante notar, portanto, que, do ponto de vista científico, esta tese não pode ser sustentada." A pergunta que surge naturalmente é: como é que um professor universitário tira conclusões tão precipitadas? Como ele sabe o que, de fato "pretende-se dar a entender". Na linguagem popular, isso se chama "colocar palavras na boca do outro". Quem pretende aqui alguma coisa é o próprio Amaya. Se a frase em questão tivesse o termo "muito" no lugar de "tudo", não seria tão tendenciosa. Desta maneira as coisas ficariam mais objetivas. Vejamos: Quando se fala sobre os chamados genes que regulam o nosso comportamento, por exemplo, o ‘gene da conduta sexual', pretende-se dar a entender que muito no homem é determinado pelo genoma. Pretende-se, sim, professor. Todos os cientistas, sem "interesses partidários" (homo- ou heterossexuais), continuam as pesquisas, em mais diversas áreas de conhecimento do ser humano, procurando (entre muitas outras coisas) aproximar-se de uma explicação mais ampla das origens de homossexualidade. Acontece que, quando um cientista é mais cientista e menos ativista, os resultados de seu trabalho merecem crédito. O que se sabe realmente é que para formar (por exemplo) uma identidade sexual, contribuem muitos fatores, sem excluir, evidentemente, o da genética. Li recentemente uma matéria de Dr. Dráuzio Warella (aqui), médico oncologista e escritor brasileiro, conhecido por popularizar a medicina através de programas de rádio e TV. Esta é a sua opinião:
Existe gente que acha que os homossexuais já nascem assim. Outros, ao contrário, dizem que a conjunção do ambiente social com a figura dominadora do genitor do sexo oposto é que são decisivos na expressão da homossexualidade masculina ou feminina. (...) Sinceramente, acho essa discussão antiquada. Tão inútil insistirmos nela como discutir se a música que escutamos ao longe vem do piano ou do pianista. A propriedade mais importante do sistema nervoso central é sua plasticidade. De nossos pais herdamos o formato da rede de neurônios que trouxemos ao mundo. No decorrer da vida, entretanto, os sucessivos impactos do ambiente provocaram tamanha alteração plástica na arquitetura dessa rede primitiva que ela se tornou absolutamente irreconhecível e original. Cada indivíduo é um experimento único da natureza porque resulta da interação entre uma arquitetura de circuitos neuronais geneticamente herdada e a experiência de vida. (...) Teoricamente, cada um de nós tem discernimento para escolher o comportamento pessoal mais adequado socialmente, mas não há quem consiga esconder de si próprio suas preferências sexuais. Até onde a memória alcança, sempre existiram maiorias de mulheres e homens heterossexuais e uma minoria de homossexuais. O espectro da sexualidade humana é amplo e de alta complexidade, no entanto; vai dos heterossexuais empedernidos aos que não têm o mínimo interesse pelo sexo oposto. Entre os dois extremos, em gradações variadas entre a hetero e a homossexualidade, oscilam os menos ortodoxos. Como o presente não nos faz crer que essa ordem natural vá se modificar, por que é tão difícil aceitarmos a riqueza da biodiversidade sexual de nossa espécie? Por que insistirmos no preconceito contra um fato biológico inerente à condição humana? Em contraposição ao comportamento adotado em sociedade, a sexualidade humana não é questão de opção individual, como muitos gostariam que fosse, ela simplesmente se impõe a cada um de nós. Simplesmente, é!

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