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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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22 de abril de 2011

Via Sacra [14]

XIV Estação: Jesus é sepultado

Ao entardecer, veio um homem rico de Arimatéia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. Ele foi procurar Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que lhe entregassem o corpo. José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo e o colocou num túmulo novo, que mandara escavar na rocha. Em seguida, rolou uma grande pedra na entrada do túmulo e retirou-se. Maria Madalena e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente ao sepulcro. (Mt 27, 57-61) Provavelmente, todos nós já sepultamos alguém. Por mais que tenha sido anunciada, a morte sempre nos surpreende. Enterramos nossos pais, irmãos, amigos. Às vezes precisamos enterrar aquela pessoa, com a qual nos unia um laço particular de amor e paixão. Há vários relatos sobre as famílias de homossexuais mortos, que impediam a presença do namorado/amante do(-a) falecido(-a) no enterro. A dor da perda, multiplica-se, com a semelhante proibição. Nessas horas dá vontade de gritar: "Vocês não conheceram o seu filho (a sua filha)! Ele (ela) gostaria muito de que eu lhe prestasse a última homenagem!". Hoje em dia, chegam às vezes, notícias sobre a decisão judicial acerca da herança de um homossexual falecido, concedida ao parceiro. Certamente, a herança, não é a coisa mais importante, naquelas momentos. A vida que precisa seguir em frente, é o verdadeiro desafio. Nelson Luiz de Carvalho, em seu espetacular livro "O 3° travesseiro" (Ed. Arx; São Paulo, 2005), retrata os momentos do enterro, vividos pelo amante do rapaz que tinha sofrido um acidente fatal: Ao ouvir que o caixão seria fechado, fui envolvido por uma força muito parecida com a do vento. Meu corpo continuava inerte enquanto minha alma se arrastava pelo chão. As pessoas se movimentavam como em câmera lenta. Gritos, choros, desmaios. Desespero. Empurrado para trás por um sopro de sentomentos descontrolados, me separei do abraço seguro do meu pai. Sozinho e quase fora do salão, acompanhei com os olhos, segundo a segundo, a tampa da morte selar a vida. Duas almas gêmeas foram estraçalhadas naquele instante. (p. 209) E conclui, sobre a vida que precisava continuar: (...) desde aquele triste acidente de carro, vivo apenas para viver. Não existe nada na Terra capaz de arrancar esse vazio do meu peito. A saudade é a pior coisa do mundo. (...) Caminhando pelas estreitas alamedas do cemitério, espero por um milagre que nunca aconteceu. O silêncio da morte é enorme. O do meu coração, maior ainda. (p. 210) A última parte do texto está no capítulo final do livro, intitulado "Cinco Anos Depois". Nesta XIV Estação da Via Sacra, uno-me com todos os homossexuais que sofreram o semelhante trauma. É claro que não são apenas os homossexuais que perdem seus entes queridos. Todos os outros, porém, recebem um apoio, por exemplo, de uma "Pastoral de Consolação e Esperança", ou coisa parecida. Os gays, não. Com esta meditação, quero preencher, modesta e simbolicamente, esse lacuna.

ORAÇÃO

Senhor Jesus! Foste sepultado e, a partir daquele momento, todos os túmulos ganharam um novo significado. Como escreve o Teu Apóstolo, Paulo: Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. (...) Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos serão vivificados. Cada qual, porém, na sua própria categoria: como primícias, Cristo; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. (1Cor 15, 20. 22-23) Jeus, consola os que choram. Dá-me a graça de enxergar a morte de pessoa amada e o seu túmulo, com os olhos da fé. Ensina-me a olhar, também assim, à minha própria morte.

Nós Te adoramos e Te bendizemos, ó Cristo,
porque com tua Santa Cruz remiste o mundo.

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