No quinto capítulo do livro “Luz do mundo” (entrevista do Papa Bento XVI concedida a Peter Seewal), encontrei três ideias interessantes que merecem o aprofundamento que, por sua vez, resolveria certa contradição existente entre elas. Nesta parte da conversa, intitulada “A ditadura do relativismo”, o Papa fala sobre o conceito de verdade e uma forte e perigosa corrente de pensamento filosófico. As frases finais deste primeiro trecho espantam positivamente e parecem trazer uma nova esperança para todas as minorias (por que não, também, na dimensão da sexualidade?). É notório o fato de o conceito de verdade se encontrar sob suspeita. De fato, é verdade que ele tem vindo a ser frequentemente mal utilizado. Em nome da verdade, atingiu-se intolerância e crueldade. Por esta razão teme-se que alguém diga “esta é a verdade”, ou então “eu sou detentor da verdade”. Nós nunca temos a verdade, no melhor dos casos, ela tem-nos a nós. (...) Uma grande parte dos filósofos atuais chega a afirmar que o homem não é capaz da verdade. Mas, segundo esta perspectiva, ele também não teria capacidade para o ethos. Então, não teríamos critérios. Só teríamos de ter em conta a forma como nos organizamos de uma maneira geral, e a opinião da maioria é que serviria como único critério válido. Quão destrutivas conseguem ser as maiorias é algo que a história já nos mostrou bastas vezes, em sistemas como o nazismo ou o marxismo, que também foram particularmente contra a verdade. (p. 57-58)
Em seguida, vem um pensamento de Bento XVI que, sem dúvida, pode nos deixar desanimados: Por exemplo, quando se quer, em nome da não-discriminação, obrigar a Igreja Católica a mudar a sua opinião relativamente à homossexualidade ou à ordenação de mulheres, isso quer dizer que ela já não poderá viver a sua própria identidade, e que, em vez disso, há uma religião negativa abstrata que se transforma em critério tirânico e que todos devemos seguir. (p. 59) Surgem na memória vários personagens e fenômenos históricos que enfrentavam forte oposição da Igreja que, por muito tempo, não queria mudar a sua opinião para “viver a sua própria identidade”. Entre os personagens podemos mencionar Giordano Bruno, Galileu e tantos outros e, entre “fenômenos”, a situação dos escravos, das mulheres, dos índios, dos suicidas. Se tivermos como fazer uma comparação real, ficaríamos surpresos em ver como mudou, de fato, a “opinião da Igreja”.
Finalmente, vem um pensamento cheio de esperança (por isso escrevi que os três pontos de vista, num só capítulo do livro, se não forem aprofundados e desenvolvidos, excluem-se mutuamente). (...) há novos despertares católicos, uma dinâmica de movimentos novos (...). São jovens que, animados pelo entusiasmo de terem reconhecido em Cristo o Filho de Deus, querem levá-lo ao mundo. (...) Aí estão a surgir continuamente movimentos novos. Trata-se, portanto, da força de um recomeço e de uma nova vida. (...) É uma força da vida que gera um entusiasmo sempre renovado e que, depois, apresenta novos caminhos. Menos evidente, mas inegável, é o surgimento aqui, no Ocidente, de novas iniciativas católicas que não resultam da imposição de uma estrutura, de uma burocracia. A burocracia está gasta e cansada. Essas iniciativas vêm de dentro para fora, nascem da alegria dos jovens. O cristianismo assume talvez um outro rosto, bem como uma outra forma cultural. Não detém a posição de comando na opinião mundial – aí mandam outros. Ele é, porém, a força da vida sem a qual todo o resto não subsistiria. Motivo pelo qual, por aquilo que me é dado ver e viver, sou otimista quanto ao fato de o cristianismo estar perante uma nova dinâmica. (p. 64) Um dos “novos movimentos”, dentro da Igreja Católica, é, exatamente, o dos homossexuais católicos (ainda que não reconhecido plenamente por ela, não deixa de ser um “novo despertar católico”). Possui o seu entusiasmo a sua dinâmica (apesar de toda timidez), é a “força de um recomeço e de uma vida nova”, “vem de dentro para fora” fazendo com que o “cristianismo assuma um outro rosto e uma outra forma cultural” e “não resulta da imposição de uma estrutura”. Estou especialmente grato ao Papa pela preciosa orientação: para ser bem sucedido, o movimento dos gays católicos (e de outros grupos parecidos) tem que ter, como principais protagonistas, os jovens. E nós (os jovens por mais tempo), precisamos investir no acolhimento e na formação da juventude, bem como em várias formas de incentivá-la para tal movimento.
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