ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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29 de março de 2011

Perdoar 70 × 7

Evangelho de hoje: Mt 18, 21-35. Geralmente os pregadores explicam que “70×7” significa “sempre”. Os números na Bíblia têm sua rica simbologia e o “7” refere-se à perfeição (plenitude). Eu compreendo estas palavras de Jesus também de outra maneira. Se compararmos os efeitos de ofensa (tais como mágoa, raiva, ressentimento, rancor, etc.) com as feridas no corpo, a recomendação de Jesus é como uma receita médica: "Aplique na ferida o bálsamo do perdão, quantas vezes for necessário". O perdão começa com uma decisão, mas não é só isso, pois lidamos com nossas emoções machucadas. Nem a razão, nem a força de vontade, conseguem dissolver os sentimentos de dor, humilhação e perda. É necessário o exercício do perdão para - por assim dizer - convencer o coração. Outro componente deste bálsamo é a graça de Deus que obtemos através de oração e, também, ao experimentarmos o perdão de Deus. É por isso que Jesus conta a parábola sobre os dois devedores. As dívidas são extremamente diferentes: uma enorme fortuna e, por outro lado, apenas cem moedas. O empregado perdoado não teve compaixão do comanheiro, mas nós devemos tê-la e é, justamente, a consciência de sermos perdoados por Deus, que nos inspira para perdoarmos aos outros. Precisamos compreender que estamos, exatamente, no lugar do primeiro empregado da parábola. Por mais graves e dolorosas ofensas que tenhamos sofrido neste mundo, todas elas estão sendo representadas com aquelas cem moedas. As nossas culpas diante de Deus são, por sua vez, aquela enorme fortuna. Por que tanta desproporção? Santa Catarina de Sena, no livro “O diálogo” (o fruto de sua experiência mística de ouvir a Deus), explica esta questão: Sendo eu [Deus] um bem infinito, a ofensa cometida contra mim pede satisfação infinita. (2.1) Vossa natureza humana era incapaz de satisfazer pela culpa e de cancelar a mancha do pecado de Adão, mancha que estragara a humanidade e lhe dera o mau cheiro da culpa. (...) Ocorreu que o humano se unisse à Deidade eterna; somente assim foi possível dar satisfação por todos os homens. (10.5) Desta união das duas naturezas, recebi e aceitei o sacrifício do Sangue. Era sangue humano, mas mesclado, amalgamado com a natureza divina, com o fogo do meu amor. (...) Foi somente desta forma – na virtude da divindade (de Cristo) – que se tornou possível a reparação da culpa humana; foi assim que se cancelou a mancha do pecado de Adão. Dela restou apenas uma cicatriz, que é a inclinação para o mal e os defeitos corporais, à semelhança da cicatriz que fica quando uma pessoa é curada de uma ferida. (4.2)
Escrevo tudo isso, porque não há um ser humano na face da terra que não tenha sido ofendido e, por isso, não precisasse dessas lições de perdão. Escrevo isso neste blog, dedicado à homossexualidade, pois são os homossexuais que têm muito mais ocasiões de sofrer ofensas. É por isso que se torna tão necessário para nós o exercício diário de perdão. Jesus disse: Sede misericordiosos como vosso Pai do céu é misericordioso. (Lc 6, 36) E João Paulo II escreveu: Estou plenamente consciente de quanto o perdão possa parecer contrário à lógica humana, que obedece frequentemente a dinamismos de contestação e represália. Pelo contrário, o perdão inspira-se na lógica do amor, aquele amor que Deus nutre por cada homem e mulher, por cada povo e nação, pela família humana inteira. (...) Como atesta a Sagrada Escritura, Deus é rico de misericórdia e não cessa de perdoar a todos os que regressam a Ele (cf. Ez 18, 23; Sl 32-31, 5; 103-102, 3.8-14; Ef 2, 4-5; 2Cor 1, 3). O perdão de Deus torna-se, em nossos corações, fonte inexaurível de perdão também no nosso interrelacionamento, ajudando-nos a vivê-lo sob o signo de uma verdadeira fraternidade. (Mensagem para o Dia Mundial da Paz 1996). [leia o texto inteiro aqui]

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