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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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26 de março de 2011

Filho pródigo

Acho difícil resumir a reflexão sobre esta belíssima parábola de Jesus (Lc 15, 11-32) em apenas uma postagem do blog. É um texto tão rico que inspira livros inteiros, além de séries de pregações (como as de um retiro espiritual). João Paulo II tomou a história do filho pródigo como base da Exortação Apostólica Reconciliatio et Paenitentia sobre a reconciliação e penitência na missão da Igreja hoje (leia aqui). Entre livros, dignos de atenção, destaco "A volta do filho pródigo" de Henri J. M. Nouwen (Ed. Paulinas; São Paulo 1997). Para abordar apenas um dos aspectos - certamente não essencial - desta parábola, confrontarei um trecho do livro de Nouwem com outro texto, tirado da obra de Didier Eribon, "Reflexões sobre a questão gay" (Ed. Companhia de Freud; Rio de Janeiro, 2008).
Henri J. M. Nouwem, no capítulo 2, dedicado ao filho mais jovem (o pródigo), escreve: O filho indo embora é, portanto, um ato mais grave do que parece à primeira vista. É uma rejeição cruel do lar no qual o filho nasceu e foi criado e uma ruptura com a mais preciosa tradição apoiada pela comunidade maior da qual ele faz parte. Quando Lucas escreve "partiu para uma região longínqua", ele se refere a muito mais do que ao desejo de um jovem de ver o mundo. Ele se refere a uma quebra drástica da maneira de viver, pensar e agir que recebeu como um legado sagrado das gerações passadas. Mais do que desrespeito, é uma traição aos valores cultuados pela família e pela comunidade. O país distante é o mundo no qual não se respeita o que em casa é considerado sagrado. (p. 41)
O julgamento é claro, severo e usa termos fortes. É, no entanto, uma avaliação "de fora". Basta olhar nos olhos daquele jovem ou tentar colocar-se no lugar dele, para que tudo mude totalmente. Talvez não tenha sido cruel a sua atitude de rejeitar "a mais preciosa tradição, o legado sagrado da maneira de viver, pensar e agir", mas - pelo contrário - todas essas coisas (tradição, modo de pensar, etc.) tornaram-se insuportáveis, portanto cruéis, principalmente em sua expressão prática de intolerância, rejeição, agressividade, etc.
Dider Eribon dedica um capitulo do seu livro (coincidentalmente também o 2°), à "Fuga para a cidade". Escreve: Entendemos que um dos princípios estruturantes das subjetividades gays e lésbicas consiste em procurar os meios de fugir da injúria e da violência, que isso costuma passar pela dissimulação de si mesmo ou pela emigração para lugares mais clementes. Por isso é que as vidas gays olham para a cidade e suas redes de sociabilidade. São muitos os que procuram deixar o lugar onde nasceram e onde passaram a infância para vir se instalar em cidades mais acolhedores. Marie-Ange Schiltz escreve, comentando o resultado de estudos recentes, que, "comparando com as pesquisas feitas na população geral, fica claro que a partida do lar familiar e o acesso à independência econômica são mais rápidas entre os jovens homossexuais". Esse movimento de fuga seguramente conduz os homossexuais para a cidade grande. (p. 31)
A parábola de Jesus tem o final feliz (em sua parte principal): o retorno do filho pródigo para casa. Em algumas famílias acontece, justamente, este abraço do pai (da mãe e dos irmãos), no ato sincero de acolher o filho ou a filha homossexual que, após uma fuga, tem a coragem de voltar para o convívio familiar. Este novo convívio, graças ao amadurecimento interior dos familiares, torna-se possível (ainda que exista ainda algum "irmão mais velho", preso em sua falta de amor).

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