No dia em que a Igreja celebra a Solenidade da Anunciação do Senhor – que, de fato, comemora o mistério da Encarnação do Verbo Divino e não apenas o momento do anuncio feito pelo Anjo à Santíssima Virgem Maria – transcrevo aqui um trecho importante da primeira Encíclica do Papa João Paulo II “Redemptor hominis” (n° 10). Sobre este documento falei neste blog na ocasião da Novena de Natal (aqui) e o seu texto original pode ser encontrado no site do Vaticano (aqui).
O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se o não experimenta e se o não torna algo seu próprio, se nele não participa vivamente. E por isto precisamente Cristo Redentor, (...) revela plenamente o homem ao próprio homem. Esta é — se assim é lícito exprimir-se — a dimensão humana do mistério da Redenção. Nesta dimensão o homem reencontra a grandeza, a dignidade e o valor próprios da sua humanidade. No mistério da Redenção o homem é novamente «reproduzido» e, de algum modo, é novamente criado. Ele é novamente criado! «Não há judeu nem gentio, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher: todos vós sois um só em Cristo Jesus» (Gal 3, 28). O homem que quiser compreender-se a si mesmo profundamente — não apenas segundo imediatos, parciais, não raro superficiais e até mesmo só aparentes critérios e medidas do próprio ser — deve, com a sua inquietude, incerteza e também fraqueza e pecaminosidade, com a sua vida e com a sua morte, aproximar-se de Cristo.
O Papa insiste, ao longo de toda Encíclica, com a expressão “todo homem”, o que à luz da citação da Carta aos Gálatas, torna-se especialmente importante também para nós, homossexuais. Nós também não podemos viver sem amor, pois a nossa vida seria destituída de sentido e cada um de nós permaneceria para si próprio um ser incompreensível, Por isso encontrar-nos com o amor, experimentá-lo, participar nele vivamente, tornando-o algo próprio nosso, é tão importante para cada um de nós. O Papa João Paulo II, que será beatificado no próximo dia 01 de maio, escreveu muitos outros textos que contribuem, ainda que indiretamente, à causa de reconhecimento da dignidade de homossexuais, mostrando o seu lugar bem dentro da Igreja.
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