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Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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24 de março de 2011

Rico e Lázaro

Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. (Lc 16, 19) O maior problema deste homem não era a riqueza, mas a ausência de caridade no seu coração insensível e indiferente: Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. (v. 20) Evidentemente, o estilo de vida daquele homem rico, contribuía ainda mais, para essa insensibilidade. Em outros momentos, Jesus dizia: Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração. (Mt 6,21) e É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus. (Mt 19, 24). Lembro-me de uma pregação na qual o padre tinha falado sobre o vidro que, enquanto permanece limpo, conseguimos enxergar através dele as pessoas e todas as outras coisas, mas basta cobri-lo com uma fina camada de prata e o vidro torna-se um espelho. Não dá mais para ver nada e ninguém, a não ser a nossa própria imagem. A riqueza tem capacidade de aprisionar o coração humano e mergulhá-lo no profundo egoísmo. Li, recentemente, no "Diálogo" de Santa Catarina de Sena, a seginte explicação: Se o apetite sensível procura os bens materiais, a eles orienta-se a inteligência; e quando a mesma toma como objeto os bens passageiros, surgem o egoísmo, o desprezo pelas virtudes, o apego ao vício e, como consequência, o orgulho e a impaciência. Por sua vez, a memória encher-se-á com tais elementos, fornecidos pelo afeto sensual, obscurecendo-se a inteligência, que não mais vê senão aparências da luz. (16, 1)
O "mundo gay" estende-se por todas as camadas da sociedade, mas a mídia (inclusive a do próprio "mundo gay") apresenta mais frequentemente os homossexuais que se vestem com roupas finas e elegantes e fazem (ou participam de) festas esplêndidas todos os dias. Basta acessar qualquer portal GLBTS ou assistir, por exemplo, a série "Queer as folk", para confirmar isso. Eu mesmo tenho amigos que dedicam todo seu tempo livre à "balada", como dizem por aqui. Por sua vez, é conhecida a sensibilidade dos homossexuais em relação a "roupas finas e elegantes", bem maior que dos heterossexuais. Repito: tudo isso, em si, não é um problema, mas não deixa de ser um perigo. Por isso, mais uma vez, insisto quanto à necessidade de um acompanhamento pastoral, ou de uma formação espiritual, para homossexuais. E faço um apelo aos meios de comunicação do "mundo gay": não se esqueçam que, neste nosso mundo, há "pobres Lázaros", também. Tenho uma edição da revista "Junior" de 2008 (n° 6) [veja informações sobre a revista aqui]. Uma das matérias ("À margem da margem", p. 38) fala sobre a vida dos homossexuais que moram nas ruas de São Paulo. São vários depoimentos emocinantes e surpreendentes, sobre preconceito, violência, rejeição e... esperança. Um dos entrevistados, Ramon de 35 anos, conta a sua passagem de um a outro personagem da parábola de Jesus: Sou modelista, estou desempregado hoje por safadeza mesmo, admito. Estou na rua por causa de muita farra que fiz quando tive dinheiro, era muito mão-aberta, gastava com comidas caras, roupas caras, pagava até a droga dos outros - e olha que não uso drogas. Meu sonho é montar uma grife de roupas ou seguir carreira de cozinheiro, mas primeiro preciso conquistar a confiança das pessoas para elas me darem emprego. Sou de Belo Horizonte, vim para São Paulo para ter uma vida com mais liberdade, bem longe da minha família, que é muito religiosa e não aceita minha homossexualidade. Outro entrevistado, Mourane Gutierrez de 47 anos, resume a sua vida assim: Saio do albergue às 7h30 e vou fazer meu trabalho com os portadores de HIV que estão nas ruas de São Paulo. Volto só no fim da tarde para dormir. Sei como é ruim estar na rua, e isso é ainda pior para quem tem HIV. A rua não te dá dignidade nenhuma, você vive à beira de todo mundo, ninguém te olha. Já faz oito meses que estou nessa luta diária. Não vou prá balada, não paquero ninguém, quase não me divirto, não me sobra tempo e eu fico bem cansado. Queria muito ter tempo tempo para caçar.
O meu sonho é uma Pastoral para Homossexuais que, além de toda formação espiritual, teria estruturas para trabalho social para com os homossexuais-Lázaros, abandonados até pelo próprio "mundo gay".

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