ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



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19 de março de 2011

o meu adversário

Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal. (Mt 5,25) A frase do evangelho, lido na liturgia desta sexta-feira (Mt 5, 20-26), ajuda-me a compreender a minha própria experiência, vivida há alguns anos. Sempre tive a impressão de que citada recomendação de Jesus não se referia apenas a este mundo. Sempre entendia, também, de que a nossa vida é um caminho para o tribunal. E não é um tribunal qualquer, mas o Juízo de Deus (o catecismo fala de "Juízo Particular", na hora da morte e "Juízo Final", no fim dos tempos). Um dia vamos ter que prestar conta da nossa vida. Uma das coisas que precisa ser resolvida pelo caminho é a reconciliação. Por muitos anos, confesso, a questão de "adversários" era para mim apenas uma teoria. Só recentemente tive a experiência, bastante dolorosa, de maldade humana, crueldade, frieza etc. Mas, quase ao mesmo tempo (um pouco antes), tinha compreendido que prováveis adversários não são apenas os "outros". Santa Catarina que, em sua experiência mística, escutava e anotava a voz de Deus (o que podemos acompanhar, por exemplo, no livro "O Diálogo"), escreveu: Cada um é o primeiro próximo de si mesmo (2.6). Por analogia, digo que o primeiro adversário meu, posso ser eu mesmo. E, como diz Jesus acima, devo reconciliar-me comigo mesmo, enquanto estou caminhando para o tribunal. Foi, aliás, este o nome do meu blog anterior: "Reconciliado consigo mesmo". Naquela época, há alguns anos, foi a mais profunda experiência da minha vida e a fonte de grande alegria. Ou melhor: uma consolação. Depois de décadas de uma feia, infundada e exaustiva briga interior, aceitei a minha identidade homossexual. Primeiro, admiti essa possibilidade, depois aceitei e, finalmente, amei. Acredito que o mesmo caminho deve ser percorrido no processo de reconciliação com qualquer pessoa: admitir, aceitar, amar. Digo mais: enquanto não houver a reconciliação consigo mesmo, dificilmente acontecerá uma autêntica reconciliação com outra pessoa. A propósito da foto ilustrativa desta postagem, lembrei das palavras de São Paulo: Mas, se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros. (Ga 5, 15). No "nosso caso", podemos tranquilamente omitir o final da frase ("uns aos outros"), sem alterar a essência da mensagem.

Um comentário:

  1. Obrigado por esta mensagem e pelo que nela partilhas. Acho que tocaste com o dedo na ferida de cada homossexual!

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