Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da lei, sem que tudo se cumpra. (Mt 5, 17-18) Não é a primera vez em que Jesus fala da lei e dos profetas como de uma só coisa. Por exemplo: Tudo, portanto, quanto desejais que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles. Isto é a Lei e os Profetas. (Mt 7, 12); 'Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento!' Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é semelhante: 'Amarás teu próximo como a ti mesmo'. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos (Mt 22, 37-40); São estas as coisas que eu vos falei quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. (Lc 24, 44) Existe, sem dúvida, uma semelhança entre o cumprimento da lei e o cumprimento das profecias, embora haja, também, diferenças. Todo judeu era chamado à obediência aos preceitos da lei divina, transmitida por Moisés. É neste sentido, aliás, que entendo a expressão de Jesus: "eu vim para dar à lei pleno cumprimento", ou seja, Jesus é o perfeito cumpridor de toda a lei. A questão das profecias e do cumprimento delas é bastante diferente. Podemos simplesmente dizer que o cumprimento da lei depende do homem (com o auxílio da graça de Deus), enquanto o cumprimento das profecias depende de Deus (com a colaboração, nem sempre consciente, do homem). Evidentemente, como explica a maioria dos pregadores, o pleno cumprimento da lei, trazido por Jesus, significa também a revelação da essência desta lei, a purificação da mesma de toda imperfeição no entendimento dado pelos mestres da lei. A curiosidade que chama a minha atenção é o fato de que a lei e os profetas - coisas que andam juntas, mas ainda assim permanecem distintas - entram, na pessoa de Jesus, em sintonia tão profunda que acabam se equivalendo em alguns casos. Com outras palavras, a lei que fala das obrigações religiosas do povo judeu (às vezes bem minuciosas), revela-se ao mesmo tempo profecia e encontra em Jesus o seu cumprimento, quer dizer, a realização. O exemplo clássico é o preceito referente ao cordeiro pascal e às regras detalhadas sobre a preparação e o consumo da ceia. O Evangelista João registra: Era o dia de preparação do sábado, e este seria solene. Para que os corpos não ficassem na cruz no sábado, os judeus pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas dos crucificados e os tirasse da cruz. Chegando a Jesus viram que já estava morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas, mas um soldado golpeou-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. Isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura que diz: “Não quebrarão nenhum dos seus ossos”. (Jo 19, 31. 33-34. 36) É bom notar que João fala da Escritura a ser cumprida, sem dizer se era a lei ou a profecia, pois neste caso, o preceito revelu-se também um anúncio messiânico. Trata-se de um texto do Livro do Êxodo: O cordeiro será comido em uma mesma casa: tu não levarás nada de sua carne para fora da casa e não lhe quebrarás osso algum. (Ex 12, 46). Neste mesmo capítulo (12) temos todas as informações básicas sobre o sentido e a realização da ceia pascal. Em Cristo - o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo - este ritual ganha o "pleno cumprimento".
Depois dessa introdução, cabe ao blog que trata de homossexualidade, falar algo que interesse eventuais Leitores, os homossexuais. Vários oponentes (adversários, inimigos) do movomento gay citam, exatamente, os versículos próximos da passagem abordada aqui (a leitura litúrgica de hoje abrange Mt 5, 17-19). O último versículo diz: Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus.
Depois dessa introdução, cabe ao blog que trata de homossexualidade, falar algo que interesse eventuais Leitores, os homossexuais. Vários oponentes (adversários, inimigos) do movomento gay citam, exatamente, os versículos próximos da passagem abordada aqui (a leitura litúrgica de hoje abrange Mt 5, 17-19). O último versículo diz: Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus.
Com essa base, costuma-se lembrar dos preceitos referentes a comportamentos homossexuais, tais como: Não te deitarás com um homem, como se fosse mulher: isso é uma abominação. (Lv 18, 22) e também: Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometerão uma coisa abominável. Serão punidos de morte e levarão a sua culpa. (Lv 20, 13) O padre Daniel A. Helminiak, no livro "O que a Bíblia realmente diz sobre a homossexualidade" (Editora Summus, São Paulo, 1998), escreve: Entre os antigos israelitas, assim como o Levítico o interpreta, praticar atos homogenitais significava ser como os gentios, era o equivalente a identificar-se com os nao-judeus. Isto quer dizer que a prática de atos homogenitais representava uma traição à religião judaica. O Levítico condenava o sexo homogenital como um crime religioso de idolatria e não como ofensa sexual, e era esta traição religiosa o que era considerado grave o suficiente para merecer a pena da morte. (p. 49) A questão é que o Código Sagrado do Levítico proíbe o ato sexual entre homens devido a considerações religiosas, e não sexuais. A intenção era a de impedir Israel de participar das práticas dos gentios. O sexo homogenital era proibido porque estava associado a atividades pagãs, à idolatria e à identidade gentia. A questão no Levítico era religiosa, e não ética ou moral. Isso equivale a dizer que o sexo em si ser certo ou errado nunca foi cogitado. Tratava-se apenas da manutenção de uma forte identidade judaica. (pp. 50-51) O texto do Levítico afirma que é uma "abominação" para o homem deitar-se com outro homem como se fosse mulher. Uma vez mais, em linguagem comum isso parece bastante ruim. Conforme a vívida descrição de um pregador, abominação é algo que faz com que Deus sinta vontade de vomitar. Mas qual era o significado desta palavra para os hebreus antigos? Para eles, ela não soava assim tão mal quanto soa para nós. (...) Evidentemente, "abominável" é apenas um sinônimo de "impuro". Uma "abominação é uma violação das regras de pureza que governavam a sociedade israelita e faziam com que o povo judeu continuasse a ser diferente dos demais povos. (...) Determinadas práticas que envolviam a mistura de diferentes tipos de coisas, como semear um campo com dois tipos de sementes, tecer um pano com dois tipos de fibra - ou um homem fazendo sexo com outro homem como se fosse mulher - eram consideradas impuras e, assim, eram proibidas. Além disso, certos fatos geralmente inevitáveis, como a menstruação nas mulheres, a emissão de esperma pelo homem, participar de um enterro ou dar à luz tornavam a pessoa impura durante um certo período de tempo. (p. 52) Portanto, citar o Levítico como resposta à questão ética de hoje, que indaga se o sexo gay é certo ou errado, significa interpretar a Bíblia de maneira errônea. O Levítico não trata disso. (p. 58)
Deixo em aberto esta questão. Certamente, os adversários da "cultura gay", dirão que o padre Helminiak encaixa-se perfeitamente naquilo que diz Jesus: "Quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus". Por outro lado, é difícil não dar razão ao padre, quanto à necessidade de uma interpretação correta da Bíblia. O assunto é extenso demais para ser tratado em apenas uma postagem de blog. Até porque deixa-nos pensativos a afirmação de Jesus sobre cada "letra e vírgula" da lei a ser cumprida, no contexto de várias e numerosas atitudes dele nas quais desafiava abertamente as interpretações legalistas dos mestres da lei.
A esse respeito, moço, dê uma olhada nisto:
ResponderExcluir"Entender as leis como Jesus": quando se busca apaixonadamente, como Cristo, a vontade do Pai, vai-se sempre mais longe do que diz a Lei. Reflexão sobre os contrassensos do legalismo. http://migre.me/3RdnB
Acho que complementa bem esse seu belo texto.
Abs!
A esse respeito, moço, creio que isto complementa bem esse seu belo texto:
ResponderExcluir"Entender as leis como Jesus": quando se busca apaixonadamente, como Cristo, a vontade do Pai, vai-se sempre mais longe do que diz a Lei. Reflexão sobre os contrassensos do legalismo. http://migre.me/3RdnB
Gde abraço! :-)