O carnaval está chegando ao fim e, para nós - católicos, começa amanhã (Quarta-feira de Cinzas) um período importante e profundo: a Quaresma. Por mais que pareça, não é um tempo triste, embora fale da cruz e da morte de Cristo e, também, insista na necessidade de conversão e penitência. Em vez de algum tipo de tristeza, a Quaresma ajuda a redescobrir a essência da verdadeira alegria: a salvação. É muito comum os cristãos estabelecerem alguns propósitos (vale aqui a comparação com os exercícios físicos, embora trate-se principalmente da alma). A finalidade da Quaresma é (digamos: a curto prazo) a preparação para a celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor Jesus. A longo prazo, estes quarenta dias ajudam-nos a compreender a necessidade de conversão contínua e de um aperfeiçoamento das qualidades pessoais do cristão (isto é, das virtudes, entre as quais destaca-se o amor). A Quaresma é, por excelência, o tempo de oração mais intensa e mais profunda, ou seja, uma formação espiritual para desenvolver cada vez mais a vida de oração (pois a oração em si não termina com o fim da Quaresma).
Ao ler, recentemente, o "Livro da vida" de Santa Teresa d'Ávila (Tradução de Marcelo Musa Cavallari; Editora Penguin Classics Companhia das Letras, São Paulo 2010), encontrei (entre tantas outras coisas belíssimas) uma excelenta dica para o tempo da Quaresma. Santa Teresa aconselha meditar (com o uso criativo da própria imaginação) a Sagrada Humanidade de Jesus. Transcrevo aqui dois trechos do texto:
Pode-se imaginar-se diante de Cristo e acostumar-se e enamorar-se muito de sua sagrada Humanidade e trazer-lhe sempre consigo e falar com Ele, pedir-lhe por suas necessidades e queixar-se de seus trabalhos, alegrar-se com Ele em suas alegrias e não esquecê-lo por causa delas. Sem procurar orações compostas, mas sim palavras conformes a seus desejos e necessidades. É uma excelente maneira de avançar e muito rápida. E quem trabalhar para trazer consigo essa preciosa companhia e se aproveitar muito dela e de verdade tomar amor a esse Senhor a quem tanto devemos, eu o considero bem avançado. [p. 115]
Teve início em mim muito maior amor e confiança nesse Senhor ao vê-lo como alguém com quem tinha conversa tão frequente. Via que, ainda que fosse Deus, era Homem, que não se assusta com as fraquezas dos homens, que entende nossa composição miserável, sujeita a muitas quedas por causa do primeiro pecado que Ele veio para reparar. Posso conversar como com um amigo, ainda que seja o Senhor, porque percebo que não é como os que aqui temos por senhores, que põem todo o senhorio em autoridades postiças: tem que ter hora para falar com eles, e pessoas designadas para falar com eles. [p. 353]
Uma das práticas típicas da Quaresma é a "Via Sacra". À semelhança das meditações da "Novena" e da "Oitava" de Natal, em breve irei postar aqui algumas reflexões de "Via Sacra". Como tudo neste blog, serão os textos elaborados do ponto de vista de um homossexual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário