No Evangelho de hoje (Mt 25, 31-46), Jesus não deixa a mínima margem de dúvida: qualquer coisa que fazemos em relação às pessoas, estamos fzendo isso a Ele. Ainda que o Senhor tenha mencionado "apenas" famintos, sedentos, estrangeiros, nus, doentes e prisioneiros, compreendemos que a lista não está completa nem fechada. Trata-se de todos os necessitados, com os quais Jesus se identifica, chamando-os de "menores de meus irmãos" e de "pequeninos". (cf. vv. 40. 45) Encontrei uma explicação profunda das necessidades humanas e de seu lugar nos planos de Deus. É "O Diálogo" de Santa Catarina de Sena (1347-1380), um livro no qual a santa mística e Doutora da Igreja, descreve a sua experiência de conversar com Deus (Santa Catarina de Sena, "O Diálogo", Ed. Paulus; São Paulo 1985). Deus revela o mistério das necessidades humanas: Poderia ter criado os indivíduos, dotando-os de todo o necessário, seja na alma como no corpo; mas preferi que um necessitasse do outro; que fôsseis administradores meus no uso das graças e benefícios recebidos. Dessa forma, querendo ou não, o homem haveria de praticar a caridade, muito embora não seja meritória a benevolência não realizada por meu amor. Como vês, a fim de que os homens exercitássem o amor, fí-los meus administradores e os coloquei em diferentes estados de vida, em diferentes posições. (p. 40) Para quem presta atenção, esta é mais uma prova de que a diversidade faz parte integral e indispensável do plano de Deus. Um pouco antes, no mesmo capítulo, Santa Catarina transmite outra parte desse mesmo pensamento divino: Quem me ama, procura ser útil ao próximo. Nem poderia ser de outra maneira, dado que o amor por mim e pelo próximo são uma só coisa. Tanto alguém ama o próximo, quanto me ama, pois de mim se origina o amor ao outro. O próximo, eis o meio que vos dei para praticardes e manifestardes a virtude que existe em vós. (...) Quem se apaixona por mim, jamais cessa de trabalhar pelos outros. (p. 39) Tudo isso nos leva diretamente ao texto da Primeira Carta de São João que afirma, de diversas maneiras, a mesma verdade. A partir deste ponto de vista, não pode ser considerada uma blasfêmia, a seguinte frase: "Eu era um homossexual e me acolhestes, respeitastes, reconhecestes a minha dignidade e os meus direitos, por isso vinde benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo!" (Mt 25, 34). Creio que não seja necessário mencionar a versão oposta dessa declaração do Senhor...
Para não deixar esta reflexão "unilateral" demais, proponho uma pergunta: e nós, os homossexuais, podemos (e devemos) exercer o dever de caridade de que maneira? Como amar os homo e heterossexuais, os familiares, os opositores e até agressores? Não podemos, pois, fechar-nos em nós mesmos e em algum tipo de "nosso mundo". Amor gera amor, gentileza gera gentileza, bondade e tolerância gera bondade e tolerância. Ainda que seja necessário amar os inimigos, abençoar aqueles que nos amaldiçoam e perdoar àqueles que nos perseguem. O primero passo é, sem dúvida, a oração por essas pessoas, depois vem a palavra amiga e, em seguida, o gesto concreto. Tudo isso motivado no amor ao Senhor e fortalecido no amor que Ele tem por cada um de nós. Parece banal demais? Ou patético? Mas isso é a mais pura realidade! É o caminho para o céu.
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