O primeiro domingo da Quaresma apresenta-nos a cena das tentações enfrentadas por Jesus no deserto (Mt 4, 1-11). É muito interessante notar que, no pensamento generalizado dos cristãos, a palavra "tentação" associa-se quase exclusivamente à sexualidade. Como se não existisse a tentação referente a mentiras, roubos, assassinatos (e à violência de todo tipo), etc. Igualmente, alguns autores falam sobre pensamentos, palavras e atos imorais, usando este último termo como sinônimo de algo que envolve necessariamente a sexualidade. Até Anselm Grün, monge beneditino e escritor (citado neste blog diversas vezes) caiu nesta "tentação reducionista": Aquele que se familiariza com os demônios atravês da tentação encontra a verdade de sua alma e descobre os abismos de seu inconciente, os pensamentos homicidas, as representações sádicas e as fantasias imorais. ("O céu começa em você"; Ed. Vozes, Petrópolis-RJ, 1998; p. 46) Quer dizer que pensamentos homicidas e representações sádicas não são imorais? É como se alguém dissesse que foi fazer compras e trouxe maçãs, laranjas e frutas. Talvez eu esteja exagerando, mas vejo aqui, de novo, a velha confusão na interpretação das palavras que usamos. Deixando, entretanto, esse pequeno problema particular de lado, não posso ignorar o inegável mérito das afirmações de Grün, que aponta uma questão importantíssima que, apesar de ser muito antiga, não consegue penetrar suficientemente a mentalidade da maioria dos cristãos. A questão é: a tentação é um fenômeno indispensável para o crescimento espiritual, portanto (surpreendentemente) positivo. Não foi por acaso que Jesus, ao ensinar a oração "Pai nosso", disse "livrai nos do mal" e "não nos deixeis cair em tentação" e não ao contrário. Imagino, porém, que ao terminarem essa oração, muitos cristãos clamam a Deus que os livre das tentações (em geral daquelas "contra castidade"), mas deixam de pedir ajuda diante da inclinação ao desprezo pelas pessoas (por exemplo por causa da diferente orientação sexual) e à falta de amor em geral. No mesmo capítulo de su livro, Anselm Grün cita vários argumentos recolhidos na literatura dos padres do deserto (época dos anos 300 a 600), para a correta, isto é, positiva visão de tentação como tal. As tentações, assim dizem os monges, levam-nos ao encontro de nossa humanidade. Elas nos fazem entrar em contato com as raízes que sustentam o tronco. Colocar-se diante das tentações significa: confrontar-se com a verdade. Um dos patriarcas expressa-se a este respeito da seguinte maneira: "Sem as tentações ninguém será santo, pois aquele que foge do proveito da tentação também foge da vida eterna. Com efeito, tentações há que preparam aos santos as suas coroas". (p. 45) Encontramos a mesma ideia no texto de Santo Agostinho, lido hoje no Ofício das Leituras da Liturgia das Horas: Com efeito, nossa vida, enquanto somos peregrinos neste mundo, não pode estar livre de tentações, pois é através delas que se realiza nosso progresso e ninguém pode conhecer-se a si mesmo sem ter sido tentado. Ninguém pode vencer sem ter combatido, nem pode combater se não tiver inimigo e tentações. (Dos Comentários Sobre os Salmos) Ainda que pareça muito estranho, o Evangelho afirma que o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo (Mt 4, 1). Vamos agora ao que interessa: a tentação no contexto da homossexualidade. Certamente, a maioria das pessoas pensa que sentir atração pelas pessoas do mesmo sexo seja a principal tentação. Não é! É uma das modalidades da própria natureza. A tentação é algo passageiro e a atração em questão é permanente. Muitos dirão que o desejo de "praticar atos homossexuais" seja a tentação. Mas o mecanismo é o mesmo que no desejo de praticar atos heterossexuais. Tudo depende das circunstâncias. Se estou vivendo numa relação estável e assumi o compromisso com alguém, experimento uma tentação ao sentir atração por outra pessoa, ou seja, a tentação de trair o meu parceiro. Posso sentir, exatamente como as pessoas heterossexuais, a tentação à promiscuidade, à prostituição, à pornografia ou, por exemplo, a tentação de reduzir o ato sexual a um meio de saciar somente a minha "fome de prazer", sem olhar ao parceiro e às suas necessidades.
Lavender Star Flower Vine
-
[image: Lavender star flower vine]
Lavender star flower vine
Pentas flowers are non-toxic to dogs, cats, and humans!
How big does a lavender star flower g...
Há 4 dias
Olá Teleny, estás bem? Antes de mais desejo-te uma óptima quaresma. Gostei muito dos teus comentários à "Carta"... quando escreves mais alguma coisa sobre isso? Hoje publiquei no meu blogue essa série de mensagens, mas dei-lhes um novo nome e alterei pequenas coisas para ficar mais em "português de Portugal". Espero que não te importes! Mas citei o autor e o teu blogue, como sempre. Um grande abraço atântico
ResponderExcluir