ESTE BLOG NÃO POSSUI CONTEÚDO PORNOGRÁFICO

Desde o seu início em 2007, este blog evoluiu
e hoje, quase exclusivamente,
ocupa-se com a reflexão sobre a vida de um homossexual,
no contexto de sua fé católica.



_____________________________________________________________________________



24 de fevereiro de 2011

moderna torre de Babel

A história bíblica dos ambiciosos construtores de uma torre é bastante conhecida (confira em Gn 11, 1-9). Quase no final do texto Deus declara: Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro. (Gn 11, 7). Muitos teólogos apontam o dia de Pentecostes como o início da restauração de todas as coisas em Cristo (contrapondo, por assim dizer, o Pentecostes a Babel). Com efeito, o derramamento do Espírito Santo, é o fruto da redenção realizada por Cristo em sua paixão, morte e ressurreição. Atos dos Apóstolos descrevem um dos sinais da ação do Paráclito: "começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem" (At 2, 4), causando espanto de todos que ali se encontravam naquela ocasião. Pois bem, estou observando, há muito tempo, um fenômeno não menos espantoso e muito desanimador. Digo desanimador, porque a coisa não só carece de solução, mas ainda parece piorar cada vez mais. É a nova torre de Babel, é o retrocesso de Pentecostes. Acredito que tenham contribuído para esta confusão vários fatores. Primeiro: observo um verdadeiro dilúvio de ideias e palavras que, também graças à rapidez e facilidade de comunicação, conseguem nos alcançar, cercar e afogar. Outra coisa, à qual o Papa Bento XVI chamou atenção em sua primeira encíclica, é o problema com o significado de palavras. O documento papal, dedicado ao amor (divino e humano), traz logo no início a seguinte observação: O amor de Deus por nós é questão fundamental para a vida e coloca questões decisivas sobre quem é Deus e quem somos nós. A tal propósito, o primeiro obstáculo que encontramos é um problema de linguagem. O termo « amor » tornou-se hoje uma das palavras mais usadas e mesmo abusadas, à qual associamos significados completamente diferentes. ("Deus caritas est, n. 2; leia na íntegra aqui). O mesmo acontece com muitos outros termos (sobretudo com os mais profundos e importantes). Finalmente, como terceiro, vejo o grave problema de falta de atenção, proveniente de cada vez mais baixo nível de cultura pessoal. Acontece uma triste banalização de tudo e de todos. Na prática, falamos (e escrevemos) sem entender bem as palavras, escutamos (lemos) sem prestar devida atenção àquele que fala (escreve) e àquilo que está sendo dito (escrito). Tudo se torna banal, sem importância e, porque já estão chegando novos conteúdos (tratados de maneira igualmente superficial), o que foi declarado há cinco minutos, cai no abismo de esquecimento. É, provavelmente, um delírio da minha mente cansada e decepcionada, mas sinto-me profundamente incomodado com tudo isso. Não tenho vontade (nem espaço) para citar todos os exemplos mais recentes, por isso vou me limitar a apenas um. Já fiz, neste blog, alguns comentários sobre o livro "Luz do mundo" (entrevista de Peter Seewald com o Papa Bento XVI). Finalmente comprei (ontem) este livro. A primeira decepção foi o fato de ser uma edição portuguesa, o que não facilita a keitura aqui, no Brasil (adoro Portugal, amo os portugueses, tenho grandes amigos de lá, inclusive blogueiros!). Mesmo com o acordo ortográfico (entende-se: a aproximação de várias versões do mesmo idioma), há diferenças consideráveis que atrapalham um pouco. Mas não era sobre isso que queria dizer. Quem comete os delitos da "nova torre de Babel" é o jornalista Peter Seewald. Eu sei que conversar com o Papa, ainda que este seja um velho amigo, pode deixar qualquer um meio tonto (embora o próprio Seewald constate o contrário: "Ora, com Bento XVI, ninguém precisa tremer"; p. 11). Entretanto - pelo amor de Deus e pelo respeito ao interlocutor e aos leitores - não precisava banalizar tanto as coisas. É óbvio, também de ponto de vista profissional, que para cada entrevista precisa se preparar! Primeira asneira (como dizem os portugueses) está logo na introdução. Seewald, em pose de um pavão, escreve: "Nunca antes na história da Igreja um Pontífice tenha dialogado sob a forma de uma entrevista pessoal e directa." (p. 7). Não precisa ser um vaticanólogo (vaticanista), para saber que, durnate o pontificado de João Paulo II, tal evento (entrevista) aconteceu, pelo menos, três vezes, resultando com os livros: "Não tenham medo" (entrevista com jornalista e escritor francês André Frossard em 1983), "Cruzando o limiar da esperança" (entrevista com o esctitor italiano Vittorio Messori em 1994) e "Memória e identidade" (colóquios com os padres poloneses, professores de filosofia: Józef Tischner e Krzysztof Michalski, editados pouco antes da morte do Papa). Confesso que estou apenas no início de letura do livro "Luz do mundo", mas pelo que já li, espero encontrar mais provas da falta de preparação profissional de Peter Seewald. No primeiro capítulo, ao fazer uma das perguntas ao Papa, o jornalista cita uma "frase de Santo Agostinho". A resposta de Bento XVI diz tudo: "Essa expressão não é bem assim e não foi formulada por Santo Agostinho, mas podemos deixar isso aqui em aberto" (p. 19). Imagino aquele discreto sorriso do Papa, como se estivesse pensando: "Vá com calma, garoto! Tentarei explicar tudo mais devagar..." Uma formiguinha tentando conversar com o gigante. Lamentável, Peter! Fala sério...

Nenhum comentário:

Postar um comentário