A REJEIÇÃO
TEXTO BÍBLICO: (Lc 2, 7)
Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
LEITURA/REFLEXÃO
1) Jesus, o Filho de Deus, desde o início – mesmo antes de nascer – e, principalmente, na sua vida pública, sofreu a rejeição. Talvez seja essa a mais dramática realidade (além dos momentos extremos de agonia e da morte), na qual “ele se uniu a cada homem”. Jesus se uniu (identificou), de maneira particular, a cada pessoa desprezada, rejeitada e marginalizada, independentemente das causas de hostilidade por parte dos outros. O Papa João Paulo II insiste sobre esta união, usando generosamente várias redundâncias (quase desafiando as regras de gramática), no texto que temos na introdução a esta novena (confira aqui): Trata-se do homem em toda a sua verdade, com a sua plena dimensão. Não se trata do homem “abstrato”, mas sim real: do homem “concreto”, “histórico”. Trata-se de “cada” homem, porque todos e cada um foram compreendidos no mistério da Redenção, e com todos e cada um Cristo se uniu, para sempre, através deste mistério. (João Paulo II, Encíclica Redemptor hominis, n. 13). Um pouco mais tarde, no mesmo documento, o Papa continua: O homem — todos e cada um dos homens, sem exceção alguma — foi remido por Cristo; e porque com o homem — cada homem, sem exceção alguma — Cristo de algum modo se uniu, mesmo quando tal homem disso não se acha consciente (n. 14). Não será, portanto, o abuso achar que Cristo se uniu, também, com cada homossexual (em toda a sua singular realidade do ser e do agir, da inteligência e da vontade, da consciência e do coração – palavras de João Paulo II sobre “cada homem”). Inclusive nessa dramática experiência de rejeição.
2) É fácil perceber que o tema da reflexão neste 6° dia da novena é a homofobia. Não é possível abordar exaustivamente este assunto. Primeiro, pela sua enorme dimensão e segundo, porque em praticamente todos os sites, portais e blogs (de orientação GLBTS) é justamente a homofobia que ocupa as primeiras páginas (em forma de notícias alarmantes ou de divulgação de campanhas). Tenho a impressão de que os que procuram descobrir as causas de homofobia sejam tão numerosos quanto aqueles que pesquisam as origens de homossexualidade. Uns e outros têm suas teorias, mas parece que estamos ainda longe de uma resposta definitiva. Em todos os dicionários sérios, a palavra “fobia” é descrita como medo obsedante, angustiante, que certas doenças provocam em circunstâncias determinadas. Esta palavra entra como composto nos nomes de diversas espécies de medos doentios: claustrofobia, medo de ficar encerrado, ou de lugares fechados em geral; acrofobia, medo das alturas; etc. Estes medos irracionais fazem parte dos transtornos da ansiedade, conjunto de anomalias emocionais que, segundo a Organização Mundial da Saúde, afetam hoje cerca de 400 milhões de pessoas (confira aqui). Na mitologia grega, Phobos (ou Fobos) é um dos filhos de Ares (Marte para os romanos) e Afrodite (Vênus para os romanos). Esse deus simbolizava o temor e acompanhava Ares nos campos de batalha, injetando nos corações dos inimigos a covardia e o medo que os fazia fugir. Por sua vez, o termo homofobia, é um neologismo criado pelo psicólogo George Weinberg, em 1971, numa obra impressa, combinando a palavra grega phobos ("fobia", medo), com o prefixo homo-, como remissão à palavra "homossexual".
3) Achei interessante o fato de que as palavras do anjo aos pastores em Belém, na noite em que nasceu Jesus, foram: “Não tenhais medo”. Se os moradores daquela pequena cidade ouvissem o mesmo, um dia antes, talvez não teria sido essa a sua atitude (de rejeição), diante de uma mulher prestes a dar à luz e de um “pai” apavorado com tudo que estava acontecendo. Acredito, no entanto, que justamente esta situação fazia parte do misterioso plano de Deus. São João, no Prólogo do seu Evangelho, escreveu assim: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. (...) Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. (...) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 1. 10-11. 14a). O eco destas palavras encontrei no livro “Reflexões sobre a questão gay” de Didier Eribon (Editora Companhia de Freud; Rio de Janeiro, 2008; p. 27-28): No começo há injúria. Aquela que todo gay pode ouvir num momento ou outro da vida, e que é sinal de sua vulnerabilidade psicológica e social. (...) São agressões verbais que marcam a conciência. São traumatismos sentidos de modo mais ou menos violento no instante, mas que se inscrevem na memória e no corpo. (...) E uma das consequências da injúria é moldar a relação com os outros e com o mundo. E, por conseguinte, moldar a personalidade, a subjetividade, o próprio ser de um indivíduo. (...) A injúria me faz saber que sou alguém que não é como os outros, que não está na norma. Alguém que é “viado” [queer]: estranho, bizarro, doente. Anormal. Logo, o insulto é um veredito. É uma sentença quase definitiva, uma condenação perpétua, e coma qual vai ser preciso viver.
4) Marco Aurélio Máximo Prado e Frederico Viana Machado escreveram na introdução de seu livro “Preconceito contra homossexualidades: A hierarquia da invisibilidade” (Editora Cortez, São Paulo, 2008; p. 7): Uma vez que compreendemos que este debate é, por princípio, provisório e inacabado, apresentamos este livro que pretende introduzir o leitor em um conjunto de literaturas, pesquisas e debates que não só abarcam os temas relativos à sexualidade e à orientação sexual, mas também colaboram na construção de uma sociedade mais justa (...). De fato, o último capítulo do livro, intitulado “Para continuidades”, fornece títulos de livros e vários links úteis. No capítulo 4 (“Preconceito, invisibilidades e manutenção das hierarquias sociais”), lemos: No âmbito da sexualidade, o preconceito social produziu a invisibilidade de certas identidades sexuadas, garantindo a subalternidade de alguns direitos sociais e, por sua vez, legitimando práticas de inferiorizações sociais, como a homofobia. O preconceito, neste caso, possui um funcionamento que se utiliza, muitas vezes, de atribuições sociais negativas advindas da moral, da religião ou mesmo das ciências, para produzir o que aqui denominamos de hierarquia sexual, a qual é embasada em um conjunto de valores e práticas sociais que constituem a heteronormatividade como um campo normativo e regulador das relações humanas (p. 70).
ORAÇÃO
Hoje vou pedir tanto por aqueles que vivem e promovem a homofobia, quanto pelas vítimas da mesma. Que penetre no coração de todos a mensagem que Jesus transmite ao longo do Evangelho, desde o seu nascimento, até a ressurreição: “Não tenham medo!”. A inspiração da prece vem de um trecho do Salmo 24(25), 15-21. No final rezo “Pai nosso” e “Ave Maria”.
Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
LEITURA/REFLEXÃO
1) Jesus, o Filho de Deus, desde o início – mesmo antes de nascer – e, principalmente, na sua vida pública, sofreu a rejeição. Talvez seja essa a mais dramática realidade (além dos momentos extremos de agonia e da morte), na qual “ele se uniu a cada homem”. Jesus se uniu (identificou), de maneira particular, a cada pessoa desprezada, rejeitada e marginalizada, independentemente das causas de hostilidade por parte dos outros. O Papa João Paulo II insiste sobre esta união, usando generosamente várias redundâncias (quase desafiando as regras de gramática), no texto que temos na introdução a esta novena (confira aqui): Trata-se do homem em toda a sua verdade, com a sua plena dimensão. Não se trata do homem “abstrato”, mas sim real: do homem “concreto”, “histórico”. Trata-se de “cada” homem, porque todos e cada um foram compreendidos no mistério da Redenção, e com todos e cada um Cristo se uniu, para sempre, através deste mistério. (João Paulo II, Encíclica Redemptor hominis, n. 13). Um pouco mais tarde, no mesmo documento, o Papa continua: O homem — todos e cada um dos homens, sem exceção alguma — foi remido por Cristo; e porque com o homem — cada homem, sem exceção alguma — Cristo de algum modo se uniu, mesmo quando tal homem disso não se acha consciente (n. 14). Não será, portanto, o abuso achar que Cristo se uniu, também, com cada homossexual (em toda a sua singular realidade do ser e do agir, da inteligência e da vontade, da consciência e do coração – palavras de João Paulo II sobre “cada homem”). Inclusive nessa dramática experiência de rejeição.
2) É fácil perceber que o tema da reflexão neste 6° dia da novena é a homofobia. Não é possível abordar exaustivamente este assunto. Primeiro, pela sua enorme dimensão e segundo, porque em praticamente todos os sites, portais e blogs (de orientação GLBTS) é justamente a homofobia que ocupa as primeiras páginas (em forma de notícias alarmantes ou de divulgação de campanhas). Tenho a impressão de que os que procuram descobrir as causas de homofobia sejam tão numerosos quanto aqueles que pesquisam as origens de homossexualidade. Uns e outros têm suas teorias, mas parece que estamos ainda longe de uma resposta definitiva. Em todos os dicionários sérios, a palavra “fobia” é descrita como medo obsedante, angustiante, que certas doenças provocam em circunstâncias determinadas. Esta palavra entra como composto nos nomes de diversas espécies de medos doentios: claustrofobia, medo de ficar encerrado, ou de lugares fechados em geral; acrofobia, medo das alturas; etc. Estes medos irracionais fazem parte dos transtornos da ansiedade, conjunto de anomalias emocionais que, segundo a Organização Mundial da Saúde, afetam hoje cerca de 400 milhões de pessoas (confira aqui). Na mitologia grega, Phobos (ou Fobos) é um dos filhos de Ares (Marte para os romanos) e Afrodite (Vênus para os romanos). Esse deus simbolizava o temor e acompanhava Ares nos campos de batalha, injetando nos corações dos inimigos a covardia e o medo que os fazia fugir. Por sua vez, o termo homofobia, é um neologismo criado pelo psicólogo George Weinberg, em 1971, numa obra impressa, combinando a palavra grega phobos ("fobia", medo), com o prefixo homo-, como remissão à palavra "homossexual".
3) Achei interessante o fato de que as palavras do anjo aos pastores em Belém, na noite em que nasceu Jesus, foram: “Não tenhais medo”. Se os moradores daquela pequena cidade ouvissem o mesmo, um dia antes, talvez não teria sido essa a sua atitude (de rejeição), diante de uma mulher prestes a dar à luz e de um “pai” apavorado com tudo que estava acontecendo. Acredito, no entanto, que justamente esta situação fazia parte do misterioso plano de Deus. São João, no Prólogo do seu Evangelho, escreveu assim: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. (...) Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. (...) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 1. 10-11. 14a). O eco destas palavras encontrei no livro “Reflexões sobre a questão gay” de Didier Eribon (Editora Companhia de Freud; Rio de Janeiro, 2008; p. 27-28): No começo há injúria. Aquela que todo gay pode ouvir num momento ou outro da vida, e que é sinal de sua vulnerabilidade psicológica e social. (...) São agressões verbais que marcam a conciência. São traumatismos sentidos de modo mais ou menos violento no instante, mas que se inscrevem na memória e no corpo. (...) E uma das consequências da injúria é moldar a relação com os outros e com o mundo. E, por conseguinte, moldar a personalidade, a subjetividade, o próprio ser de um indivíduo. (...) A injúria me faz saber que sou alguém que não é como os outros, que não está na norma. Alguém que é “viado” [queer]: estranho, bizarro, doente. Anormal. Logo, o insulto é um veredito. É uma sentença quase definitiva, uma condenação perpétua, e coma qual vai ser preciso viver.
4) Marco Aurélio Máximo Prado e Frederico Viana Machado escreveram na introdução de seu livro “Preconceito contra homossexualidades: A hierarquia da invisibilidade” (Editora Cortez, São Paulo, 2008; p. 7): Uma vez que compreendemos que este debate é, por princípio, provisório e inacabado, apresentamos este livro que pretende introduzir o leitor em um conjunto de literaturas, pesquisas e debates que não só abarcam os temas relativos à sexualidade e à orientação sexual, mas também colaboram na construção de uma sociedade mais justa (...). De fato, o último capítulo do livro, intitulado “Para continuidades”, fornece títulos de livros e vários links úteis. No capítulo 4 (“Preconceito, invisibilidades e manutenção das hierarquias sociais”), lemos: No âmbito da sexualidade, o preconceito social produziu a invisibilidade de certas identidades sexuadas, garantindo a subalternidade de alguns direitos sociais e, por sua vez, legitimando práticas de inferiorizações sociais, como a homofobia. O preconceito, neste caso, possui um funcionamento que se utiliza, muitas vezes, de atribuições sociais negativas advindas da moral, da religião ou mesmo das ciências, para produzir o que aqui denominamos de hierarquia sexual, a qual é embasada em um conjunto de valores e práticas sociais que constituem a heteronormatividade como um campo normativo e regulador das relações humanas (p. 70).
ORAÇÃO
Hoje vou pedir tanto por aqueles que vivem e promovem a homofobia, quanto pelas vítimas da mesma. Que penetre no coração de todos a mensagem que Jesus transmite ao longo do Evangelho, desde o seu nascimento, até a ressurreição: “Não tenham medo!”. A inspiração da prece vem de um trecho do Salmo 24(25), 15-21. No final rezo “Pai nosso” e “Ave Maria”.
Aliviai meu coração de tanta angústia,
e libertai-me das minhas aflições!
Considerai minha miséria e sofrimento
e concedei vosso perdão aos meus pecados!
Olhai meus inimigos que são muitos,
e com que ódio violento eles me odeiam!
Defendei a minha vida e libertai-me;
em vós confio, que eu não seja envergonhado!
Que a retidão e a inocência me protejam,
pois em vós eu coloquei minha esperança!
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