É impressionante ler hoje a passagem evangélica sobre a multiplicação dos pães (Mc 8, 1-10), no contexto da primeira leitura (Gn 3,9-24), na qual Deus revela as consequências do pecado: (...) amaldiçoado será o solo por tua causa! Com sofrimento tirarás dele o alimento todos os dias da tua vida. Ele produzirá para ti espinhos e cardos e comerás as ervas da terra; comerás o pão com o suor do teu rosto até voltares à terra de que foste tirado, porque és pó e ao pó hás de voltar. (vv. 17b-19) A mensagem principal é clara: Jesus veio para remover toda e qualquer maldição que pesava sobre o homem. Mesmo que o pão continue ainda custando o suor do rosto (em todos os sentidos desta expressão), a perspectiva já é totalmente diferente. Embora Jesus não tenha ficado por aqui (naquela forma corpórea de outrora) para multiplicar os pães (o que seria um desastre para preguiçosa e acomodada natureza humana!), abriu para nós o caminho para a plenitude da vida. Até mesmo o suor do rosto tornou-se um dos meios de santificação. Fala sobre isso, de um modo espetacular, o Papa João Paulo II, em sua encíclica "Laborem exercens" (leia aqui).
Mas há, como sempre, uma outra coisa que chama minha atenção: é a postura dos discípulos. Mesmo tendo visto e experimentado tantos milagres do Mestre, continuam naquela postura mesquinha e imatura: Os discípulos disseram: “Como poderia alguém saciá-los de pão aqui no deserto?” (Mc 8, 4). Infelizmente, esta mentalidade de coração pequeno, perpetua-se pelos séculos até os dias de hoje. Sinceramente, Jesus tem muita paciência com seus seguidores e, especialmente, com os escolhidos para ocuparem - digamos - cargos de confiança. Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar pelo caminho, porque muitos deles vieram de longe. (v. 3) Jesus se preocupa com todos, particularmente com aqueles que vieram de longe. E, até hoje, o Senhor acolhe e cuida de cada um que vem de uma "terra distante": do ateismo, de falsas doutrinas, das drogas, de uma família destruída, da solidão, da homossexualidade... E, até hoje, os "apóstolos" dizem: como poderia alguém saciá-los aqui? A falta de fé e de amor faz com que neguem o pão da Eucaristia, da Palavra, da compreensão, do diálogo (e de muitas outras riquezas que o próprio Jesus lhes deu para administrarem e distribuirem) a tantos necessitados. Até quando as lições do Evangelho continuarão sendo uma letra morta para os cristãos e, principalmente, para os líderes da Igreja?
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